"O tema é recorrente, tanto nas consultas, quanto nas palestras que realizo: ‘Dr. Moises, vou voltar a trabalhar, como manter o aleitamento materno? Devo tirar ele do peito já e acostumar com a mamadeira? Devo enviar o meu leite na mamadeira ou a fórmula para a creche? Devo buscar ajuda num banco de leite?’. Essas são apenas algumas das milhares de dúvidas das mães sobre esse tema: continuidade do aleitamento materno e volta ao trabalho. Aproveitando o mote da Semana Mundial de Aleitamento Materno de 2015, vou abordar hoje a importância dos bancos de leite nesse processo, bem como as técnicas de ordenha e conservação do leite materno", afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski, idealizador do Movimento #euapoioleitematerno.
"A princípio, a recomendação é bem simples: a mãe que vai voltar ao trabalho pode retirar o leite e mandar para a creche. Se o bebê for ficar em casa com algum parente ou babá, ela pode deixar leite materno estocado, para ser oferecido no copinho, para que o bebê continue recebendo todos os nutrientes necessários. A mãe pode também buscar apoio em um banco de leite. Os bancos de leite foram criados e destinam-se principalmente aos bebês prematuros, mas não atendem somente às demandas desse público", esclarece Moises Chencinski.
Ordenha manual
Há um documento, elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, intitulado "Recomendações úteis para a manutenção do aleitamento materno em mães que trabalham fora do lar ou estudam", que traz todas as recomendações necessárias para manter o aleitamento materno e retomar as atividades profissionais/estudantis. "Gosto muito das explicações desse documento, pois elas partem de uma premissa da qual compartilho: toda mulher tem direito a trabalhar, estudar, passear e continuar amamentando", diz o médico.
Segundo o documento, a primeira coisa a se fazer, antes de voltar ao trabalho, é aprender a ordenhar o leite materno manualmente. A ordenha deve ser realizada quando a mãe tem leite em excesso, quando a mãe e o bebê não podem ficar juntos – seja por motivos de saúde ou de distância física, trabalho –, quando o bebê apresenta dificuldade de sugar ou mamar adequadamente ou quando a mãe deseja doar o excedente de seu leite.
"Para realizar a ordenha, a mãe deve escolher um lugar limpo e tranquilo, prender bem os cabelos e usar uma touca de banho ou pano amarrado. Deve proteger a boca e o nariz com máscara, pano ou fralda. Também deve deixar preparado um vasilhame para estocar o leite, de preferência um frasco com tampa plástica, fervido por 15 minutos para esterilizar. Em seguida, deve massagear a mama com a ponta dos dedos das mãos bem limpas, como um todo, com movimentos circulares da base em direção a aréola. A mãe deve massagear por mais tempo as áreas mais doloridas. Depois, apoiar a ponta dos dedos (polegar e indicador) acima e abaixo da aréola, comprimindo a mama contra o tórax, fazendo movimentos rítmicos, como se tentasse aproximar as pontas dos dedos, sem deslizar na pele. É importante que a mãe despreze os primeiros jatos e guarde o restante no recipiente preparado", ensina o médico.
Existem 3 tipos de ordenha (manual, mecânica e elétrica). A melhor forma e a mais natural de tirar o leite é a manual, utilizando as mãos após a massagem nos pontos entumecidos. Porém, pode se fazer o processo mecanicamente através de bombas tira leite manuais ou elétricas, o resultado é o mesmo nas duas formas. Nas situações em que a mãe tira o leite por um longo tempo, a elétrica oferece mais conforto e praticidade.
Conservação do leite materno
"Após retirar o leite, a mãe deve guardá-lo em um frasco limpo e bem tampado. Deve manter o leite, sob refrigeração, em geladeira, freezer ou, se não houver essa possibilidade, manter em isopor com gelo. O leite materno pode ser conservado sem estragar na geladeira, por 24h, e no congelador ou freezer, por 15 dias. Ele deve ficar o menos tempo possível exposto à temperatura ambiente", ensina o especialista.
