Quadrinhos

''Motion Comics'': futuro dos quadrinhos?

31 dez 1969 às 21:33

Curitiba - Já era de se esperar que alguém da indústria dos quadrinhos ''crescesse o olho'' sobre as produções em novos formatos, já que o impacto da era digital tem causado grande prejuízo devido a pirataria. Assim como acontece com a música e o cinema, as empresas vêm tentando se adaptar para capitalizar sobre seu material, com o objetivo de combater os bucaneiros virtuais, promover personagens, histórias e artistas e, claro, lucrar uma grana extra.

A novidade, amplamente discutida na última edição da New York Comic Con, feira de quadrinhos da Big Apple, é a criação de formatos específicos para mídias digitais a partir do conceito de ''motion comics'', uma espécie de revista em movimento com a narrativa tradicional acrescida de efeitos de câmera e áudio.


A coisa funciona mais ou menos assim: você pode usar seu iPhone ou seu XBox, mesmo seu computador, para curtir histórias em quadrinhos filmadas e dispostas em uma narrativa com closes de câmera, panorâmicas e recursos semelhantes em meio a onomatopéias e diálogos sonorizados.


Isso começou há alguns anos, especialmente com a Marvel Comics -como na série ''Guerra Civil''-, para promover grandes sagas ou ''eventos do ano''. Filmes como ''Eu Sou a Lenda'' e a recente produção de Stephen King, ''N'', também tiveram tratamento semelhante, com relativo sucesso. Esse formato agradou os fãs, que chegaram a criar suas próprias versões de ''trailers'' de suas sagas favoritas, a exemplo da ''Guerra dos Anéis'', protagonizadas pelos Lanternas Verdes.


A Marvel Comics, que já flertava com essa novidade, vêm disponibilizando sua biblioteca em formato digital, seja em DVDs ou on-line. O escritor Brian Michael Bendis, um dos novos arquitetos do universo da Casa das Ideias, adiantou em Nova York que vai disponibilizar a próxima série da Mulher-Aranha tanto no impresso quanto em ''motion comics'', vendidos em DVDs.


A MTV também percebeu o grande apelo desse novo formato entre os jovens -os mais ávidos por tecnologia- e vem providenciando material do super-heroi Invencível, da Image Comics, publicado no Brasil pela HQM Editora.


Quem deu o maior passo nesse sentido até agora foi a Warner Bros. detentora dos diretos de todas as criações da DC Comics. A empresa colocou na rede via iTunes os ''motion comics'' de Batman, com a história ''Mad Love'', e de Watchmen. O primeiro número da maxissérie foi transformada em 25 minutos, com Rorschach falando sobre suas verdadeiras percepções a respeito da cidade que vive, com direto a ''dramatização'' e tudo mais. Para conferir é só dar uma olhadinha no endereço www.ew.com/ew/static/watchmen/watchmen.html.


Obviamente, a estratégia da Warner vai de encontro com a promoção dos filmes de seus personagens. No entanto, como são vários capítulos, vendidos a US$ 1,99, a expectativa é de lucrar ainda mais sobre material consagrado, já que o medo de perder o mercado impresso diante da facilidade dos leitores conseguirem revistas escaneadas por meio de troca de arquivos cresce a cada dia.


Em entrevista ao site Newsarama (www.newsarama.com), a presidente da Warner Premiere, Diane Nelson, procurou exaltar outros aspectos dessa nova aposta. Para ela, a principal razão da DC Comics oferecer os ''motions comics'' é a de maximizar a experiência de seus clientes de acordo com as possibilidades das novas mídias.


A primeira crítica dos leitores de quadrinhos com relação à novidade vai de encontro com duas das principais ferramentas de narrativa do mestre Will Eisner: a composição e o layout. Ou seja, a tela do computador ou de um iPhone, por exemplo, limitam a experiência de artistas e fãs. Enquanto os primeiros perdem a liberdade de criar linhas de ação amplas, os outros são obrigados a acompanhar a aventura de forma bem mais linear, especialmente quando o uso da sequência é vertical.

O ponto positivo fica para a disposição das empresas entenderem e disponibilizarem material de acordo com o desejo e a realidade dos fãs, que já não são os mesmos do século passado. Como tudo isso é muito novo, fica difícil saber se a ideia vai dar certo. Quem vai decidir, no final das contas, é você, leitor.


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