A simples pergunta ''E, vocês, quando vão ter um bebê?'' pode aumentar a ansiedade e soar como uma cobrança para o casal que tenta ter filhos e não consegue. A intenção de quem pergunta normalmente não é ofender ou incomodar, mas é preciso que parentes, amigos e mesmo o médico que trata o casal tenham consciência do 'estrago' emocional que a infertilidade pode trazer. Esse é um dos alertas que o ginecologista Hilton José Pereira Cardim, especialista em Reprodução Humana Assistida e professor associado do departamento de Medicina da Universidade Estadual de Maringá (UEM), faz no livro ''Vencendo a Dificuldade de Engravidar - conheça sua fertilidade, de que modo a medicina pode melhorá-la e como vencer a ansiedade''.
Publicada pela Editora Cultrix, a obra traz, de forma clara e objetiva, os principais problemas relacionados à infertilidade na mulher e no homem e os métodos mais modernos de investigação e tratamento. Mas o grande diferencial que ele propõe é olhar para a crise emocional que a infertilidade desencadeia e tratá-la. ''A missão principal do livro é auxiliar pessoas que estão vivenciando a dor da infertilidade, um sentimento desesperador, que nem sempre é respeitado por amigos e familiares'', alerta o especialista.
Segundo ele, estudos mostram que o grau de ansiedade e de depressão causado pela infertilidade é comparável ao do câncer, da Aids ou da doença cardíaca. ''Se a pessoa soubesse como dói, não faria a pergunta (citada no começo desse texto). Nesse sentido o livro é interessante até para quem convive com quem sofre de infertilidade'', avalia.
Ao contrário do que a maioria acredita, não há comprovação de que a ansiedade tenha influência na infertilidade, nem naqueles casos em que a mulher engravida logo depois que adota uma criança. ''O estresse atrapalha, mas é muito mais consequência do que causa. Quando a mulher engravida depois de adotar pode ser uma situação de subfertilidade, em que há condições de engravidar, mas isso não acontece pela baixa fertilidade - não se sabe quanto tempo vai levar para a mulher engravidar, nem se isso vai acontecer'', explica.
É necessário tratar a ansiedade e a depressão porque, afinal, as pessoas estão sofrendo e não raro o problema evolui para uma crise de relacionamento entre marido e mulher. ''Não focar só na parte técnica, mas na qualidade de vida do paciente como um todo, vale para todas as áreas da medicina'', pondera.
As orientações para passar por essa crise emocional incluem técnicas de relaxamento, acupuntura, meditação, yoga, troca de experiências em grupos de pacientes inférteis e psicoterapia. ''A terapia é importante para que a pessoa comece a mudar o pensamento e ter outras formas de encarar a vida. Um teste com resultado negativo depois de uma fertilização in vitro, por exemplo, pode fazer o mundo 'desabar', e a pessoa se sentir um 'fracasso', enquanto o pensamento não deve ser esse. Tem quem deixe de fazer o tratamento por medo do resultado''.
Tentativas, frustração e, por fim, sucesso
Dois anos tentando engravidar sem sucesso fizeram a pedagoga Lucilene Marinozzi Bortolossi, de Maringá, procurar orientação médica. Depois disso, foram mais quatro anos, passando por três médicos, duas cirurgias e dezenas de injeções doloridas para tratar a endometriose. Nesse tempo todo chegou a desanimar e até a desistir, mas hoje o que conta mesmo são os filhos tão desejados - Pedro Roberto e Maria Fernanda, de 10 meses -que vieram depois da fertilização in vitro.
Lucilene conta que passou por duas induções de ovulação com medicamento oral e injeções e ''ficava naquela angústia, naquela ansiedade'' a cada tratamento. ''É um processo desgastante e eu já estava pensando até em adoção'', lembra. No último médico, ela e o marido, André, descobriram que a indução de ovulação não resolveria seu caso e partiram para a fertilização. E na primeira tentativa já veio a boa notícia: Lucilene estava grávida. ''Quando o ultrassom mostrou que eram gêmeos foi uma surpresa, foi muito bom, não dá para descrever'', conta.
Para as mulheres que estão passando por tratamentos e pelo processo desgastante de tentar engravidar sem sucesso, Lucilene recomenda: ''O importante é não perder a esperança. Para mim deu certo na primeira, mas nem sempre dá. Só dá certo quando você coloca nas mãos de Deus, aguarda e confia'', afirma.
Processo semelhante passou o casal Sabrina Schroeder de Assis e Aluízio Marques de Assis Júnior, de Maringá. Foram alguns anos desde que ela parou de usar anticoncepcionais até que o sonho se realizasse por meio da fertilização in vitro. E ele veio em forma de um 'trio': Mariana, Gustavo e Gabriel, de um ano e cinco meses, revolucionaram a vida do casal.
Mas antes que os trigêmeos mudassem toda a rotina da casa, Sabrina também passou pela angústia de tratamentos sem sucesso. ''Foram quatro tentativas de inseminação e é bem frustrante quando o resultado é negativo. O pior é a ansiedade, mas sempre achava que ia dar certo'', lembra. Cuidar de três não é fácil e a mãe precisa sempre de ajuda. ''Quando eles tinham três meses eu estava exausta, mas agora ficou bem mais fácil porque eles brincam, andam e dormem a noite toda. Valeu muito a pena''.
Homem também precisa ser investigado
É fato, apesar de ainda não comprovado por números - os casos de infertilidade estão aumentando. E a maior causa, segundo o ginecologista Hilton José Pereira Cardim, especialista em Reprodução Humana Assistida, de Maringá, é que as mulheres estão deixando para engravidar mais tarde, depois dos 35 anos.
Depois dessa idade, alerta o médico, há um declínio ''significativo'' da fertilidade, que ''despenca'' depois dos 38. Até os 25 anos de idade, a probabilidade de engravidar em um ano é de 70%, aos 36 é de 30%, e aos 40 é de 10%.
Outra causa importante da infertilidade é a endometriose, que pode acontecer até com mulheres jovens. A doença tem como sintomas ciclo menstrual irregular ou com intervalos curtos, cólica menstrual intensa e progressiva, que dura todos os dias do ciclo, e dor durante a relação sexual. Mas, às vezes, o único sintoma é a infertilidade, o que faz dela doença de difícil diagnóstico.
Nos casos em que o casal não engravida em um ano de relações sexuais frequentes, é preciso investigar. Inclusive o homem, que tem participação de até 50% na infertilidade. As estatísticas apontam, segundo o médico, que 30% dos casos de infertilidade têm origem exclusivamente em fatores masculinos, 40% exclusivamente femininos, em 20% dos casos ambos têm problemas e em 10% as causas são desconhecidas.
Entre as possibilidades estão a falta de ovulação e tubas obstruídas, na mulher, além da já citada endometriose, e a baixa concentração e mobilidade dos espermatozóides no homem. Há situações em que não se espera um ano para começar a investigar, como a mulher com mais de 35 anos, com sintomas de endometriose e o homem que tenha antecedente de trauma, caxumba que acometeu os testículos e infecções na uretra. Nas mulheres, exames básicos são a ultrassonografia e o de dosagem hormonal, e, no homem, o espermograma.
São vários os procedimentos possíveis para tratar o casal que não engravida, desde uso de medicamentos para estimular a ovulação, inseminação artificial até chegar à fertilização in vitro, que ''tanto pode ser o último quanto o único recurso''.
Serviço:
www.vencendoainfertilidade.com.br
(44) 3224-6964