"Qual a mãe que iria optar por um produto que pudesse ameaçar a saúde de seus filhos?", questiona a administradora de empresas Vivian Azanha, de 30 anos. Mãe de Gabriel, de 2 anos, Vivian é uma das mães blogueiras que aderiu a uma campanha contra o bisfenol A, uma substância tóxica presente no policarbonato, plástico usado em mamadeiras.
Segundo estudos da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Estado de São Paulo (SBEM-SP), o bisfenol age como um hormônio sintético e sua ingestão pode provocar câncer, diabete, obesidade, infertilidade e outras doenças. São os bebês os mais vulneráveis aos efeitos do produto. Para conscientizar as mães e a população sobre as ameaças desse tipo de plástico, a SBEM também planeja uma campanha sobre o assunto.
"Pretendemos esclarecer a população. Não é para abolir o plástico como um todo, mas educar para que as pessoas entendam como aquele recipiente pode liberar o bisfenol", explica a endocrinologista da SBEM e conselheira do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), Ieda Therezinha Verreschi.
O bisfenol já é proibido em três países: Canadá, Costa Rica e Dinamarca. Na semana passada também foi vetado na União Europeia. Nos Estados Unidos, pelo menos quatro estados também já proibiram a fabricação de mamadeiras com o policarbonato. A discussão internacional chamou a atenção da tradutora Fabiana Dupont. Com uma amiga, ela começou a divulgar na internet um selo para alertar mães. "Já são cerca de 50 blogs com o selinho contra o bisfenol. Nosso objetivo é movimentar as pessoas e chamar a atenção das autoridades."
A jornalista Tanise Dutra, de 33 anos, reconheceu a importância da campanha e acrescentou o selo a seu blog. "Foi a primeira vez em que ouvi falar do assunto. Fui procurar saber se os produtos que eu usava tinham bisfenol. Fiquei aliviada em saber que não. Mas muitas mães compram mamadeiras mais simples e não têm outra opção", diz a mãe de Sofia, de 1 ano e meio.
A campanha também chamou a atenção de Vivian. "Mudamos alguns hábitos após descobertos os riscos. Não utilizamos embalagens plásticas para aquecer alimentos em micro-ondas e também passamos a evitar o uso de copos e outros utensílios fabricados com esse material".
Para a SBEM, o bisfenol é arriscado mesmo em poucas quantidades. "Por ser um hormônio sintético, a metabolização é mais difícil. Ainda mais se for absorvida em algum período decisivo para o desenvolvimento, como a infância ou a adolescência", afirma Ieda.
O que é bisfenol A
O bisfenol A (BPA) é a matéria-prima do policarbonato, plástico resistente e transparente usado em vários produtos - em mamadeiras, por exemplo. No corpo, age como hormônio sintético, desregulando o sistema endócrino. Estudos internacionais o relacionam a problemas cardíacos, diabete, câncer, puberdade precoce e abortos.
Fique atento!
Risco não comprovado
A associação de consumidores Proteste realizou um teste de qualidade com sete marcas de mamadeiras usadas no Brasil. Foram avaliados os bicos, a resistência dos produtos e a migração de substâncias químicas, como o bisfenol A, do plástico para o líquido. Segundo a pesquisadora química Marina Jakubowski, uma das organizadoras do estudo, as mamadeiras testadas no estudo não liberaram bisfenol.
Marina explica que foram avaliadas mamadeiras das marcas Nuk, Lillo Amiguinhos, Kuka Color Plus, Mam, Ninet Super Higiênica e Girotondo Cr. Browns. Os produtos foram submetidos a aquecimento no micro-ondas e em fogão por cinco minutos. As mamadeiras também foram aquecidas por 4 horas, a uma temperatura de 80 graus. Para ela, contudo, "todo controle de qualidade é válido".
Segundo Marina, foram os bicos das mamadeiras que apresentaram problemas. "Substâncias voláteis, usadas na fabricação, foram encontradas. Mas podem ser eliminadas após a esterilização", garante a pesquisadora.