Livro propõe vários parceiros em vez de casamento

Autora do best-seller ''A Cama na Varanda'', a psicanalista e sexóloga Regina Navarro Lins lança agora ''Amor a três''. O livro repete a parceria literária da terapeuta com seu marido, o romancista e dramaturgo, Flávio Braga, alternando as histórias criadas por ele com os ensaios dela. O formato é o mesmo utilizado nas obras da coleção ''Amores Comparados'', que reuniu os títulos ''O sexo no casamento'', ''Separação'' e ''Fidelidade obrigatória e outras deslealdades''.

Em ''Amor a três'' a autora retoma as teses do fim do amor romântico e da ineficiência do pacto de exclusividade. ''O amor romântico é calcado na idealização, isso faz com que você projete no outro o que você quer. E muita gente passa o resto da vida querendo mudar o outro. Há sinais de que as mentalidades estão mudando. Eu acredito que daqui a um tempo ninguém mais vai se fechar no amor a dois'', afirma. ''Neste momento se busca a individualidade, todo mundo quer saber das suas próprias possibilidades'', completa Regina.

Segundo a terapeuta, os 35 anos de experiência em consultório atendendo casais mostraram a ela que o modelo do casamento conduz a uma diminuição do desejo sexual entre os cônjuges. ''O casamento é o lugar em que menos se faz sexo. Casais em que não se faz sexo há dois ou três anos é muitíssimo comum'', revela a autora. Para Regina, o vilão é a exigência da exclusividade. ''O mínimo de insegurança é fundamental. É importante saber que o seu parceiro transa com quem ele quiser e você não tem nada com isso. Em vez de ficar preso a esse pacto de exclusividade que ninguém cumpre'', defende.

De acordo com Regina, intimidade e familiaridade excessivas criam uma relação de dependência emocional muito grande no casal. ''Acaba o tesão porque você tem a segurança total da dependência do outro por você'', justifica. A terapeuta explica que isso ocorre por conta da expectativa criada em relação ao parceiro. ''Quando a gente nasce, somos tomados por um sentimento de falta e desamparo. E a nossa cultura ocidental não valoriza a capacidade de você ser feliz sozinho. Então as pessoas acham que todas aquelas necessidades infantis que você tinha têm que ser colocadas em outra pessoa'', explica Regina. ''Com a familiaridade e a intimidade excessivas, responsabilidades para dividir e contas para pagar, as pessoas vão se transformando em irmãs'', completa.

A autora defende que para evitar o conflito ou a falta de desejo, sexo e amor devem ser mantidos sempre como coisas distintas. ''Você não pode colocar no sexo coisas que não são do sexo. É muito forte essa educação de que a mulher só faz sexo por amor. Na hora em que as mulheres transarem pelo sexo e o sexo for prazeroso por si só, ela não vai se frustrar'', recomenda Regina. Para ela, o casamento como é hoje, preso a leis, normas e cobranças, tende a ceder espaço a relacionamentos com vários parceiros. ''O amor a três é uma das possibilidades. Se fala também em poliamor, que é amar várias pessoas ao mesmo tempo. A mudança é aos pouquinhos, o que se tem hoje são sinais'', afirma a sexóloga.

No livro, Regina distingue o amor a três, ou 'ménage à trois', do triângulo amoroso. Enquanto este caracteriza-se pela prática do adultério, na qual um dos três é excluído, no primeiro as três partes envolvidas têm status igual e a relação se inicia a partir de um consenso. ''O 'ménage' exige honestidade e, no mínimo, a aquiescência dos três'', ressalta. E mesmo quando há filhos, Regina não vê obstáculos para o equilíbrio. ''A criança só precisa de três coisas: ser amada, valorizada e respeitada'', defende.

De acordo com Regina, ela e Flávio não vivem a experiência do amor a três, mas evitaram o pacto de exclusividade. ''Eu não estaria casada com ele há oito anos se ele fosse um careta'', afirma a autora.

SERVIÇO

- Amor a três
Autor - Regina Navarro Lins e Flávio Braga
Editora - BestSeller
Páginas - 128
Quanto - R$ 19,90