O consultor André Castellini, diretor da Bain & Company Brasil, acaba de receber um email da Latam dizendo que o voo da sua família de São Paulo (SP) para Porto Seguro (BA) esta semana foi cancelado. "Felizmente, nos colocaram em um novo voo no mesmo dia", diz Castellini, com larga experiência no setor de aviação.
Já a convenção da multinacional americana Bain & Company, marcad a para este mês em Las Vegas, nos Estados Unidos, foi cancelada e reagendada para março. "A avaliação da empresa é que haveria muita dor de cabeça com cancelamento de voos em todo o mundo este mês. Decidiram postergar o encontro", afirma.
Os dois exemplos ilustram bem o atual momento do setor de aviação civil no mundo: a rapidez com que a variante ômicron do novo coronavírus está se disseminado vem causando uma onda de cancelamento de voos, devido à contaminação da tripulação.
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No Brasil, entre a última quinta-feira (6) e esta segunda-feira (10), mais de 500 voos foram cancelados por Azul e Latam Brasil. Até esta segunda, a Gol afirmou que nenhum dos seus voos havia sido impactado por contaminação da tripulação.
Na avaliação de Castellini, a julgar pela experiência da África do Sul, onde a ômicron foi identificada, o ciclo mais agudo do contágio deve durar dois meses. "Devemos ver remarcações de voos até o fim de fevereiro", afirma.
Segundo o consultor, os voos costumam ser colocados à venda entre seis e três meses de antecedência da viagem. "Ninguém sabia da ômicron e do seu poder de disseminação", afirma. "Mas agora, depois de terem sido pegas de surpresa, as aéreas podem refazer os cálculos de contágio, saber quanto dos seus voos podem ser operados e quais devem ser cancelados", diz.
Neste último caso, as aéreas levam em conta os voos de menor ocupação ou aqueles em que seja mais fácil reacomodar os passageiros. Com isso, as companhias remanejam o pessoal que está de folga para ficar em reserva, ou seja, de prontidão para o trabalho.
"Dessa forma, as aéreas podem cancelar voos com maior antecedência, sem pegar o passageiro desprevenido", diz Castellini. "Dificilmente elas vão contratar mais gente agora, porque correriam o risco de ficar com pessoal ocioso depois que a variante perder força".
Uma exceção, porém, é a Azul. A operadora é a mais afetada pela ômicron, porque já estava operando com 100% da sua capacidade. A Folha de S.Paulo apurou que a empresa está contratando pilotos e, principalmente, comissários de bordo.
Retomada do turismo doméstico pode ficar comprometida A nova onda de contaminação pela Covid-19 pega as aéreas em um momento delicado. Janeiro é mês de férias. As empresas estavam comemorando a retomada do turismo doméstico e chegando perto dos níveis de ocupação de 2019, antes da pandemia.
Nesta segunda (10), o Procon-SP notificou Azul, Latam e Gol pedindo explicações sobre os cancelamentos de voos nos últimos dias. As empresas têm até a próxima quarta-feira (12) para informar quantos voos foram cancelados, quantos passageiros foram afetados, qual a previsão para os próximos 15 dias e que plano de contingência foi adotado para minimizar os danos aos consumidores.
O Procon-SP também quer saber quantos funcionários estão com Covid e com influenza.
Na opinião do analista da XP Pedro Bruno, os danos da ômicron aos resultados das aéreas deve ser pontual, mas comprometer o primeiro trimestre. "Ainda considerando que os cancelamentos de voo persistam até o fim de fevereiro, esse impacto deve ser diluído nos resultados das empresas ao longo do ano", afirma Bruno, destacando que a Azul apresentou uma retomada mais rápida que as rivais Gol e Latam.
A XP, que acompanha o desempenho de Azul e Gol, mantém a recomendação neutra para compra dos papéis. "A alta do dólar e do petróleo ainda pesam sobre os custos das companhias", afirma Bruno.