A traição é um acontecimento recorrente na vida de casais. Muitas pessoas passam por essa situação e ficam no dilema: perdoar ou não perdoar?
Apesar da dificuldade de aceitar e perdoar uma traição, muitos parceiros compreendem o lado do outro e aceitam as desculpas. Entretanto, aqui surge outro questionamento: é possível continuar o relacionamento após o perdão?
Para responder à questão, Iliani Zaninelli, psicóloga especialista em relacionamentos, afirma que, antes de tudo, é preciso entender qual a definição de traição. De acordo com a profissional, cada pessoa define e reage de uma forma diferente à palavra traição. A situação fica ainda mais difícil quando duas pessoas se unem e possuem convicções diferentes sobre o assunto.
"Cada casal possui uma dinâmica, em que certas coisas são permitidas ou não no relacionamento. Para Ana, conversar com uma pessoa do sexo oposto é traição. Para Paulo, entrar em aplicativos e ter conversas eróticas é trair. Likes e comentários em redes sociais também muitas vezes cruzam a fronteira do que é certo ou errado dentro de um relacionamento. O importante é que esteja claro para o casal o que é definido como traição, os limites do relacionamento e o que é permitido ou não", argumenta a psicóloga.
Para a especialista, o ato de romper ou continuar o relacionamento após uma traição nunca pode ser definido como certo ou errado. Segundo a psicóloga, algumas pessoas conseguem superar, enquanto outras não, e a decisão deve ser respeitada. Apesar disso, Iliani pondera que perdoar é diferente de permanecer junto.
"Quando me perguntam o que eu acho de parceiros que perdoam uma traição, penso que esse casal conseguiu encontrar em seu relacionamento motivos fortes o suficiente para dar o primeiro passo para abandonar suas mágoas. Assim, será possível construir um novo relacionamento ainda mais forte, mais íntimo. No entanto, para que isso funcione, ambos precisam estar dispostos a passar pela turbulência da descoberta e do perdão", diz.
A psicóloga argumenta que existem sim chances de um relacionamento dar certo após uma traição. Entretanto, para isso, a especialista aponta que o parceiro que perdoa e o parceiro que traiu devem adotar determinadas posturas.
Iliani afirma que a pessoa que foi traída começa a passar por um processo chamado de "vigilância temporária", que consiste em vigiar, monitorar dispositivos eletrônicos e redes sociais e saber o que parceiro faz. Por isso, a psicóloga argumenta que o casal precisa negociar quais regalias o parceiro que traiu vai perder temporariamente. Entretanto, a especialista diz que o processo de vigilância temporária não pode ser sufocante e aversivo, uma vez que pode tornar o relacionamento inviável para ambos.
Outro ponto levantado por Iliani no processo de descoberta da traição são as perguntas feitas pelo parceiro traído. Esses questionamentos, conforme a psicóloga, são divididos em dois tipos: perguntas detetivescas e perguntas investigativas. Nos questionamento detetivescos, o parceiro traído tenta descobrir detalhes da relação extraconjugal do outro, o que dificulta o processo de reconciliação. Já as perguntas investigativas buscam motivações para a traição, o que pode levar ao perdão - e não necessariamente à manutenção do relacionamento.
Se a reconciliação é uma das opções do casal, é importante ter em mente as dificuldades apontadas por Iliani. Caso haja dúvida ou insegurança, a psicóloga afirma que é importante o casal buscar uma terapia de casal. "Infelizmente ao passar por problemas como a traição, muitos casais não sabem como agir para curar essa ferida e passam muito tempo cutucando o que precisava de higienização e curativo. É exatamente isso que se busca realizar na terapia de casal, o psicólogo tentará mediar as expressões de sentimentos e auxiliar na identificação das mudanças que precisam ocorrer para que a ferida seja curada e os fatores que facilitaram que ela fosse aberta deixem de existir", finaliza.
*Sob supervisão de Larissa Ayumi Sato.