Um estudo que será publicado na revista científica Journal of Aging and Health demonstrou que o abuso físico e emocional dos pais na infância pode aumentar a chance de câncer na vida adulta.
O abuso físico pode ser definido como a intenção de causar sentimentos de intimidação através de danos corporais, o que pode incluir as chamadas "palmadas corretivas" frequentes. Já o abuso emocional refere-se às agressões verbais, tais como constantes críticas, manipulação e revelação de insatisfação.
Segundo os pesquisadores, esse é o primeiro estudo a examinar o efeito de eventos negativos na infância em relação à incidência de câncer em adultos. A pesquisa utilizou dados do levantamento denominado de National Survey of Midlife Development in the United States (MIDUS), acompanhando 3.032 pessoas entre 25 e 74 anos durante dez anos.
Leia mais:
Celulite: por que surge, quais as principais causas e como tratar?
Arábia Saudita autoriza mulheres a dirigirem automóveis
'Nem todas as mulheres podem ser modelos', diz estilista da Dior
Empresa dos EUA cria fantasia de 'Kylie Jenner grávida' para o Halloween
O estudo avaliou o efeito dos tipos de abuso separadamente para homens e mulheres. Dentre as pessoas que sofreram abusos físicos e emocionais frequentes, a chance de ter câncer na vida adulta foi de 15% maior para as mulheres e 6% para os homens em comparação aos que não sofreram nenhum tipo de abuso.
O oncologista Stephen Stefani, do Instituto do Câncer Mãe de Deus (ICMD), em Porto Alegre (RS), comenta que as pessoas que sofreram eventos estressores intensos na infância podem estar sujeitas a mais fatores de risco, tais como o uso do fumo, uma alimentação não tão saudável e não realizarem exames preventivos. "Estudos já assinalaram que o estresse na infância pode levar a comportamentos de risco que, por sua vez, estão associados à maior chance de câncer", revela.
Além disso, o médico complementa que "há a hipótese de que a experiência humana, incluindo os eventos estressores, possa alterar os processos biológicos, influenciando a saúde ao longo da vida, bem como os efeitos no organismo dessa experiência podem ser diferentes para homens e mulheres".
Além dessas questões, a psicóloga Daniela Bianchini, também do ICMD, explica que as crianças são dependentes física e emocionalmente das figuras paternas. Quando expostas a frequentes estresses provindos dessas pessoas que deveriam garantir sua segurança, elas podem passar a responder diferenciadamente aos novos estressores na vida adulta, modificando a percepção até da própria existência.
A psicóloga frisa que, para impor regras e limites aos filhos, os exemplos, as conversas e as negociações ainda são os melhores caminhos para uma educação em prol da saúde. "Deve-se considerar também a importância de se elogiar os acertos ao invés de se criticar os erros", orienta.
Para Stepehn, o entendimento dos mecanismos de ação e fatores relacionados ao câncer são importantes para estabelecer linhas de pesquisas e estratégias preventivas. Portanto, uma educação ampla é a melhor abordagem contra o câncer.
*Fontes do estudo: Morton PM, Schafer MH, Ferraro KF. Does Childhood Misfortune Increase Cancer Risk in Adulthood? J Aging Health., no prelo, 2012.
Serviço:
Instituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus (www.maededeus.com.br)