Quadrinhos

Teatro marginal vai para os quadrinhos

03 abr 2010 às 16:02

Selo Barba Negra, que chega agora ao mercado nacional, busca proposta inédita no mercado

Há dez anos, o mercado nacional de quadrinhos estava começando a deixar de engatinhar para andar com as próprias pernas, em uma clara renovação num setor no qual seria impensável conceber publicações indies gringas em volumes de 300 ou 400 páginas. Os tempos estão mudando e, pelo que tudo indica, para melhor. Um sinal dessa guinada vem do recente anúncio de mais um selo dedicado à nona arte em solo tupiniquim: o Barba Negra, comandado pelo carioca S. Lobo em parceria com o conglomerado português Leya.


O anúncio vem em momento de crescimento de quadrinhos nas livrarias e depois de uma boa passagem de Lobo na revista ''Mosh'' e pelo selo Desiderata, atualmente na Agir/Ediouro. ''No começo da conversa achei que quisessem somente um álbum, mas eles têm uma compreensão muito grande do mercado de quadrinhos, que está em crescimento por aqui'', conta Lobo, que ultimamente vinha se dedicando a editar poucos álbuns e a escrever mais quadrinhos, como ''Copacabana'', lançado no ano passado em parceria com o lado do ilustrador Odyr.


O conglomerado português Leya nasceu em 2008 e engloba 18 editoras e estúdios, com mais de 500 colaboradores, e decidiu chegar ao mercado brasileiro depois de notar as boas investidas de editoras como a Ediouro, a Rocco, Companhia das Letras e a LP & M com quadrinhos em livrarias.


A Leya pretende lançar até o final do ano dez álbuns nacionais e alguns de destaque na crítica internacional, como ''Stitches'', de David Small, previsto para agosto; a webcomic iraniana ''Zahra's Paradise'' e títulos da First Second, que já teve no Brasil a publicação de ''O Chinês Americano'', pela Quadrinhos na Cia., selo da nona arte na Companhia das Letras.


Um dos diferenciais que vem chamando a atenção dessa parceria entre a Leya e o editor Lobo é a possibilidade de publicar no grande mercado propostas de união de linguagens vistas mais comumente no cenário alternativo. O quadrinho encontra a música já na primeira produção nacional do selo Barba Negra, com ''A Balada de Johnny Furacão'', baseada em canção de Erasmo Carlos.


A interação com outras linguagens no mainstream segue com a inédita parceria da nona arte com o teatro, em especial, o marginal. ''Entre os lançamentos estão uma peça do Plínio Marcos e uma do Mário Bortolotto. Não posso dizer ainda que peças serão e nem quem vai fazer porque os contratos ainda estão em andamento'', comenta Lobo.


Para o editor, esse tipo de adaptação, apesar de não ser comum, deve ser espontânea, devido aos próprios autores originais. ''O Plínio Marcos e o Mário Bortolotto, por exemplo, já flertavam com os quadrinhos. Isso também ajuda um pouco essa transposição.'' A escolha do teatro marginal veio de comum acordo entre Lobo e a Leya. ''Essa foi uma proposta que a própria editora trouxe para mim. O teatro é uma promessa nos quadrinhos e o teatro marginal é o que gosto.''


Para repetir o sucesso que fez na Desiderata, como no álbum ''Irmãos Grimm em Quadrinhos'', Lobo quer trabalhar mais uma vez com visual e acabamento caprichado, fruto de planejamento meticuloso com o designer Christiano Menezes, com quem divide o escritório Retina 78. ''Isso começou na Desiderata, quando a gente optou por ter um designer integrado à equipe porque na maioria dos lugares você faz a coisa em partes. Muitas vezes dá certo na hora de juntar, outras não. E com a gente trabalhando com um alguém na equipe as coisas podem funcionar melhor.'' Ainda não há previsão de preços, Lobo adianta apenas que serão valores compatíveis com o mercado.


Lobo está confiante na investida da Leya, especialmente porque acredita no amadurecimento dos leitores e do próprio mercado brasileiro. ''Hoje, as pessoas por aqui têm a compreensão de que quadrinho é legal. Há 20 anos, quando comecei, era difícil você conversar com alguém em uma empresa. Agora, você vai vender os projetos e o cara sabe que aquilo ali é legal e dá retorno.''



MÚSICA DE ERASMO CARLOS COMO TEMA


''Esta é a história de Johnny Furacão / Cara que bem cedo desejou ser campeão / Vivia alimentando esse desejo profundo / Da pista ele queria ser o melhor do mundo.'' O primeiro dos dez álbuns prometidos pelo selo Barba Negra será baseado na canção ''Johnny Furacão'', de Erasmo Carlos.


Na trama, Cid e Johnny, ambos pilotos, são dois grandes amigos que acabam se confrontando na decisão de um racha. Uma fatalidade dá a vitória a Cid, que se casa com a ex-namorada de Johnny após o acidente.


Tempos depois, Alex, filho de Cid com a antiga namorada de Johnny, já adulto, começa a seguir os passos do pai nas pistas. No entanto, a vinda de um casal e de uma gangue de motociclistas hostis na região traz acontecimentos bizarros e algumas revelações do passado. A história é produzida por Eduardo Filipe, que assina como Sama, e por enquanto ainda não há a previsão de lançamento ou preço.


O material citado acima pode ser encontrado em Curitiba na Itiban Comic Shop (Av. Silva Jardim, 845). O telefone de lá é (41) 3232-5367.


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Twitter: /clangcomix

A maior parte dos textos publicados nesta coluna foi publicada na Folha de Londrina, tanto na versão impressa quanto na virtual.


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