Numa ampla sala de pé-direito alto, decoração moderna, com quadros do grafiteiro Eduardo Kobra, o pastor Bruno Brito diz que a volta dos cultos exige responsabilidade não só das instituições religiosas como também dos frequentadores. "Se você se sente seguro, venha. Não coloque você nem outras pessoas em risco", afirma.
Pastor da Igreja Batista da Lagoinha, em Perdizes, zona oeste de São Paulo, Brito, 35 anos, 16 deles dedicado à vida evangélica, conta que seu papel como líder é oferecer segurança e obedecer os protocolos de saúde. "O que constar dele, nós vamos seguir."
Na sexta (16), o governo paulista anunciou a criação de uma nova fase do plano de flexibilização e autorizou a abertura de comércios e atividades religiosas em horários reduzidos de funcionamento a partir deste domingo (18).
Com capacidade para receber 1.800 fiéis, a igreja disponibilizou 400 lugares, mas nem todos eles foram ocupados.
Os templos só poderão funcionar com capacidade máxima de 25% de ocupação. O que se viu nas celebrações deste domingo em alguns lugares da capital foi um público abaixo desse limite.
Na Lagoinha, a temperatura de quem entrava era medida, álcool em gel era distribuído em totens. Um telão colorido no alto do hall anunciava as medidas sanitárias. Todo mundo usava máscara, mas houve quem se empolgasse com o retorno em meio a apertos de mão, abraços e beijos.
Infectado duas vezes pelo coronavírus, o pastor Brito diz que as pessoas precisam se conscientizar sobre os riscos de transmissão da Covid.
A cerca de uma quadra dali, o ritual de higienização se repetia na paróquia São Geraldo, no largo Padre Péricles, Barra Funda. O padre José Augusto, 69, ressaltou a importância da missa presencial, seguindo os devidos cuidados. "A fé cristã é essencialmente comunitária. Tem muita gente, afetada psicologicamente, que precisa de acompanhamento, de uma palavra de fé."
Somente a lateral à direita do altar estava aberta para receber os fiéis. Com 380 lugares, a igreja tinha reservado 95, mas a celebração das 9h contou com cerca de 30 pessoas.
Para Ana Sakamoto, 48, a missa oferece aos católicos um sacramento fundamental que é a comunhão. "Pelo computador, não é a mesma coisa."
Na Igreja Mundial do Poder de Deus, em Santa Cecília, região central, um grupo de ao menos 30 fiéis conversava com o pastor, antes do culto, sem manter o distanciamento. O pastor não quis falar com a reportagem. Do lado de fora, o porteiro Leandro Cunha, 31, disse que estava ansioso pela volta dos cultos presenciais e com expectativa pela busca da presença de Deus.
Especialistas avaliam que os índices de contágio e morte pela Covid seguem elevados num momento em que a epidemia continua em alta, a situação do sistema de saúde é crítica e a vacinação ainda não avançou o suficiente.
Para o chefe de infectologia da Unesp, Alexandre Naime Barbosa, é desaconselhável que haja uma flexibilização extensiva neste período em que projeções científicas indicam crescimento de internações e óbitos tanto no interior do estado quanto na capital.
"Agora não é hora para a flexibilização em nenhum setor", diz. Sobre a volta de cultos em igrejas e templos, o médico explica que muitos ritos religiosos envolvem o canto, o que provoca maior saída de gotículas, que transmitem o vírus, além do favorecer o contato e o toque físicos.
Na missa matinal da paróquia Santa Cecília, não havia marcação nos assentos. "Vamos fazer isso para a missa das 18h", afirmou o padre Alfredo Nascimento Lima, 64. "Ficamos apreensivos, porque não sabemos até quando a igreja vai poder ficar aberta."
Antes da pandemia, a paróquia realizava seis missas dominicais, Por enquanto, serão duas. A ideia é aumentar a programação, a depender da doença.
Uma equipe formada por ao menos 20 acolhedores organizava os assentos. Teve momentos, porém, que a entrada principal da igreja ficou desamparada, sem ninguém para medir a temperatura de quem entrava por ali. "Às vezes, aparece um capeta aqui sem máscara, mas a gente sempre orienta a usar", disse o padre da Santa Cecília.
Presencial e também online, a abertura da missa na paróquia Nossa Senhora do Brasil, no Jardim América, área nobre de São Paulo, alertou os fiéis sobre os cuidados em relação à pandemia.
O padre Michelino Roberto, 55, defende a importância de oferecer conforto e fé nos cultos, mas ressalta a necessidade de tudo seguir conforme manda o protocolo de segurança. "Hoje, não tem mais grupo de risco.
Todos estamos sujeito a pegar o vírus. Entendo quando é necessário restringir a circulação", diz.
Em períodos pré-pandemia dava para acolher até 400 pessoas, mas a missa das 12h30 deste domingo limitou-se à marca de 65 adultos. O portão de entrada foi fechado. Teve gente que ficou de fora.
"Há três meses não venho à missa. Agora pela manhã, já assisti a duas celebrações pela internet", contou a professora de artesanato Maria Pia Trussardi, 61. "Queria comungar."