Para ser oferecido ao bebê, o leite deve ser descongelado e aquecido no próprio frasco em banho-maria. "Não o descongele em microondas e não ferva. O leite aquecido que não foi usado deve ser jogado fora. O uso do copinho é a forma mais indicada para oferecer o leite materno armazenado", ensina o pediatra.
Caso o armazenamento do leite não seja possível, é importante que, para manter a produção de leite, que a mãe apenas retire o leite e o jogue fora. Caso a mãe deseje doar o excesso de leite a um Banco de Leite Humano (BLH), deve congelar o líquido imediatamente após a extração.
Ordenhando no trabalho
A mulher que precisa tirar o leite durante o período em que está no trabalho, e só vai chegar em casa à noite, deve procurar um lugar tranquilo e limpo, sem fluxo de pessoas e distante de ambientes contaminantes (banheiro, presença de animais), se possível em intervalos de 3 a 4 horas. "Em seguida, deve guardar o leite na geladeira da forma correta. Se o leite for oferecido ao bebê no período de até 24 horas, não é necessário o congelamento. Caso ultrapasse esse tempo a mãe deve guardá-lo no freezer. Para o transporte, a mulher deve utilizar uma bolsa térmica com bolsa de gelo (gelo reciclável) encontrada em farmácias, drogarias e casas especializadas em produtos infantis. Não aconselhamos o uso de isopor por ser um produto poroso e de difícil higienização. O ideal é usar material lavável e que resista a desinfecção com álcool 70°. Isso deve ser feito a cada utilização", ensina Chencinski.
Bancos de leite
Quem pode ser doadora de leite humano? De acordo com a legislação que regulamenta o funcionamento dos Bancos de Leite no Brasil (RDC Nº 171), a doadora, além de apresentar excesso de leite, deve ser saudável, não usar medicamentos que impeçam a doação e se dispor a ordenhar e a doar o excedente. "Se você quer doar seu leite entre em contato com um Banco de Leite Humano", recomenda o pediatra.
Clique aqui ou aqui e encontre o banco de leite mais próximo de você.
Como preparar o frasco para coletar o leite humano?
Por que armazenar o leite?
Armazenar o leite materno traz benefícios imensos para a mãe e o bebê. "Com a correria do dia-a-dia pode parecer cansativo ordenhar a mama para retirada do leite, porém a gratificação será maior do que o esforço. O ato de tirar e armazenar o leite materno pode ser bem mais simples do que a mãe pensa. Aliás, com o tempo e a prática fica cada dia mais fácil de fazê-lo", diz o pediatra.
Para a mãe, alguns dos principais benefícios em armazenar o leite materno são:
Para o bebê, alguns dos principais benefícios de consumir o leite materno armazenado são:
Dificuldades do bebê
O bebê que está acostumado a mamar no seio pode não pegar a mamadeira, assim como pode não aceitar o leite materno no copinho, logo de início. O que fazer nesse caso?
"Enquanto a mãe estiver em casa, ela deve oferecer sempre e apenas o leite materno diretamente do seio. Não faça testes. Nestas situações, sugerimos que a mãe conduza tudo da forma mais natural possível, com a introdução gradual dos outros meios de oferta do leite materno – como o copinho, mamadeira – de forma alternada à mama, retirando uma mamada do dia a cada uma ou duas semanas. Esse processo é o que chamamos de desmame. Normalmente, esse processo é natural e tranquilo, porém, às vezes, requer paciência e compreensão, demandando uma atenção especial da mãe e da família em geral", destaca o médico.
Movimento #euapoioleitematerno
O maior objetivo do movimento é estimular e sensibilizar o aleitamento materno, de forma positiva e sem agressões, sem ameaças, sem discriminações. Quem quiser pode se unir ao Movimento #euapoioleitematerno. Mães que amamentam e mães que não amamentam têm a mesma voz. Ninguém é menos mãe ou mais mãe por amamentar ou por não amamentar.
*Moises Chencinski é membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários e do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo, e criador do blog #euapoioleitematerno.