Fátima e Will
A recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que os bebês devem ser alimentados exclusivamente com leite materno até completarem seis meses de idade, está sendo contestada por uma pesquisa publicada recentemente pelo British Medical Journal. O artigo gera polêmica ao afirmar que é benéfico introduzir, em conjunto com a amamentação, alimentos sólidos a partir do quarto mês de vida da criança.
Pesquisadores argumentam que a criança que começa a ingerir outros alimentos além do leite cresce com menor risco de desenvolver alergias e doença celíaca (intolerância ao glúten), além da anemia. Neste último caso, entretanto, deixam claro que apenas a introdução de alimentos não garante que o bebê não sofrerá de falta de ferro, pois é preciso avaliar o histórico da mãe e checar se ele nasceu prematuro ou não.
Há também uma outra observação dada pela pesquisa, no que diz respeito à escolha dos alimentos que serão oferecidos à criança. De acordo com a pesquisa, é preciso optar sempre por comidas naturais, não industrializadas e saudáveis.
Pé atrás
Para a coordenadora do Comitê Municipal de Aleitamento Materno, Lilian Mara Consolin Poli de Castro, essas afirmações precisam ser melhor esclarecidas. ''Não é com base nessa pesquisa que vamos mudar uma recomendação da OMS, que é uma organização acima de qualquer conflito de interesse e que presta orientações para políticas e regulamentos nacionais e profissionais'', afirma.
De acordo com a Gerência de Informações em Saúde de Londrina, em 2009, ocorreram 70 óbitos em menores de 1 ano. Com exceção das afecções originadas no período perinatal e malformações congênitas e, considerando as mortes ocorridas por causas externas do aparelho respiratório, digestivo e as demais, que representam 15% do total, ficou constatado que todas as crianças haviam sido desmamadas precocemente.
E ao considerar que o processo para cada criança deixar de mamar é individual e deve acontecer de forma natural, atendendo as necessidades de cada um, Lilian reforça uma outra questão: a de que todo alimento dado à criança precisa ter um acompanhamento profissional, pois muitos podem ser alergênicos.
''Existe sim a possibilidade de dar alimentos sólidos ao bebê antes dos seis meses, mas desde que essa recomendação seja dada por um profissional capacitado e com base na especificidade de cada caso'', indica.
Além disso, Lilian lembra que o ato de amamentar é mais do que alimentar, é um fator de proteção e um momento de interação entre mãe e filho. ''O leite materno tem tudo o que a criança precisa, por isso acho que é preciso avançar muito em estudos e pesquisas para poder afirmar a necessidade de introduzir outros alimentos antes dos seis meses'', enfatiza.
No Brasil, a média de duração da amamentação exclusiva é de 1,8 mês, conforme dados de 2008 do Ministério da Saúde. (Com Agência Graffo)