Quadrinhos

DC Comics pode mudar de casa no Brasil

14 set 2006 às 11:00

Curitiba - Ao que parece a interminável e deliciosa rivalidade entre a Marvel Comics e a DC Comics deve chegar ao Brasil. As maiores editoras do mundo, que têm como carro-chefe os super-heróis, atualmente são publicadas pela Panini Comics, que deve deixar a turma de Batman e Superman de lado. A Pixel Media pode ser o novo abrigo da Liga da Justiça.

Os boatos tomaram conta dos fóruns e salas de bate-papo sobre quadrinhos na rede desde a última segunda-feira. Fontes extra-oficiais deram como certa a mudança de casa da DC Comics. Teria sido uma estratégia da própria empresa do grupo AOL-Time-Warner, que pretende levar a histórica rivalidade com a Marvel em escala mundial.


Por enquanto, ninguém confirma nada. Procurado pela reportagem da coluna, a direção da Panini Comics não quis revelar nada a respeito e também não deu garantias de que as revistas da linha DC -como Batman, Superman e Liga da Justiça- terão continuidade na editora nos próximos meses.


A Pixel Media também evitou comentários. ''Bem que eu gostaria de ter a DC Comics. Por enquanto não posso falar nada sobre o assunto. Posso dizer apenas que seria importante se a Marvel e a DC fossem concorrentes no Brasil como é nos Estados Unidos. A concorrência é a alma do negócio. Além disso o material poderia ficar melhor, porque a Panini vai querer fazer melhor com a Marvel e a editora que tiver a DC não vai querer ficar para trás'', afirmou André Forastieri, fundador da editora Futuro, parceira da carioca Ediouro na composição da linha de quadrinhos Pixel Media, responsável por álbuns europeus e pela série Spawn, de Todd McFarlane.


Uma resposta definitiva sobre o assunto deve ser anunciada até o final deste mês. Até lá, os leitores nada devem temer. Afinal de contas, a concorrência pode trazer material diferenciado e briga por qualidade, além de redução de preços.


MISTER X


Demorou algum tempo até o mundo aceitar o quadrinho como nona arte e, especialmente depois dos explosivos anos 70, vários segmentos da cultura passaram a transitar por aí de mãos dadas com a arte sequencial. Uma das provas disso está no volume definitivo de Mister X, obra revolucionária do início dos anos 80 e que é compilada no Brasil pela Devir Livraria.


Tudo começou quando o diretor de arte Dean Motter decidiu empregar técnicas de grandes escolas aos quadrinhos, depois de passar um tempo trabalhando no ramo da música, produzindo capas para discos. Pela primeira vez, havia uma preocupação específica com a identidade visual, o design não só do produto mas também de seu conteúdo.


Assim, Motter recorreu à estruturas art-deco, à Metropolis retro-futurista, ao Bauhaus, ao noir e ao expressionismo alemão para gerar uma narrativa climática, tudo com as belíssimas capas Paul Rivoche (capista dos desenhos animados de Batman). Isso caiu como uma bomba no início dos anos 80, quando a pop-art já era sucesso com Andy Warhol.


O projeto, no entanto, foi prejudicado pela diferença de estilos. Os irmãos Hernandez, consagrados com Love & Rockets, não levaram ao pé da letra o lado soturno de X e deixaram o protagonista um tanto caricato e desajeitado. Além disso, a arte da capa e a proposta artística nada lembravam o interior da revista. Somente anos mais tarde, já nos anos 90, Motter conseguiu fazer o projeto que queria, Terminal City, com o desenhista Michael Lark.


A edição que chega ao Brasil mostra essa trajetória, devidamente comentada, inclusive com os trabalhos de estréia nos quadrinhos de Dave McKean (Sandman) e Seth, da pequena Drawn & Quartely. Ty Templeton (Batman Adventures) e Bill Sienkiewicz (Elektra Assassina) também comparecem.


Apesar de importante para a história dos quadrinhos, a obra pode parecer pretensiosa demais e pseudo-intelectual para muitos leitores, já que o exagero de Motter, ao fazer questão de mostrar suas referências artísticas, às vezes chega a ser constrangedor.


ABERRAÇÕES NO CORAÇÃO DA AMÉRICA


O escritor Steve Niles, roteirista de Aberrações no Coração da América, que chega às bancas nacionais pela Devir Livraria, vem sendo o grande queridinho da indústria norte-americana nos últimos anos. Especialmente pelo seu estilo leve, quase sem compromisso e extremamente fluente, com várias referências ao cinema. Isso levou o artista a trabalhar com quatro grandes editoras -DC Comics, Marvel Comics, Image Comics e IDW- e colocou seu aclamado 30 Dias de Noite em Hollywood.


Em Aberrações, Niles explora a ignorância dos rednecks daquelas típicas cidadezinhas do interior dos Estados Unidos. O roteirista aproveita o sucesso de um tema debatido pelos X-Men há mais de 40 anos para construir seu cenário: crianças deformadas, com habilidades especiais, vivem em cativeiro sem a compreensão de seus pais. O que se segue é uma discussão sobre a diferença.


O desenhista Greg Ruth agrega grande impacto dramático nas cenas, o que valoriza bastante a grande mensagem transmitida por Niles, que desta vez está um pouco mais sóbrio e moralista no tom da narrativa. O impecilho é que Ruth, se por um lado é adequado para o drama, por outro não consegue explicar visualmente muito bem as sequências de ação, um pouco confusas.


No geral, Aberrações fica abaixo das outras produções de Niles, que sempre prioriza a diversão. Desta vez, um pouco mais sério e sem grandes novidades, seu trabalho alcança apenas um patamar mediano.


Serviço: Mister X tem formato 26,2 x 17,2 cm e 176 páginas a R$ 45. Aberrações no Coração da América, formato americano, 152 páginas a R$ 38,50.


Ambas as edições podem ser encontradas em Curitiba na Itiban Comic Shop: Av. Silva Jardim, 845. Fone: (41) 3232-5367.

Música+Quadrinhos: Mister X + Kraftwerk


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