A privacidade no sanitário das damas está ameaçada: o lugar virou assunto público. Ao mesmo tempo em que a publicação norte-americana ''O Livro Secreto do Banheiro Feminino'' chega ao mercado brasileiro, uma segunda obra traz à tona o mesmo tema no País. Trata-se de ''Banheiro Feminino, o Livro'', impresso pela editora As Cibernéticas para comemorar os 12 anos do site www.banheirofeminino.com.br, que lhe empresta o título, criado pela arquiteta Andrea Cals.
O banheiro de Andrea é pura ironia ácida, destilada por meio de personagens hilários, como o ''tio da limpeza'', uma espécie de consultor sentimental que ela define como ''espião masculino'' naquele espaço tão exclusivo. ''No banheiro as mulheres se solidarizam: viram a melhor amiga de quem chega chorando, emprestam batons. Ali se ouve conversas fantásticas, se lê coisas escatológicas nas portas dos lugares mais chiques'', diz.
Enquanto o livro de Andrea tem o apelo da comédia de costumes, calcada em experiências próprias compartilhadas por meio de artigos no universo on-line, a obra de Jo Barrett, nascida no Japão e naturalizada norte-americana, protege-se no romance. Em ''O Livro Secreto do Banheiro Feminino'', ela narra as aventuras da escritora Claire John, que tem uma trajetória muito parecida com a sua. A personagem garante que o melhor conselho ouvido veio de um banheiro: ''Homem não casa com mulher desesperada'', escreve.
Segundo a ficção de Jo, mulheres em conluio no banheiro são ''felinas, traiçoeiras, bruxas cruéis''. A autora chegou a essa conclusão após uma pesquisa de campo pelos banheiros do mundo. ''Enquanto as chinesas são comedidas nas confissões, as indonésias decidem se um homem visto na pista vale um sexo casual. E as canadenses acham normal fazer sexo espremidas na cabine do WC'', descreve. A curiosa filosofia sanitária da escritora resultou em uma classificação dos tipos básicos que circulam pelos banheiros.
A roteirista e dramaturga Regiana Antonini também acredita no potencial dramatúrgico do WC das mulheres. A peça ''Banheiro Feminino'', que ela escreveu em 1995, acaba de voltar ao circuito teatral. ''Tenho ainda um texto inédito, o 'Banheiro Feminino 2', composto por várias esquetes. Uma delas se passa em uma boate gay'', conta.
Para ela, o banheiro é a porta de entrada para todo o universo feminino. ''O banheiro é um close na intimidade feminina. Há coisas que uma mulher só confidencia no banheiro. Lá ela se expõe, se abre com a amiga. E esse universo sempre aguça a curiosidade dos homens: afinal, por que sempre vão juntas, por que demoram tanto no banheiro? Ele não é, definitivamente, apenas um lugar para fazer xixi'', conclui.
Os tipos encontrados nos banheiros:
1. MODELO
Marcham para dentro e para fora do banheiro como um exército de Paris Hiltons. Ficam se emperiquitando na frente do espelho, admirando a si mesmas. Se ela quiser terminar o namoro sob o argumento de que seu carro é caído, diga que a roupa dela é ''datada''. Essa palavra é a criptonita das modelos.
2. ESTILISTA
Desejam repaginar o guarda-roupa do parceiro. Preste atenção: provavelmente elas estarão certas. Querem consertar tudo, vivem com alfinetes na bolsa para socorrer as amigas.
3. MAQUIADORA
Elas usam bolsas do tamanho de manjedouras. Ocupam a bancada toda no banheiro, mas ninguém reclama: sempre emprestam os batons. E até dizem que tom combina com sua pele.
4. CABELEIREIRA
Se uma delas se mudar para sua casa a conta de luz dispara: usam todas as tomadas disponíveis. Baby liss, chapinha japonesa, secador de cabelo, elas têm de tudo!
5. CRÍTICA DE MODA
Tem humor ácido. Não tente calar sua voz: ela desempenha um serviço fundamental no banheiro. As mulheres adoram quando ela diz o que pensa: ''Quando você abaixa, dá para ver o cofrinho. Estou dando um toque'', pode ser uma de suas agulhadas.