A infertilidade é uma doença que afeta em média 15% das pessoas no mundo inteiro, é o que afirma estudo de 2011 da Fertility and Sterility, revista de referência mundial na área de infertilidade. E a incidência da doença está aumentando ao longo dos anos. De 2000 a 2010, houve um aumento de 10% de casais inférteis. Segundo o especialista em reprodução humana do Instituto Brasileiro de Reprodução Assistida (IBRRA), Juliano Scheffer, as causas são variáveis, desde alterações no estilo de vida, melhora nas técnicas diagnósticas até o postegar da gravidez para uma idade avançada.
Para o especialista, a infertilidade não é vista por muitos como uma doença e ainda não é discutida como um tema de saúde pública. "Até mesmo em programas de graduação este tema não é abordado de forma certa e aprofundada. As pessoas são relutantes em discutir qualquer assunto envolvendo a fertilidade", ressalta. Segundo Scheffer, isso se dá muito pelo preconceito ainda existente da sociedade frente à infertilidade. Além disso, a cobrança da maternidade/paternidade é enorme. Frases como "agora que casou, o bebê chega quando?" é rotina na maioria das sociedades.
Em 2009, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu oficialmente a infertilidade como doença. De acordo com Scheffer, a infertilidade afeta psicologicamente a paciente e seus familiares do mesmo modo que o câncer. "É uma doença que altera muito o emocional das pessoas. O que está em questão é a possibilidade de realizar um desejo, o de ter um filho" enfatiza. Porém, a alteração da saúde reprodutiva ainda é ignorada por muitos médicos e casais, que não dão a devida importância a esta patologia.
Vários trabalhos demonstram o impacto negativo da infertilidade na qualidade de vida social e psicológica do casal. Uma pesquisa realizada em fevereiro de 2011, pela Associação Americana de Infertilidade – RESOLVE, levantou os malefícios do silêncio perante esta doença, sendo a principal a depressão ou sintomas depressivos.
Ainda de acordo com a publicação da Fertility and Sterility, um grupo americano de Nova Iorque, demonstrou que 33% das pacientes femininas com problemas de infertilidade apresentam depressão e 59% alto nível de stress. O Estudo demonstrou ainda que homens com diagnóstico de infertilidade apresentam efeitos negativos no comportamento sexual, relacionamento pessoal e social.
Em outro estudo australiano de outubro de 2010, publicado na mesma revista, mostrou que o principal motivo da paciente infértil não procurar a ajuda médica é o quadro de depressão ou sintomas depressivos. Scheffer destaca que o apoio e a elucidação das lendas e tabus envolvendo a infertilidade são fundamentais ao bem estar físico e psicoscocial do casal e para amenizar o preconceito dessa doença. "Essa pressão leva muitos casais a ocultarem o tratamento de fertilidade. É muito comum nos nossos consultórios casais que fizeram ou que estão fazendo tratamento nunca falarem ou comentarem com amigos e até mesmo com o próprio médico generalista" diz Scheffer.
Ele ressalta que, a partir do momento que a doença infertilidade for tratada como tal, ela naturalmente passará por um processo de transformação e deixará de ser um tabu – o que, consequentemente, acabará com o preconceito. "Um exemplo foi o que aconteceu com o câncer. Até pouco tempo atrás os pacientes escondiam a doença por medo e insegurança. Mas, devido à divulgação massiva na mídia e ao esclarecimento de dúvidas sobre tratamento, sobrevida, prognósticos, a doença deixou de ser um tabu e o preconceito começou a desaparecer. O mesmo está acontecendo com a AIDS. Por isso, o silêncio é a principal chave para piorar o preconceito", salienta.