O estilo de vida é cada vez mais reconhecido como um fator determinante nos tratamentos de reprodução assistida, não só no que diz respeito à relação custo-benefício, mas também no que se refere aos riscos relacionados com o bem-estar e o futuro da criança a ser gerada. Um artigo publicado recentemente - Lifestyle-related factors and access to medically assisted reproduction - pela Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia - na revista Reprodução Humana, analisa o impacto do estilo de vida e aponta como a obesidade, o tabagismo e o excesso de consumo de álcool podem afetar o processo reprodutivo dos casais, daqueles que concebem naturalmente e dos que contam com o apoio dos procedimentos de reprodução humana assistida.
Tabagismo e fertilidade
O tabagismo feminino reduz globalmente a fertilidade, causando um atraso da primeira gestação. O atraso na concepção reflete-se numa gama de possíveis efeitos adversos na reprodução, como interferência na gametogênese ou na fertilização, dificuldade de implantação do óvulo concebido ou perda subclínica após implantação. "Estudos e pesquisas dos últimos anos apontam que o tabagismo materno influi mais decisivamente na fertilidade do casal do que o tabagismo paterno, o que significa que o sistema reprodutivo feminino é mais vulnerável ao tabagismo que o sistema masculino", afirma o ginecologista e obstetra, Aléssio Calil Mathias, diretor da Clínica Genesis.
Até algumas décadas atrás, acreditávamos que os efeitos da dependência do tabaco eram mais fortes nos homens, mas à medida em que novas gerações de mulheres fumantes foram surgindo, verificamos que as mulheres são igualmente ou mais suscetíveis aos malefícios do fumo, devido às peculiaridades próprias do sexo, como a gestação e o uso da pílula anticoncepcional. "A mulher fumante tem um risco maior de infertilidade, câncer de colo de útero, menopausa precoce (em média 2 anos antes) e dismenorréia (sangramento irregular)", afirma o ginecologista.
O risco de infarto do miocárdio, embolia pulmonar e tromboflebite em mulheres jovens que usam anticoncepcionais orais e fumam chega a ser dez vezes maior do que o das mulheres que não fumam e usam este método de controle da natalidade. Segundo dados do INCA, Instituto Nacional do Câncer, o tabagismo é responsável por 40% dos óbitos nas mulheres com menos de 65 anos e por 10% das mortes por doença coronariana nas mulheres com mais de 65 anos de idade.
Como o fumo prejudica o bebê
Graves complicações na saúde feminina também podem resultar do ato de fumar durante a gravidez. "Abortos espontâneos, nascimentos prematuros, bebês de baixo peso, mortes fetais e de recém-nascidos, complicações com a placenta e episódios de hemorragia ocorrem mais freqüentemente quando a mulher grávida fuma", diz o médico.
A gestante que fuma apresenta mais complicações durante o parto e têm o dobro de chances de ter um bebê de menor peso e menor comprimento, comparando-se com a grávida que não fuma. "Tais problemas se devem, principalmente, aos efeitos do monóxido de carbono e da nicotina exercidos sobre o feto, após a absorção pelo organismo materno", explica o diretor da Clínica Genesis.
De acordo com dados do INCA, um único cigarro fumado por uma gestante é capaz de acelerar em poucos minutos, os batimentos cardíacos do feto, devido ao efeito da nicotina sobre o seu aparelho cardiovascular. Assim, é fácil imaginar a extensão dos danos causados ao feto, com o uso regular de cigarros pela gestante.
Os riscos para a gravidez, o parto e a criança não decorrem somente do hábito de fumar da mãe. Entre as mulheres que convivem com fumantes, principalmente seus maridos, há um risco 30% maior de desenvolver câncer de pulmão em relação àquelas cujos maridos não fumam. "Quando a gestante é obrigada a viver em ambiente poluído pelo cigarro, ela absorve as substâncias tóxicas da fumaça, que, pelo sangue, são repassadas para o feto", informa o ginecologista Aléssio Calil Mathias.
Quando o companheiro fuma...
A fertilidade masculina também é prejudicada pelo tabagismo, na medida em que ocorre um decréscimo nas taxas de gravidez e alterações nos parâmetros seminais de pacientes tabagistas. "O tabagismo masculino está associado à redução na qualidade do sêmen, incluindo concentração de espermatozóides, motilidade, morfologia e efeito potencial na função espermática, além das alterações nos níveis hormonais", informa Mathias.
O hábito de fumar, com o passar dos anos, estabelece um declínio na capacidade reprodutiva masculina de maneira progressiva. Existem trabalhos científicos demonstrando este efeito deletério do cigarro sobre a fertilidade masculina. Uma meta-análise demonstra que pacientes fumantes apresentam um decréscimo médio de 10% na motilidade espermática, 13% na concentração espermática e 3% na morfologia espermática. O volume seminal apresenta-se diminuído em pacientes fumantes, estratificados de acordo com o número de cigarros fumados por dia, quando comparados aos pacientes não fumantes.
O tabagismo também pode causar uma diminuição da fertilidade por alterar os níveis hormonais séricos de testosterona e de estradiol e por provocar alteração no DNA dos espermatozóides. "Costumamos recomendar àqueles indivíduos que apresentam sêmen de qualidade marginal e história de infertilidade, que deixem de fumar para que haja uma melhora da qualidade do sêmen com a interrupção do tabagismo", recomenda Aléssio Calil Mathias.
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