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Parto: mulheres testam hipnose para substituir anestesia

17 fev 2011 às 08:53

O sistema público de saúde britânico, o NHS, está estudando oferecer cursos de auto-hipnose a mulheres grávidas como uma forma de aumentar o número de partos naturais (sem uso de anestesia) e reduzir custos.

O método, conhecido de forma geral como hypnobirthing, tem crescido em popularidade na Grã-Bretanha nos últimos anos, e promete ensinar às futuras mães técnicas de respiração e relaxamento profundo que levariam a um parto sem estresse e com pouca ou nenhuma dor.


A moradora de Londres Simone O’Neill, de 37 anos, descreve o parto de seu filho, em outubro de 2010, como "o mais perfeito que alguém poderia ter". Segundo ela, Ludo nasceu com 4,4 kg, em um parto completamente natural e sem os gritos normalmente associados à ocasião.


O'Neill frequentou um curso completo de 12 horas de hypnobirthing e disse à BBC Brasil que o uso de hipnose fez toda a diferença para ela, mesmo já tendo passado pela experiência de dar à luz sem nenhuma anestesia com sua filha mais velha.


"Desta vez, foi muito mais rápido e eu me senti totalmente segura. Enquanto com a minha filha eu passei mais de duas horas empurrando, meu filho levou apenas alguns minutos para sair", conta ela. "Você aprende a relaxar, a trabalhar com o seu corpo. Eu tive meu bebê em casa e as parteiras só olharam, não tiveram de fazer nada". completa


Pesquisa


A pesquisa sobre a eficácia da hipnose durante o parto está sendo realizada por cinco universidades britânicas e vai ter uma duração total de dois anos.


Mais de 800 mães de primeira viagem vão participar de duas sessões de 90 minutos de duração perto da 32ª semana de gravidez, nas quais parteiras especialmente treinadas ensinarão as técnicas de auto-hipnose, em um estudo patrocinado pelo Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde (NIHR) e conduzido pelo East Lancashire Hospital Trust.


Elas serão então acompanhadas durante o parto e comparadas a mulheres que não receberam as aulas para saber se a hipnose fez com que menos delas optassem pela peridural, uma injeção de anestésico aplicada na coluna com uma agulha.


As mulheres que fizerem o curso de hipnose também serão acompanhadas nas duas semanas seguintes ao parto para que se possa estudar os efeitos do curso de forma mais ampla.


"Há provas de que a auto-hipnose funciona bem em outras áreas da saúde. O NHS já usa o método em pacientes com dor crônica, síndrome do intestino irritável e asma por exemplo", disse Soo Downe, especialista da Central Lancashire Unicersity, que coordena o projeto.


"A ideia é dar às mulheres a capacidade de conduzir seu próprio parto, reduzindo a necessidade de intervenções externas, que tornam o processo mais perigoso para mãe e bebê."


‘Medo e ansiedade’


O conceito de se usar hipnose no parto é antigo. No livro do médico Grantly Dick-Read Parto Sem Medo, de 1933, o pesquisador britânico concluiu que o medo e a tensão são responsáveis por 95% das dores do parto, que poderiam ser eliminadas com técnicas de relaxamento profundo.


"Todos nós crescemos com histórias negativas sobre partos, imagens aterrorizantes em filmes, relatos assustadores em livros. O hypnobirthing ajuda as mulheres a se livrarem desses medos que fazem parte da nossa cultura", disse à BBC Brasil Katharine Graves, fundadora do Hypnobirthing Centre, em Londres.


"Acho que seria maravilhoso que todas as mulheres pudessem ter acesso a isso, portanto o estudo do NHS é positivo, mas temo que duas sessões de 90 minutos não sejam suficientes para que elas tenham uma experiência completa."


Maureen Treadwell, da Birth Trauma Association, que lida com mulheres traumatizadas pela experiência de dar à luz, defende que o uso da auto-hipnose não pode substituir a anestesia.


"É importante que os hospitais britânicos tenham o número necessário de parteiras e médicos e que os recursos estejam disponíveis para que as mulheres façam suas escolhas", disse ela.

"Pode ser mais barato no curto prazo não oferecer anestesia para uma mulher em trabalho de parto, mas pagar o tratamento psiquiátrico de uma mãe traumatizada pela experiência acaba saindo muito mais caro no fim", defende Treadwell.


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