Quadrinhos

Crumb desenha o blues

09 dez 2004 às 11:00


Você já leu alguém escrever e desenhar o blues? Aliás, você acha isso realmente possível? É o que Robert Crumb faz em ''Blues'', recém-lançado no Brasil pela editora Conrad. Não seria demais dizer que é o melhor material do pai dos quadrinhos alternativos lançado em solo tupiniquim até agora.

Crumb é um entusiasta do blues, do jazz, da música negra de raiz que mais tarde viria a impulsionar o rock. E ''Blues'' não é apenas uma homenagem ao estilo musical como um registro histórico ímpar da vida um tanto conturbada dos primeiros bluesmen da América.


O álbum começa com a biografia de Charley Patton, cantor de blues do Delta do Mississipi que, assim como os verdadeiros bluesmen, extraía da alma e de seu cotidiano composições que inspiraram outros grandes nomes do gênero, como Eddie ''Son'' House, Howlin' Wolf, Tommy Johnson e Bukka White. Interessante notar que Crumb perseguiu os artistas ignorados até mesmo pelos negros norte-americanos, já que o período em que nasceu a música de Patton é considerado bastante opressivo, uma época de racismo e violência ainda mais intensos.


Crumb optou por uma narrativa mais clássica e usou de um desenho mais realista do que em suas outras obras. É ainda mais impressionante o controle do artista sobre a arte-final, que consegue transmitir, abusando das hachuras, a crueza da vida de Patton.


''Blues'' também traz ilustrações que o autor fez para capas de discos e outras histórias que exploram sua veia nostálgica. Crumb não consegue gostar de nada que é produzido atualmente e destrincha sua falta de flexibilidade em aceitar o que veio depois da explosão do rock. Em uma das passagens hilárias, ele condena e critica, com humor negro e acidez, figuras como Bruce Springsteen.


Batman - Está nas bancas o que pode ser considerado uma das inspirações para o próximo filme do Homem-Morcego, que chega aos cinemas em meados de 2005. ''Batman: Pretérito Futuro'', minissérie em duas edições lançada pela Panini Comics, narra os primeiros dias de Bruce Wayne como o maior defensor de Gotham City.


Como a maioria sabe, Batman é o maior detetive entre os super-heróis, um exímio lutador e, herdeiro da fortuna do pai, um homem de negócios. Porém, ninguém imagina exatamente como ele se tornou isso tudo. Assim, como será mostrado no filme ''Batman Begins'', ''Batman: Pretérito Futuro'', tenta explicar parte do processo que transformou Bruce Wayne num vigilante.


Wayne, que acaba de voltar a Gotham City após um período de aprimoramento físico e mental no Oriente, precisa comandar as indústrias Wayne, deixadas pelos pais falecidos. O roteirista Joe Casey (que teve uma boa passagem pela revista dos X-Men), traz uma trama paralela bem fraquinha mas acerta a mão ao caracterizar um Batman ainda aprendendo a lidar com os bandidos. O mais interessante é como o escritor mostra a falta de experiência e maturidade de Bruce Wayne como um empresário, o que acaba trazendo problemas também para seu alter ego.


A minissérie seria apenas regular não fosse os desenhos de Cully Hamner. O ilustrador mescla um estilo cartunesco ao padrão das imagens de revistas de super-heróis -ora realista, ora fantástico- e abusa de sequências cinematográficas. Alguns quadros sem fala são muito bem trabalhados e a ausência de onomatopéias deixa o clima tenso e ainda mais intenso na cabeça do leitor.


Serviço: ''Blues'', de Robert Crumb, tem 108 páginas no formato 21,5 cm x 27,5 cm com capa dura ao preço de R$ 45. A minissérie ''Batman: Pretérito Futuro'', em formato americano (17 cm x 26 cm) tem duas edições de 68 páginas cada, ao preço de R$ 5,40 cada. Todas podem ser encontradas na Itiban, em Curitiba: Av. Silva Jardim, nº 845. Fone (41) 232 - 5367.

Música+Quadrinhos: Charley Patton+Blues


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