Se você é fã do Hulk ou apenas alguém que tem interesse em saber realmente porquê o monstrão verde é tão adorado pelos leitores de quadrinhos, a oportunidade está nas bancas este mês, com ''Hulk: Cinza''. A minissérie, editada aqui pela Panini Comics, retrata os primeiros dias de Bruce Banner e seu brutal alter-ego, de forma bem mais humana e convincente do que foi mostrado na película de Ang Lee, no ano passado.
''Hulk: Cinza'' é a parte final -pelo menos por enquanto- da ''trilogia das cores'', lançada pela Marvel, em edições produzidas pelo roteirista Jeph Loeb e o ilustrador Tim Sale. Anteriormente, a dupla, em uma proposta semelhante -a de contar os primeiros dias dos super-heróis-, já havia feito ''Demolidor: Amarelo'' e ''Homem-Aranha: Azul''.
O material de Loeb e Sale ganhou notoriedade após o sucesso nas minisséries ''Superman: As Quatro Estações'', ''Batman: Dia das Bruxas'', ''Batman: O Longo Dia das Bruxas'' e ''Batman: Vitória Sombria''. Em todas as histórias, a dupla procurou trabalhar com a essência dos personagens, com conceitos minimalistas sobre o universo em que habitam.
E em ''Hulk: Cinza'', eles criam mais do mesmo, o que é muito bom. Assim como haviam feito com Demolidor e Homem-Aranha, ambos se concentram inicialmente no que a cor representa para o herói. Muitos sabem que o Hulk é verde por uma falha de impressão e a idéia original do criador, Stan Lee, era produzí-lo cinza. Assim, os autores procuraram mostrar que, diferente de Banner (a parte boa, que seria representada pelo branco) ou Hulk (a parte má, normalmente sugerida como preto), o personagem é mais complexo do que parece e sua personalidade pode ser descrita em camadas de cinza.
Isso já é percebido visualmente, quando Sale aproveita o talento do colorista Matt Hollingsworth (Alias) para dar o efeito de ''cor lavada'', em técnicas de aguada de guache e nanquim. Sale aproveita bem o espaço das páginas e trabalha com vários planos em traços simples e cartunizados, principalmente quando lida com as expressões dos personagens. A diagramação imposta para a publicação é muito inteligente: Sale abusa de splash-pages (páginas inteiras ou duplas) com ângulos incomuns para mostrar a frustração, solidão e raiva de Hulk.
Loeb mantém o mesmo estilo de narrativa desde o primeiro título da ''trilogia das cores''. Coloca um gancho para o momento atual do personagem e trabalha com recordações. Ele não procurar criar algo muito grande, apenas faz o necessário para explicar como o personagem chegou a ser o que é e a razão pela qual é considerado um super-herói. Dessa forma, o roteirista coloca Banner/Hulk, basicamente, em um mundo que tem três grandes conflitos: a relação amorosa, com Betty Ross; os conturbados laços familiares; e a briga interna entre o homem e o monstro.
Esses três tópicos conseguem afastar de vez a sensação de que o leitor está apenas fazendo uma releitura moderna de ''Dr. Jekyll and Mr. Hyde'', de Robert Louis Stevenson. Loeb chega até a homenagear Stevenson com uma passagem ou outra (principalmente quando Banner se transforma em Hulk) e também lembra ''Frankenstein'', de Mary Shelley. Afinal de contas, o monstro-herói não poderia ser criado apenas com a explosão de raios-gama mas, especialmente, pela mente do cientista dentro da criatura.
O bom trabalho realizado pela dupla, principalmente de Loeb, rendeu ao escritor ótimas chances de escrever outras boas histórias. E ele não decepcionou. Foi dele o grande arco do ano no Brasil, na revista Batman, com a série ''Silêncio'' e o roteirista também é responsável por boa parte do sucesso da série televisiva Smallville (que conta os anos colegiais de Clark Kent, o Superman), da qual é consultor.
''Hulk: Cinza'', editado pela Panini Comics, terá o formato americano (17cm x 26cm), com 52 páginas, ao preço de R$ 4,50, em três edições mensais. Como a distribuição é setorizada, a publicação poderá ser encontrada no início do mês em lojas especializadas mas só a partir da segunda quinzena nas bancas paranaenses.
Música+Quadrinhos: Say Anything+Hulk: Cinza