A compra de brinquedos nesta época do ano requer alguns cuidados para evitar que, em vez de diversão, eles tragam problemas para as crianças e dores de cabeça para os pais. A jornalista especializada em consumo e editora do site Compra Consciente, Angela Crespo, sugere que o consumidor verifique, antes da compra, se o brinquedo escolhido tem o selo de certificação do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), que testa e aprova todos os produtos disponíveis no mercado,
"O segundo passo é analisar o rótulo para descobrir se não há nenhuma substância tóxica em sua fórmula", alerta Angela. Segundo a jornalista, no site do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), há uma lista de brinquedos que não foram aprovados pela instituição. No entanto, é preciso ficar atento ao noticiário, pois, no ano passado, brinquedos que foram aprovados pelo Inmetro tinham substâncias tóxicas, disse ela. "Nem sempre a lista é atualizada rapidamente."
O coordenador estadual da Secretaria de Saúde, Ricardo Tardelli, afirma que, com respeito às regras básicas de segurança, é possível comprar "o brinquedo dos sonhos das crianças" sem colocar sua saúde em risco. Este ano, a secretaria divulgou sugestões que os pais devem observar antes de fazer a compra. Uma delas é evitar brinquedos com formas e cheiros que imitem alimentos, porque as crianças tendem a engoli-los, e objetos com ruídos excessivos, porque podem causar sérios danos à audição.
Angela Crespo recomenda ainda verificar se o presente escolhido está de acordo com a idade da criança: "No selo do Inmetro, há uma indicação da idade ideal para os consumidores mirins". A Secretaria de Saúde alerta ainda para a necessidade de atenção redobrada aos brinquedos com partes cortantes ou pontiagudas, que podem ocasionar ferimentos; aos que que possam levar a sufocamento (cordas, balões ou peças muito pequenas) e aos que possam provocar choque elétrico. Por último, deve-se verificar o prazo de validade do produto. Além disso, é preciso verificar se o brinquedo não solta peças, porque a criança pode engoli-las.
A jornalista também comenta que, para alegrar as crianças, não é preciso gastar muito dinheiro. "O brinquedo é uma ferramenta para a criança desenvolver histórias, e nem sempre o mais caro ajuda os pequenos nesta empreitada", afirma.
Substância tóxica em brinquedos
A presença de uma substância tóxica fez com que 8 de 17 brinquedos de plástico para crianças de até 3 anos fossem reprovados em teste realizado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Com exceção de um deles, o Shrek 3, que era pirateado e não tem fabricante identificado, todos continham o selo de qualidade do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro).
Os brinquedos apresentaram ftalato na sua composição, substância que dá maleabilidade ao plástico (PVC) e é suspeita de causar problemas nos rins, no fígado, no sistema reprodutivo e ser potencialmente cancerígena. O ftalato pode ser absorvido no contato com a pele, por inalação ou pela saliva. Crianças até 3 anos estariam mais expostas porque costumam colocar tudo na boca e são naturalmente mais frágeis.
De acordo com Renata Waksman, presidente do departamento de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria, um estudo realizado em Porto Rico relaciona o ftalato à puberdade precoce em meninas. ‘Muitas vezes se falava do chumbo presente nas tintas (dos brinquedos) e não se dava tanta importância a outros produtos. E o que a gente vê agora é que há outros que são tão tóxicos ou até mais’, diz Renata.
Desde março deste ano, o uso de determinadas quantidades e categorias de ftalatos em brinquedos é proibido pelo Inmetro. A portaria, no entanto, não exerce efeito sobre os produtos fabricados antes deste período.
‘O Idec testou brinquedos fabricados anteriormente a isso (março)’, afirmou Gustavo Kuster, gerente da divisão de programas de avaliação de conformidade do Inmetro.
Outro lado
Os fabricantes dos brinquedos reprovados no teste afirmaram ao Idec estarem adequando seus produtos.
A Algazarra, que fabrica Mônica e Meu Primeiro Boliche, diz que colocará etiquetas proibindo estes produtos para menores de 3 anos – o tipo de ftalato encontrado neles é proibido só para menores dessa idade. Já a BS Toys, responsável pelo Smile & Learn e pela Turminha Legal, disse supor se tratar de um lote antigo, e que verificará a existência de produtos fabricados antes de março.
A Grow, que produz o Garu, enviou ao Idec documento do laboratório SGS que mostra que o produto estava adequado. O caso está sendo apurado. Responsável pela Lovely Collection, a Saga informou que a importação do brinquedo foi anterior a março deste ano, mas se comprometeu a comunicar seus clientes a requerer a devolução dos produtos. A Plastbrinq, fabricante do Funny Car, diz não usar ftalato desde novembro de 2007.
Em nota, a Mattel afirma não ter recebido do Idec dados sobre a metodologia utilizada e que, ‘dessa forma, não é possível esclarecer detalhes pertinentes aos resultados’.