Poesia e histórias em quadrinhos raramente ganharam (e ganham) espaço no mercado de quadrinhos no Brasil e no mundo, com exceção de Sandman, de Neil Gaiman - publicação pop que mais se aproxima dessa fusão. A razão pela falta de interesse de editoras em publicar o material talvez esteja justamente em seu conteúdo bastante subjetivo: o ritmo, a linguagem, os desenhos e o texto quase nunca seguem os padrões convencionais da arte seqüencial e a mensagem (como também sua finalidade) poucas vezes é hermética ou linear.
Mas interesse não falta para os leitores. Prova disso são os inúmeros fãs e a regularidade do trabalho do material produzido pelo mineiro Edgar Franco. Há mais de uma década no underground do quadrinho brasileiro, o autor já é bastante conhecido por suas HQs de tom poético e traços obscuros, únicos. As histórias de Franco trazem reflexões sobre o ser e a condição de sua existência. A linguagem, na maioria das vezes, prima pelas mensagens subliminares e a abstração da realidade através do questionamento do caos e da ordem no espaço e tempo.
Para diminuir a distância entre suas criações e os leitores, Franco decidiu então repensar a linguagem das HQs para o universo online. Desta forma solucionaria o maior problema para a produção de uma HQ de papel: a impressão e sua distribuição.
A partir daí criou o conceito de HQtrônica - uma nova maneira de contar histórias, que une os recursos da web com a arte seqüencial. Para isso, estabeleceu alguns pontos para caracterizar os quadrinhos na internet e criar uma linguagem que transita entre a definição de quadros estáticos de Eisner e McLoud com animação.
Da mesma maneira que a internet surge como uma ferramenta, também modifica a maneira convencional de criação: os balões precisam ser maiores para melhor leitura e não são mais estáticos - o mesmo espaço utilizado para uma fala pode dar lugar a uma outra; pode-se incluir uma trilha sonora e também há a possibilidade de animar quadros; a área visível de todo o painel diminui e a utilização de cores é ilimitada.
Foi então que nasceu NeoMaso Prometeu: uma história ambientada num futuro próximo, que projeta a relação entre a tecnologia e os avanços da genética. Em NeoMaso, clones e seres híbridos entrelaçam-se e, através das palavras o responsável pela gênese das criaturas, Edgar Franco, discute até que ponto estamos envolvidos e/ou preparados para essas questões. E mais: através dos novos recursos, dá-nos a chance de espionar (não escolher) qual é o preço que se paga por "brincar de Deus". Um conto pós-humano sobre a sociedade moderna.
Confira a história NeoMaso Prometeu, de Edgar Franco
Música+Quadrinhos: Nine Inch Nails+NeoMaso Prometeu