A Covid-19 já tirou a vida de 603 pessoas em Londrina desde o início da pandemia, em março de 2020, segundo dados do último boletim da Secretaria Municipal de Saúde da cidade. Quando se trata de Brasil, o número de óbitos já ultrapassa os 228 mil. Por trás de cada uma dessas vidas que se foram, há várias outras pessoas que sofrem a perda de um parente ou um amigo. E se já é difícil lidar com a perda definitiva de alguém em circunstância normais, a pandemia agrava ainda mais sentimentos negativos e indesejados que aparecem no processo de luto.
Mas o que é o luto?
A definição de "luto" não é exata e cada pessoa vivencia esse sentimento de maneira diferente, de acordo com a cultura, o meio em que está inserida e o contexto que envolve a morte do conhecido. "Teóricos definem o luto de formas diferentes, mas ele pode ser explicado como um rompimento de vínculo de alguém significativo. É a sensação de perda de algo que era seguro", explica a coordenadora do curso de Psicologia da Unopar Piza, Carla Mancebo.
A perda de um ente querido gera uma resposta mental imediata, traduzido muitas vezes como dor e intensa angústia. De acordo com a coordenadora, essa dor e angústia podem se agravar em momentos de crise, como a pandemia, afinal, o momento por si só já causa insegurança na população. Como resultados psicológicos, as pessoas que vivem o luto podem experimentar sensação de desesperança, falta de interesse no cotidiano e preocupação intensa com as memórias que se tem da pessoa que perdeu a vida. "Na prática, chamamos de luto o período de transição em que precisamos nos acostumar com a falta de uma pessoa querida ao mesmo tempo em que encontramos uma maneira de se adaptar ao dia a dia sem a presença dela", esclarece Carla. "Quando se há uma mudança brusca no cotidiano e na maneira de se viver, como muitas pessoas estão passando durante a pandemia, esses resultados mentais podem ser agravados”, continua.
Estágios do luto
Esse período de transição é dividido por fases, propostas pela psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross em 1969, e a psicologia defende que é necessário viver todas elas como um processo de amadurecimento. São cinco os estados mentais promovidos pelo luto: a negação, a raiva, a barganha, a depressão e aceitação. "Essas etapas nos ajudam a entender a forma como as pessoas administram o luto, mesmo que cada uma delas viva esse momento de maneira diferente", explica a coordenadora de Psicologia da Unopar.
E como lidar?
Apesar de algumas dicas serem úteis para ajudar uma pessoa enlutada a viver melhor por si só, o auxílio psicológico pode ser um grande aliado nesse período. "Antes de tudo, é importante não se comparar com outros casos de pessoas enlutadas. Cada um tem o seu tempo de superar essa dor, que é momentânea, e se transforma em aprendizado e amadurecimento posteriormente", argumenta. A coordenadora ainda esclarece que o papel do psicólogo nesse período é o de ajudar a pessoa enlutada a encarar essa perda de maneira equilibrada. "O profissional pode auxiliar a pessoa a se relacionar com o luto e a entender todos os sentimentos envolvidos, passando por cada fase de maneira consciente", afirma.
A psicologia defende o luto como um momento importante de autoconhecimento e é por isso que é necessário encará-lo, entendê-lo e vivenciá-lo. "Lidar com o luto é compreendê-lo", finaliza Carla.