Quando a mulher recebe a notícia que está grávida é normal a preocupação com a compra do primeiro enxoval. Entre os acessórios adquiridos, inevitavelmente haverá uma mamadeira e possivelmente o kit terá mais de uma chupeta. Esse tipo de consumo, bastante comum entre as gestantes, tem refletido diretamente em dados estatísticos que comprovam: bicos artificiais atrapalham o aleitamento e prejudicam o desenvolvimento na fala dos recém-nascidos.
A Pesquisa Nacional de Práticas Alimentares no primeiro ano de vida, feita pelo Ministério da Saúde e aderida também pelo município de Londrina em 2008, mostrou que apenas 33% das 770 mães entrevistadas amamentavam seu filho exclusivamente com leite materno e 64% delas usavam mamadeiras. O problema da chupeta é ainda maior. Em Londrina constatou-se que 46% das mães faziam uso da chupeta, enquanto no Brasil esse número é de 42%. Mas o problema mesmo é quando a realidade se abre para a região sul do país, onde se constata que 53% das mães permitem o uso do acessório.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece que não deve ser dado ao lactante chuquinhas ou chupetas mesmo sendo ortodônticas. De acordo com especialistas, o uso de bicos artificiais leva ao fenômeno ''confusão de bicos'', ou seja, o recém-nascido posiciona a língua de forma errônea na hora de sugar, levando-o ao desmame precoce.
A fonoaudióloga do Pronto Atendimento Infantil (PAI) de Londrina, Valentina Simioni Rodrigues, lembra que existem vários estudos na área da fonoaudiologia que apontam o uso de chupeta e mamadeira como os responsáveis por alterações fonoaudiológicas, principalmente as alterações orofaciais e as alterações de fala. Ela explica que o bebê conta com o reflexo de sugar e deglutir que permite, quando bem posicionado por sua mãe, uma pega correta dos seios, ou seja, envolvendo o mamilo e a aréola.
''Quando há uma boa pega, a língua fica por baixo (no assoalho da cavidade oral) para pressionar o osso de palato, formando um movimento peristáltico, ritmado, como uma onda. Desta forma ele consegue ordenhar os ductos ou ampolas lactíferas, esvaziando os seios e satisfazendo-se. Na posição errada (má pega) o bebê só abocanha o mamilo, não conseguindo esvaziar os seios, causando dor, fissuras, tensão materna, fome, choro e insatisfação'', diz.
Na mamadeira ou na chuquinha, o recém-nascido empurra a ponta da língua contra o palato para deter o fluxo do leite artificial, da água ou do leite e acaba não sugando, mas apenas engole passivamente o alimento. Pesquisas afirmam que recém-nascidos que usam chupetas geralmente sofrem de candidíase ou o famoso ''sapinho'' e as chuquinhas ou mamadeiras são veículos de contaminação, porque os líquidos ou leites artificiais podem ser preparados de forma não higiênica e atrapalham a proteção imunológica fornecida pelo leite materno.
A odontopediatra Beatriz Brandão explica que pelo fato da língua ficar por muito tempo numa posição inadequada - quando são usados bicos artificiais - o bebê não estimula a respiração normal (pelo nariz) e acaba se acostumando a respirar pela boca deixando de fortalecer musculos importantes da face. ''No primeiro e segundo ano de vida ele precisa do estimulo correto da mandíbula, do maxiliar, o que depois o ajudará na própria mastigação. Além disso, notamos que é mais comum surgirem cáries generalizadas em crianças que mamaram por muito tempo em mamadeira. Além da forma inadequada de sucção, é mais comum a mãe se utilizar de outros líquidos, como achocolatados entre outros que possuem grande concentração de açúcar'', diz.
Mãe segue orientações médicas
O primeiro filho sempre causa uma preocupação extra para a mãe. Interessada em proporcionar tudo que for importante para uma boa saúde, a arquiteta Lorena Rodrigues, 35 anos, segue todas as orientações médicas e procura amamentar João Pedro, 5 meses, mesmo em horário de trabalho. Consciente quanto à importância do contato com o recém-nascido, a mãe se informou sobre tudo o que envolve o aleitamento materno.
''Claro que ele ainda é novo, mas não pretendo dar mamadeira, chupeta, nada. Esse tipo de acessório nem faz parte do enxoval. Sei que os bicos podem interferir no desenvolvimento da fala dele e pode fazer com que tenha mastigação incorreta no futuro'', comenta.
Para a mãe, mais do que uma forma de prevenção, a amamentação é um momento único que, para ela, somente quem é mãe pode compreender. ''Não há coisa mais gostosa no mundo do que esse contato que você tem com o filho que mama no seu peito. Jamais eu deixaria de amamentá-lo para trocar por um bico artificial. Quando ele chora, meus peitos chegam a manifestar que o leite já vai sair. É uma questão de instinto maternal, algo que só nos faz muito bem e feliz'', diz.