Há muito tempo se discute que a depressão é uma "epidemia" silenciosa. A doença não deixa marcas aparentes, não pode ser diagnosticada por exames de imagem e ainda pode ser confundida com outras enfermidades. Segundo um estudo da revista BMC Medicine, são mais de 121 milhões de pessoas deprimidas em todo o mundo, número quatro vezes maior que o de portadores do HIV/AIDS (33 milhões). No Brasil, são mais de 17 milhões. Uma das maiores dificuldades é o diagnóstico e o tratamento. De acordo com o médico Frederico Navas Demetrio, psiquiatra do Hospital das Clínicas (HC-FMUSP), a depressão é uma doença física como outra qualquer, que desorganiza as reações emocionais. "Porém o diagnóstico ainda é um desafio, pois apresenta sintomas comuns a acontecimentos do dia a dia", explica o médico.
"Qualquer pessoa está sujeita a momentos de tristeza, ansiedade, isolamento ou falta de vontade de se manter ativa. A insônia é outro sintoma bastante comum nos dias de hoje, atingindo 25% dos adultos, que podem sofrer ao menos uma crise de insônia ao longo de um ano. É importante ressaltar que a insônia e a ansiedade estão presentes na maior parte dos pacientes com depressão", diz Frederico Demetrio. Mas a depressão se caracteriza pela constância e gravidade dos sintomas. "A chave do diagnóstico é procurar ajuda na persistência dos sinais. A depressão é uma doença complexa, ligada a fatores biológicos, psicológicos e sociais. Além disso, existem alguns tipos de depressão e para cada uma o médico irá adotar uma abordagem diferente", recomenda.
Desequilíbrio bioquímico
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Em relação ao aspecto biológico, a depressão acontece quando há um desequilíbrio bioquímico dos neurotransmissores (mensageiros químicos do impulso nervoso) responsáveis pelo controle do estado de humor. Quando ficam alterados, desorganizam o estado de humor, as emoções, a capacidade mental e o bem-estar geral do organismo. Segundo o psiquiatra, a depressão é uma preocupação significativa para a saúde pública em todo o mundo. "É um distúrbio sério e recorrente, ligado a morbidades médicas, à mortalidade e à diminuição da qualidade de vida", alerta.
A boa notícia é que cerca de 80% das pessoas com depressão melhoram com o tratamento apropriado. "Os tratamentos para a depressão incluem, principalmente, a psicoterapia e os antidepressivos, medicamentos que corrigem o desequilíbrio químico das substâncias no cérebro. A utilização dessas substâncias na prática clínica trouxe um avanço importante no tratamento, pois a depressão se tornou um problema médico passível de tratamento, assim como a hipertensão e o diabetes", afirma o médico.
"É importante chamar a atenção para esta doença e para seus sinais. Procurar ajuda médica especializada e aderir ao tratamento, tanto medicamentoso como psicoterápico, é fundamental para a qualidade de vida do paciente. Vale lembrar que a depressão pode levar a casos extremos como o suicídio. A doença está associada à morte de cerca de 850 mil pessoas por ano, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), além de estar associada a milhares de afastamentos do trabalho", finaliza o psiquiatra.
Como saber se estou deprimido?
O diagnóstico da depressão depende do histórico e de um exame do estado mental feito por um médico habilitado. Contudo, a presença de pelo menos cinco dos sintomas abaixo, por um período contínuo de pelo menos duas semanas, pode indicar que você possa estar sofrendo de depressão:
( ) Sente-se deprimido a maior parte do tempo, quase todos os dias.
( ) Sente o interesse ou prazer diminuído para realizar a maioria das atividades.
( ) Perdeu ou ganhou peso não intencional.
( ) Tem agitação ou apatia psicomotora quase todos os dias.
( ) Tem fadiga ou perda de energia diariamente.
( ) Sente um sentimento permanente de culpa e inutilidade.
( ) Tem dificuldade de concentração: habilidade frequentemente diminuída para pensar ou concentrar-se.
( ) Tem pensamentos recorrentes de suicídio ou morte.
Se você apresentar pelo menos cinco destes sintomas, ocorrendo todos juntos, e causando bastante desconforto e sofrimento, por um tempo prolongado (duas semanas ou mais), é recomendável procurar um médico para ser avaliado quanto ao diagnóstico de depressão.