Curitiba - O Capitão América está morto. A Liga da Justiça, em processo de renovação. Os dois acontecimentos, das rivais Marvel Comics e DC Comics, respectivamente, já foram revelados há algum tempo nos Estados Unidos e estão prestes a acontecer aqui, a partir dos megaeventos Guerra Civil e Crise Infinita, sagas publicadas no Brasil pela Panini Comics e que vêm servindo para redefinir o universo de super-heróis para os próximos anos.
A principal razão para tantas mudanças acontece devido ao crescente interesse por figuras da mitologia moderna, como Homem-Aranha, X-Men, Vingadores, Batman, Superman, Liga da Justiça, entre outros. Interesse esse impulsionado pelos filmes de sucesso desses personagens, que atrai novos leitores e reacendem a vontade de quem tinha parado a voltar a acompanhar as revistas de super-heróis. E que, obviamente, traz mais dinheiro para as produtoras e editoras.
Se o público passou a observar ainda mais de perto a vida de Bruce Wayne, Peter Parker, Steve Rogers ou Clark Kent, as revistas passaram a ter um tom levemente ''cruel'', com heróis falíveis, mais humanos, ainda poderosos, mas um tanto sombrios. Essa é a tendência que vem caminhando junto com as adaptações, já que a audiência quer um ponto de identificação maior, algo mais real, diferente daquelas histórias sem pé nem cabeça de geringonças tecnológicas, que costumavam povoar o universo da fantasia e ficção nos cinemas há 20 ou 30 anos.
O sucesso dos filmes baseados em quadrinhos, no entanto, gerou um fenômeno interessante. Ao ponto que revelou com mais precisão o que o público quer, também anunciou a iminente decadência do mercado de revistas de super-heróis. As editoras perceberam que quem vêm comprando e prestigiando esses títulos são as mesmas pessoas que quando criança tiveram a oportunidade de ler um gibi e não novos consumidores. Ou seja, a renovação de leitores é mínima.
Razões para a distância dos novos leitores, ou os casuais, não faltam. Os público iniciante, aqui e nos Estados Unidos, tem menos poder aquisitivo para comprar revistas de US$ 2,99 ou R$ 6, R$ 7. Além disso, competem na mesada do jovem a Internet, o shopping center, o videogame, o iPod, entre outras coisas. Por causa disso, o mercado vê o crescimento anual de publicações de outros gêneros e estilos, como os quadrinhos orientais -mangás e manhwas- e edições de luxo, encadernados para colecionadores, a exemplo das coletâneas Absolute e Omnibus. Até mesmos as editoras de livros, que em território norte-americano não costumavam se arriscar nesse filão, começam a apostar em edições especiais em busca da grana dos nerds mais velhos.
As editoras dizem não ter combinado mas fato é que Marvel e DC Comics entenderam com os japoneses que é preciso fazer quadrinhos para todos os bolsos e gostos para sempre ter leitores. Por isso, as duas fizeram um ''reboot'' em seus universos, ou seja, analisaram e reformularam, ''zeraram'' os conceitos de seus super-heróis.
O primeiro passo foi dar um motivação suficiente para que os leitores pudessem ter interesse ou voltassem a acompanhar essas revistas. Em seguida, as editoras criaram eventos interligados para tornar a leitura e seus universos mais coesos, para que o público não fosse obrigado a amargar mais erros de continuidade. O terceiro, e mais importante para Marvel e DC, foi revitalizar personagens antigos e balancear a força de suas criações para ampliar o leque de publicações com qualidade relativamente razoável. Claro, tudo isso para, inicialmente, aumentar as vendas e em seguida atrair mais atenção, especialmente do público casual.
Assim nasceu na Marvel o que hoje chama-se Guerra Civil, que tem prévias chegando aos poucos aos títulos mensais brasileiros. Resuminho: um incidente envolvendo jovens super-heróis em um reality show culminou na morte de centenas de pessoas. Os Estados Unidos pós-11 de setembro resolveram então registrar os superseres para controlar sua diferenças e evitar novas tragédias. Metade dos heróis e vilões, liderados pelo Homem de Ferro, aceitou. A outra metade ficou sob liderança do Capitão América.
O que se vê então é uma referência à Guerra da Secessão, com gente de convicção e ideais fortes lutando uns contra os outros, com objetivos diferentes e finalidades semelhantes. Essa briga toda culmina na morte do Capitão América, mas no fortalecimento de personagens de segunda linha, além de muita polêmica. Justamente o que a Marvel queria e que assegurou o topo do ranking de vendas.
Do outro lado, a Crise Infinita, atualmente em andamento no Brasil. O pessoal descobriu que o rolo todo de universos paralelos não foram totalmente solucionados em Crise nas Infinitas Terras (uma história complexa lançada há alguns anos) e agora os heróis precisam unir forças para acabar com planos malignos de versões deturpadas das outras Terras.
A DC Comics deu um jeito de explorar núcleos que andavam apagados ultimamente, como suas histórias espaciais e o mundo mágico do universo de super-heróis. Assim, diversas ramificações serviram como ponto de partida para rever personagens, criar alguns novos, reestabelecer e gerar elementos que andavam em falta, como a Tropa dos Lanternas Verde e a linhagem de Capitão Marvel.
É bem verdade que em meio a tantas revistas, personagens, ordem cronológica, batalhas, reformulações e reflexões, há muita porcaria. No entanto, aqueles curtos lampejos de genialidade, somados a boa arte e um toque de criatividade ainda têm assegurado um futuro, se não promissor, ao menos interessante de ser notado. Afinal de contas, esse é o caminho para onde vai a mitologia moderna.
O material citado acima pode ser encontrado em Curitiba na Itiban Comic Shop: Av. Silva Jardim, 845. Fone: (41) 3232-5367.