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A delicada relação entre mulheres, consumo e dinheiro

25 fev 2011 às 08:36

Eu não tenho dúvidas que o mundo financeiro é machista. Piadas antigas dizem que o homem paga caro por algo que ele quer ou precisa muito, enquanto que a mulher gasta muito em algo que não quer ou nem precisa tanto. Outra mostra social desta discriminação é o jargão "não existe mulher feia, o que existe é mulher pobre". Já ouvi declarações assim de mulheres que alcançaram a fama e passaram a ter melhores condições financeiras. Por outro lado, desconheço algo tão pejorativo para relacionar o homem ao dinheiro.

Além deste aspecto cultural, que remonta a eras onde a civilização era menos desenvolvida e muito mais dependente do trabalho de braços suados que do trabalho intelectual, vemos dados oficiais no IBGE que mostram que, quanto maior o grau de instrução, maior a renda mensal do indivíduo. As mulheres têm, enquanto grupo, maior escolaridade que os homens. Portanto, a renda feminina deveria ser maior que a masculina, correto? Errado. Dados do IBGE comprovam que, mesmo com uma maior escolaridade, a renda feminina é menor que a de seus pares homens.


Eu me pergunto o porquê deste cenário e não encontro resposta. De tudo que leio sobre o tema, os fatores comportamentais e educacionais sempre são exaltados em detrimento da racionalidade matemática. Sinceramente, não creio que mulheres esclarecidas possam ser mais expostas às armadilhas de consumo do que os homens, ou mesmo se sintam fragilizadas ao negociarem seus salários. Ambos os gêneros trafegam nos mesmos lugares, são educados nos mesmos lares e recebem a mesma informação escolar (as mulheres até mais, como já dito).


A fisiologia, obviamente, distinta seria a chave para a discriminação? Se a mulher engravida e dá à luz, ficará muito tempo ausente de seu trabalho e, portanto, é merecedora de menor remuneração, como se isso fosse um prêmio pelo risco assumido pelo empregador? E se o empregador for também uma mulher, será que tal relação continuaria? Difícil mensurar respostas para estas perguntas.


Do lado do consumo, é fato que mulheres usam maquiagem, bijuterias e compram muitos sapatos. Um amigo do ramo diz que são 13 pares vendidos às mulheres para cada um que ele vende aos homens. Não duvido. Mas, mais uma vez, por quê?


A palavra "moda" tem origem na estatística e significa a maior freqüência. Ou seja, "moda" é o valor que detém o maior número de observações. Assim, se você está na moda, significa estar igualzinho(a) à maioria. Seria esta uma contradição dos que buscam deferenciar-se pela moda ou uma armadilha na qual despejam suas economias sem se dar conta do que estão fazendo? Diante de tantos questionamentos, deparo-me com um grande desafio e percebo, simplesmente, que não há como obter uma conclusão.


Veja que cerca de 79% dos que aplicam dinheiro no Tesouro Direto são homens. Há muitos anos, muitos mesmo, as mulheres compreendem a importância de manter as contas em ordem e ter as finanças organizadas, bem como de terem reservas para o futuro. No entanto, essa discrepância de gêneros, que encontramos no Tesouro Direto, se repete em outras modalidades de poupança e investimento.


Do lado do planejamento financeiro pessoal, atendo homens, mulheres e casais. De longe, mas muito lá na frente, vejo as mulheres mais flexíveis e abertas a novas idéias e visões para consertarem suas vidas financeiras, melhorarem suas rendas a partir de mudanças de hábitos e atitudes de consumo, além da forma de investirem seu dinheiro, sempre com foco em receber juros ao invés de pagá-los.


Educação, hábitos, cultura, fisiologia? Na prática, o que vejo é que as mulheres me parecem mais inteligentes.

*Por Mauro Calil, Educador Financeiro – Autor do Livro "A Receita do Bolo" (www.calilecalil.com.br).


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