Quem já não teve aquela sensação de que tudo parece estar bem mas, na verdade, não está? Às vezes isso acontece com quem tem depressão: "durante o tratamento, o humor e outros fatores relacionados à doença melhoram, como fadiga e insônia, por exemplo. Porém, esta recuperação não permite que o paciente retome a produtividade habitual no trabalho, reassuma hobbies ou resgate relacionamentos pessoais", explica Gisele Minhoto, psiquiatra, neurofisiologista e professora titular de Medicina da PUC-PR. "São os chamados sintomas residuais, que não possibilitam ao paciente ter a funcionalidade restaurada", complementa.
Na prática, isso significa que o paciente consegue levar o dia a dia, mas não da mesma maneira como o fazia antes da depressão. Portanto, mesmo com um enorme progresso durante o tratamento, a reintegração é parcial – e não total, como deveria ser. É aí que entra a escala PHQ-9, utilizada para avaliar os sintomas do Transtorno Depressivo Maior (TDM), e que pode ajudar na identificação destes sinais residuais. Ela deve ser preenchida pelo paciente levando em conta a frequência e intensidade com que foi incomodado pelos problemas mencionados no questionário nas duas últimas semanas. É importante indicar o grau de dificuldade que os itens assinalados causaram para atividades como trabalho, tomar conta da casa ou para se relacionar com as pessoas: nenhuma dificuldade; alguma dificuldade; muita dificuldade; extrema dificuldade.
Ao final, os resultados devem ser somados e a pontuação conferida na tabela de classificação. Vale lembrar que somente o médico pode diagnosticar a depressão e a escala PHQ-9 é utilizada apenas para auxiliar a pessoa a identificar os sinais da doença e orientá-la a procurar a ajuda do psiquiatra.
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PHQ-9
Durante as últimas 2 semanas, com que frequência você foi incomodado(a) por qualquer um dos problemas abaixo?
Nenhuma vez – 0 ponto
Vários dias - 1 ponto
Mais da metade dos dias – 2 pontos
Quase todos os dias – 3 pontos
1. Pouco interesse ou pouco prazer em fazer as coisas;
2. Se sentir "para baixo", deprimido(a) ou sem perspectiva;
3. Dificuldade para pegar no sono ou permanecer dormindo, ou dormir mais do que de costume;
4. Se sentir cansado(a) ou com pouca energia;
5. Falta de apetite ou comendo demais;
6. Se sentir mal consigo mesmo(a) ou achar que você é um fracasso ou que decepcionou sua família ou a você mesmo(a);
7. Dificuldade para se concentrar nas coisas, como ler o jornal ou ver televisão;
8. Lentidão para se movimentar ou falar, a ponto das outras pessoas perceberem? Ou o oposto – estar tão agitado(a) ou irrequieto(a) que você fica andando de um lado para o outro muito mais do que de costume;
9. Pensar em se ferir de alguma maneira ou que seria melhor estar morto(a).
Fonte: Kroenke K, Spitzer RL, The PHQ-9: A new depression and diagnostic severity measure, Psychiatric Annals. 2002, 32: pp. 509-21
Nível dos sinais residuais
De 1 a 4 pontos – Remissão. Neste estágio predomina a ausência de sintomas.
De 5 a 9 pontos – Há sintomas subclínicos. Vale a pena procurar aconselhamento médico, a fim de entender o que está acontecendo.
De 10 a 14 ountos – A presença de sinais residuais é leve. É interessante que o paciente busque ajuda de um especialista antes que o incômodo e a frequência dos problemas se tornem maiores.
De 15 a 19 pontos – os sinais residuais são moderados. O paciente deve procurar rapidamente pelo psiquiatra, que avaliará o caso e iniciará o tratamento adequado.
De 20 a 27 pontos - Presença severa de sinais residuais. Procure o psiquiatra com urgência.
"Estudos mostram que de 30% a 50% dos pacientes têm sintomas residuais, mesmo aqueles que apresentam remissão", explica Gisele. Quando estes sintomas são tratados, há significativa melhoria na qualidade de vida do paciente, além da retomada da funcionalidade familiar, social e profissional. E, quando se fala no tratamento da depressão, o objetivo é atingir a remissão (equivalente a atingir de 01 até 04 pontos na escala PHQ-9) e recuperar por completo a funcionalidade da pessoa acometida.
"Em casos mais leves, apenas a psicoterapia pode ajudar na recuperação, porém, em casos mais graves, os medicamentos também são necessários para que a doença seja controlada com agilidade e eficácia", orienta a especialista.
Para combater a doença, além de ser essencial seguir corretamente o tratamento, a prática de atividades físicas também é importante. Esportes liberam endorfina, substância que causa sensações de alegria, bem-estar e melhoram a qualidade de vida do paciente.
Muito além da tristeza
Fadiga, insônia, falta de energia, tristeza profunda, problemas gastrointestinais, retardo psicomotor (fala e movimentos lentos), ansiedade, distúrbios alimentares – estes são alguns sintomas da depressão. "Engana-se quem acredita que a doença deixa suas marcas apenas no humor da pessoa. A enfermidade vai muito além da tristeza e seu impacto pode ser percebido não só emocionalmente, mas também funcionalmente", desmistifica Gisele Minhoto.
Muitas vezes, o cansaço excessivo ou irritação prolongada também podem ser sinais da depressão – aliás, este último sintoma é classicamente confundido com a tensão pré-menstrual. "Muitas pessoas chegam aos consultórios reclamando de sobrepeso por conta de distúrbios alimentares, e insônia, por exemplo. Após uma investigação mais aprofundada, acabamos descobrindo que essas pessoas estão com depressão", relata a especialista.