Mulheres submetidas a tratamentos de infertilidade são mais propensas a engravidar, se aderirem também a um programa simultâneo de redução de estresse, revela uma pesquisa, publicada na revista Fertility and Sterility, que levanta novas e controversas questões sobre o papel que o estresse pode exercer nos casos de infertilidade.
O tema do trabalho é uma questão delicada porque, historicamente, os profissionais da área da saúde, muitas vezes, relacionam a incapacidade de um casal conceber com questões psicológicas e emocionais em um ou ambos os parceiros.
"Mas a pesquisa e a prática clínica nos mostram que a maioria dos casos de infertilidade é resultado de problemas físicos no sistema reprodutivo da mulher ou do homem e os fatores psicológicos raramente são a causa primária da infertilidade do casal", diz o ginecologista Jonathas Borges Soares, diretor do Projeto ALFA, Aliança de Laboratórios de Fertilização Assistida.
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Mesmo assim, o diagnóstico de infertilidade pode causar estresse e tristeza consideráveis. E os pacientes frequentemente relatam altos níveis de depressão e ansiedade. Alguns estudos têm comparado o estresse provocado pela infertilidade ao estresse vivido por pacientes com câncer ou doenças cardíacas.
Para avaliar os efeitos de níveis elevados de estresse, os pesquisadores estão estudando se o estresse pode tornar o corpo "um lugar menos hospitaleiro para uma gravidez" e se esta suposição, de alguma forma, pode interferir no sucesso dos tratamentos de infertilidade.
"São muitos os programas de infertilidade que já abrangem o aconselhamento individual e do casal para ajudar homens e mulheres a lidarem melhor com o diagnóstico e com o tratamento da infertilidade, mas não sabemos ainda, com certeza, se este tipo de ação pode afetar as taxas de sucesso do tratamento", afirma o médico.
A pesquisa americana
Em busca destas respostas, Alice Domar e sua equipe recrutaram 100 mulheres com menos de 40 anos, em Boston, que estavam participando de tratamentos que empregavam a fertilização in vitro, ou FIV.
O grupo de 100 mulheres foi randomizado e deu origem a um grupo controle – que recebeu apenas o tratamento de infertilidade – e a um grupo que, além do tratamento de infertilidade, participou de um programa de 10 semanas de gerenciamento do estresse focado em terapia comportamental cognitiva, técnicas de relaxamento e suporte social.
Os pesquisadores acompanharam os grupos durante dois ciclos de FIV. No primeiro ciclo não houve diferenças nas taxas de concepção entre os grupos. No segundo ciclo, a maioria das pacientes que integrava o programa para gerenciamento do estresse já havia participado, pelo menos, de cinco sessões de terapia. Como resultado, 52% das mulheres que participavam do programa de redução de estresse engravidaram, em comparação com 20% do grupo controle.
Segundo os autores, a pesquisa não tem a intenção de reduzir a infertilidade "a um problema da mente". Mas é importante saber que se a mulher está realmente estressada e deprimida, o corpo parece sentir "que este não é um bom momento para engravidar".
Estresse x concepção
"Em mulheres que se submetem a vários tratamentos de reprodução humana assistida, o estresse pode aumentar com a decepção de várias tentativas fracassadas de engravidar, desencadeando um ciclo em que a gravidez se torna ainda mais difícil de ser alcançada. Os resultados dos tratamentos empregando as tecnologias reprodutivas sugerem a necessidade de encontrarmos meios adequados para ajudar as mulheres que estão tentando engravidar a aliviar o estresse, enquanto a concepção não ocorre. É importante dizer que os programas de gestão de estresse não curam a infertilidade. Mas abordagens terapêuticas que envolvam a mente e o corpo ajudam a reduzir a ansiedade e aumentam o relaxamento, o que pode ajudar os casais com infertilidade inexplicada, por exemplo", defende o ginecologista Jonathas Borges Soares, diretor do Projeto ALFA.