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Nós, os estrangeiros

23 nov 2005 às 11:00

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Uma pergunta que não quer calar é: até quando emissoras como Bandeirantes e Record continuarão pensando que o Brasil se limita a São Paulo? Programas como "Tudo a ver" ou o clássico "Brasil Urgente" insistem em ser jornais regionais para uma rede nacional. Até quando os habitantes dos outros estados da federação continuarão sendo tratados como "estrangeiros"?

Fato que o estado de São Paulo concentra enorme parte da economia nacional, fato que na Grande São Paulo residem cerca de 20 milhões de pessoas, fato que criar uma programação local de qualidade é difícil e caro. Mas será que nós, o resto do Brasil, não merecemos nada mais pertinente para assistir, algo com que possamos nos identificar?

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Assistindo o Brasil Urgente, do emblemático Datena, você fica por dentro de toda a criminalidade paulistana e sempre no final de ano, você é presenteado com as mesmas imagens de enchente na capital paulista. O caso do Tudo a Ver é menos grave, os temas abordados são mais leves, informais. Ás vezes, até aparece uma matéria pequena de outra região, mas a programação é centrada em São Paulo, principalmente o quadro "Assim não dá" do carismático Luciano Faccioli, que só retrata problemas do cotidiano paulista. Afinal qual é o interesse de um morador de Curitiba em saber que uma praça, em não sei qual bairro de São Paulo, está largada a trombadinhas e não tem sua grama cortada há mais de seis meses?

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São coisas como essa que os telespectadores baianos, mineiros, capixabas, potiguares e de outros 21 estados da federação mais o Distrito Federal, são obrigados a engolir.

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Com uma programação local de qualidade, o telespectador e a própria rede de televisão sairiam ganhando. Nós receberíamos notícias da nossa região, de acordo com nossa realidade e a emissora certamente lucraria mais com anúncios e publicidade, já que mais gente estaria assistindo aos programas. Quando será que essas emissoras irão atentar para esse fato?


Outra coisa escabrosa que acontece, nesses mesmos programas e emissoras, é a tal da divisão da rede. Você está assistindo lá o seu programa, quando de repente o apresentador fala "Nosso programa agora continua só para São Paulo, o resto do Brasil fica com a programação local". Ou seja, a notícia que você estava vendo é cortada no meio para começar o jornal local vespertino. Várias vezes, no Tudo a ver da Record, isso acontece no meio de entrevistas e matérias. Você, o pobre telespectador "estrangeiro" fica sem saber a conclusão da matéria, a moral da história.

Desrespeito e falta de profissionalismo. Poucas emissoras mantém uma programação regional variada e de qualidade. Regional mesmo no Paraná temos os jornais televisivos matutinos e vespertinos, incontáveis programas de baladas e a programação religiosa do "Fala que eu te escuto". Raros são os exemplos de programas que fogem daquilo que é comum. A TV Iguaçu possui um bom programa de entrevistas, mas que passa na madrugada de domingo para segunda, a RPC traz sábado à tarde um programa voltado para jovens, o PLUG, nos moldes do Patrola gaúcho, mas isso é raridade. São ótimas iniciativas, mas raras são as que detém um nível mínimo de "assistibilidade". O telespectador estrangeiro urge por atenção e programas pertinentes à sua realidade local. Chega de ver congestionamento na marginal Tietê!


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