A pesquisa "Nascer no Brasil", coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), baseada em depoimentos obtidos nas maternidades brasileiras de 266 hospitais públicos e privados, aponta que 30% das entrevistadas não desejaram a gestação atual, 9% ficaram insatisfeitas com a gravidez e 2,3% relataram ter tentado interromper a gestação.
Esses números chamam a atenção para importância de se abordar esse tema nas consultas pré-natais e promover ações de apoio às gestantes, já que o acolhimento da mãe é fundamental para construção de vínculo com a criança e para diminuir os riscos de depressão pós-parto. Na primeira infância, período que vai da concepção aos 6 anos de vida, o elo que se estabelece entre mãe e filho, com pequenos gestos de afeto e cuidados, são registrados pelo bebê como uma situação de proteção e aprendizado e, no futuro, poderá ajudar na prevenção de problemas de comportamento e na aprendizagem no período escolar.
Anna Chiesa, professora doutora da Escola de Enfermagem da USP e consultora da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, alerta para a necessidade de se identificar, desde o começo da gestação, as dúvidas e condições emocionais dessa gestante e se a gravidez é desejada pela mãe. "O pré-natal é um processo que deve valorizar a participação da mulher e é importante oferecer informações sobre as modificações do corpo, o que acontece durante a gravidez e na hora do parto, e identificar a necessidade de apoio emocional e terapêutico", explica Anna.
Por parte da população também falta entendimento a respeito da relação entre aceitação da gravidez e desenvolvimento infantil. Uma pesquisa realizada em 2012, pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV) em parceria com o Instituto Paulo Montenegro, a respeito da percepção da população sobre o que é importante para o desenvolvimento da criança nos três primeiros anos de vida, revela que apenas 14% dos entrevistados consideram a aceitação da gravidez pela mãe como fator relevante para o desenvolvimento do bebê. Muitas pessoas ainda acreditam que dentro do útero, o bebê está "isolado" do mundo, desconhecendo como emoções da mãe condicionam a vida daquele ser que está se formando.
Anna também alerta para o fato de existir ainda hoje a falsa ideia de que, quando a criança nasce, a mãe torna-se instintivamente mãe. "Acredita-se que as pessoas vão exercer a maternidade e a paternidade com uma competência que está ali, guardada. Falta ainda o reconhecimento da importância de elementos emocionais desde a gravidez: da mãe grávida, do pai grávido, da família grávida. Uma série de aspectos que não são contemplados no processo e que, de modo geral, não são ensinados nem aprendidos por quem faz o pré-natal", explica.
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Fundação Maria Souto Vidigal