Considerada uma doença da mulher moderna, a endometriose acomete 10% das mulheres em idade reprodutiva, geralmente a partir dos 30 anos de idade, e consiste na presença de endométrio em locais indevidos, ou seja, fora da cavidade uterina. Endométrio é a mucosa que reveste o útero internamente e que é renovada mensalmente pela menstruação. O endométrio que se fragmenta e é eliminado junto com o sangue menstrual pode extravasar para o interior do abdome através dos orifícios das trompas. Esse tecido pode, também, migrar através da corrente sanguínea, para órgãos como o ovário, intestino, apêndice, bexiga e vagina.
Além da dor que causa, a endometriose pode comprometer a fertilidade feminina. Cerca de 20% das mulheres acometidas pela endometriose apresentam apenas dor, 60% tem dor e infertilidade e 20% apenas infertilidade. Considera-se que a endometriose afete uma em cada dez mulheres em idade fértil.
Segundo o ginecologista, Joaquim Lopes, especialista em reprodução assistida, a dificuldade para engravidar é proporcional ao estágio da doença. Alguns casos mais leves ou iniciais podem ser revertidos com tratamento hormonal ou procedimento cirúrgico (laparoscopia). Podem ser resolvidos também com procedimentos de Reprodução Assistida de menor complexidade como a inseminação artificial, que consiste em selecionar e facilitar o acesso dos espermatozóides às trompas. Em casos mais avançados, quando a endometriose já atingiu vários órgãos, é necessário algum método com tecnologia mais complexa. Nesses casos, geralmente, a paciente precisa das técnicas de fertilização in vitro (FIV) para engravidar.
Embora a endometriose seja um dos fatores que pode causar infertilidade na mulher, o ginecologista Joaquim Lopes, no entanto, explica: "quando a mulher tem endometriose não significa que ela seja infértil. Se ela engravidar em estágios iniciais da doença, muitas vezes a própria gestação pode funcionar como um tratamento e aliviar os sintomas da mesma. Isso acontece em virtude do efeito protetor de um hormônio produzido em grandes quantidades na placenta, que é a progesterona.
A endometriose ainda representa um desafio para medicina, uma vez que suas causas não foram muito bem explicadas. O aumento dos casos vem sendo atribuído ao estilo de vida da mulher atual, que é mais independente, se casa e engravida mais tarde, tem menos filhos e, consequentemente, tem mais ciclos menstruais. "Quanto mais a mulher menstrua, mais são as chances dela desenvolver a endometriose", explica o ginecologista. Atualmente, a mulher menstrua em torno de 400 vezes ao longo da vida. Antigamente, a mulher casava bem mais jovem, engravidava logo, tinha muitos filhos e costumava ficar longos períodos amamentando. A primeira menstruação (menarca) acontecia mais tarde e, por conta das gestações, ela menstruava um menor número de vezes durante sua idade reprodutiva. A menarca hoje acontece bem mais cedo e hoje é normal a menina menstruar por volta dos 12 anos. Antigamente, a menarca acontecia entre os 15 e 16 anos. O estilo de vida, o estímulo sexual e a alimentação (uso de hormônios em alimentos) anteciparam a menarca.
A forte dor pélvica na mulher acometida pela endometriose pode afetar a vida do casal, uma vez que a relação sexual passa a ser evitada, gerando problemas conjugais e até depressão. A dismenorréia (cólica durante o período menstrual) causada pela endometriose gera inúmeras outras implicações como irritabilidade, insônia e tensão pré-menstrual. A dor, que, muitas vezes é progressiva e pode ser incapacitante, geralmente atinge a parte inferior do abdômen e a região pélvica. Começa geralmente no período que antecede a menstruação e vai aumentando até o início do sangramento, mas pode acontecer em outras fases do ciclo.
A prevenção é a melhor forma de evitar a doença. Através de consulta ao ginecologista e exames de rotina anuais é possível identificar precocemente a possibilidade de se desenvolver a endometriose e, através de tratamento medicamentoso, evitar a evolução da doença. A pratica de exercícios físicos também é recomendada para manutenção de uma vida reprodutiva saudável.