Família

Impermeáveis e grudentos: conheça novas recomendações para combater os piolhos

23 mar 2016 às 12:37

Poucas crianças em idade escolar escapam de ter piolhos ao menos uma vez. Mesmo que não coloquem em perigo a saúde da criança, sempre que as aulas começam os piolhos voltam a 'assombrar' pais e professores. E não pense que o problema é coisa de terceiro mundo. Nos Estados Unidos, consumidores e escolas gastam cerca de US$ 1 bilhão por ano com programas de detecção e erradicação desses parasitas.

Em Nova York e em outras áreas metropolitanas, os piolhos deram origem a uma nova profissão: os catadores de piolho, que por cerca de US$ 200 ajudam crianças e adultos a se livrarem dos insetos sem asas, difíceis de ver, e de seus ovos, chamados lêndeas.


"Dado que os piolhos, companheiros dos seres humanos desde a Antiguidade, não são suscetíveis de se tornarem extintos em breve, a Academia Americana de Pediatria atualizou suas recomendações voltadas para os médicos sobre a melhor forma de tratar crianças afetadas e suas famílias. Embora a internet esteja repleta de remédios caseiros para o problema, como condicionador de cabelo, higienizadores de pele, maionese, óleos e chás, alguns dos quais podem ser eficazes com um uso diligente, nenhum desses produtos foi avaliado em relação à sua segurança e eficácia por nenhum órgão regulador", afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski.


E outros podem ser muito perigosos!


Uma menina de 18 meses de idade morreu em fevereiro do ano passado em função da aplicação de maionese no couro cabeludo da criança, que foi coberto com um saco plástico. A criança foi deixada sem vigilância, o saco com o conteúdo deslizou sobre seu rosto e ela morreu sufocada.


Uma preocupação real


A Academia Americana de Pediatria reconhece que, ao contrário das doenças infantis inumeráveis que podem ser combatidas por vacinas, não há nenhuma maneira infalível de evitar um ataque de piolho, principalmente porque as crianças entram em contato cabeça-a-cabeça, uma com a outra, com frequência.


"O banho diário não é uma prevenção eficaz. Os insetos podem sobreviver submersos em água por 20 minutos, e os seus ovos, que se colam aos fios de cabelo perto do couro cabeludo, são impermeáveis até mesmo para pesticidas químicos. Uma abordagem mais eficaz, embora não uma forma de evitar todos os casos, é uma vigilância regular por parte dos pais para detectar e tratar primeiras infestações, evitando, assim, a propagação de outras", destaca o médico.


É prudente também que as crianças aprendam a não compartilhar itens pessoais, como pentes, escovas, bonés, elásticos de cabelo e chapéus. Embora os ovos permaneçam colados ao cabelo, os piolhos adultos encontrados nos pentes provavelmente estão mortos. A entidade médica americana alerta que não se deve recusar o uso de capacetes esportivos de proteção por medo de pegar piolhos. "Embora seja certamente mais fácil detectar e tratar os piolhos quando o cabelo é curto, o comprimento de um fio de cabelo e quantas vezes ele é escovado ou lavado tem pouco efeito sobre o risco de uma infestação", destaca Chencinski.


Saiba mais...


Piolhos só podem rastejar, não saltam ou pulam. Animais de estimação não desempenham qualquer papel na propagação dos piolhos de uma pessoa para outra pessoa. "Mas pentear os cabelos secos infestados por piolhos pode acumular eletricidade estática suficiente para ejetar insetos vivos numa distância de um metro. Piolhos adultos morrem dentro de um dia, quando fora da cabeça de uma pessoa, pois dependem de refeições de sangue para a sobrevivência. Além disso, seus ovos não podem eclodir a temperaturas inferiores às do couro cabeludo. Isto sugere que, após o tratamento de membros da família afetados e de lavar as roupas de cama e banho, sair de casa por alguns dias pode substituir a limpeza doméstica fanática", diz o pediatra.


A paranoia sobre piolhos entre os colegas de escola de uma criança pode levar alguns pais a realizar um tratamento "preventivo", mas a Academia Americana de Pediatria adverte: "nunca inicie o tratamento a menos que haja um diagnóstico claro de piolhos vivos. As pessoas às vezes confundem caspa, areia, e até mesmo poluição ou sujeira com lêndeas, e desnecessariamente expõe as crianças a um pesticida e se envolvem em limpezas domésticas frenéticas".


Depois da eclosão dos ovos, eles passam por três fases: ninfa, lêndeas e piolhos adultos. Os ovos vivos são escuros e difíceis de ver; os ovos vazios são claros ou brancos e, muitas vezes, são confundidos como a continuação de uma infestação. Os insetos chocados se alimentam através da injeção de pequenas quantidades de saliva para expandir os vasos sanguíneos e evitar a coagulação, em seguida, sugam pequenas quantidades de sangue a cada par de horas. "O prurido, causado pela sensibilização para a saliva, pode não começar até quatro/ seis semanas depois da primeira infestação, o que destaca a importância da verificação semanal do couro cabeludo das crianças", diz Moises Chencinski.


Dentre as medidas eficazes de combate listadas pela Academia Americana de Pediatria está um creme rinse que contém 1% de permetrina, um piretroide sintético que é "menos tóxico para os seres humanos" e "menos alergênico" do que o seu composto de origem, a piretrina. Entre os remédios prescritos, o mais novo contém 0,5% de ivermectina e requer apenas uma aplicação nos cabelos secos e é retirado com água após 10 minutos. Quando tratados, os ovos eclodem e as ninfas não podem se alimentar porque o medicamento paralisa os músculos da garganta. Outro tratamento recente com prescrição médica envolve um medicamento com 0,9% de spinosad, derivado de bactérias do solo, mata tanto piolhos vivos e ovos não eclodidos, eliminando a necessidade de retratamento e de passar o pente fino nos cabelos.

"Seja qual for o produto que você for usar para combater os piolhos, primeiro verifique a idade para a qual ele é indicado e nunca exceda a quantidade recomendada. Aposte na verificação das cabeças tratadas durante duas a três semanas para ter certeza de que todos os piolhos e lêndeas morreram", recomenda o médico, que é membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial da Sociedade de Pediatria de São Paulo.


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