Curitiba - Quem não percebe a invasão japonesa na indústria do entretenimento, certamente não lê quadrinhos, não vai ao cinema ou sequer liga a tevê. As manhãs de desenhos animados são quase todas dedicadas a desenhos como ''Dragonball Z'' e ''Pokémon'', filmes como ''Kill Bill'' e ''O Grito'' remetem ao universo dos olhinhos puxados, assim como os mangás estão forrando as prateleiras das bancas.
A Conrad Editora traz ao Brasil uma das obras do autor que mais influenciou a cultura pop oriental e que também inspirou muitos criadores no Ocidente. Osamu Tezuka, o ''Deus do Mangá'', foi quem introduziu a forma e a linguagem dos quadrinhos japoneses como conhecemos hoje e parte de sua genialidade pode ser encontrada nas lojas com o primeiro volume de ''Buda'', que acaba de ser lançado por aqui.
Tezuka nasceu em 1928 e morreu em 1989. Seus trabalhos ganharam vida após a Segunda Guerra Mundial quando, assim como em muitos outros países, os quadrinhos passaram a ser utilizados como uma poderosa ferramenta de comunicação disfarçada de entretenimento descartável. Ao passo que os norte-americanos traziam o Capitão América enfrentando Hitler, os japoneses retratavam os ianques como monstros de duas cabeças e coisas do tipo. Em 1947, Tezuka emplacou ''A Nova Ilha do Tesouro'', com 400 mil cópias vendidas no Japão em plena crise.
Mas sua maior contribuição veio mais tarde, com o menino-robô Astroboy -que ganhou um novo desenho animado, no canal pago Cartoon Network-, ''A Princesa e o Cavaleiro'' e ''Kimba, o Leão Branco'', que viria a ser plagiado pela Disney em ''O Rei Leão''. Não é à toa que Tezuka é chamado de ''Walt Disney japonês''. Os olhos grandes, as sequências de ação frenéticas com onomatopéias tão interativas e os ângulos cinematográficos -Tezuka era fã da sétima arte, em especial das películas francesas e alemãs- passaram a ser explorados através de suas criações.
Speed Racer, Akira, Cavaleiros do Zodíaco, Dragonball Z, ''A Viagem de Chihiro'', ''Princesa Mononoke'', todos têm sua parcela de dívida com Tezuka. Tanto é que Katsuhiro Otomo, criador de Akira, decidiu pagar parte dela ao dirigir ''Metropolis'', animação criada por Tezuka.
''Buda'' foi produzido na década de 70, e exibe a vida de Siddharta Gautama através da visão de Tezuka, que mistura realidade com seu universo fantástico. Além da trajetória do líder espiritual, Tezuka aproveitou para trazer humor, aventura e crítica social. Os traços são típicos dos japoneses -oscilam entre cenas rebuscadas e quadros simples- e o autor faz o que as histórias do personagem belga Tintim viriam a explorar mais tarde: as paisagens são muito bem trabalhadas, realistas, e os protagonistas são todos icônicos.
Com isso, o quadrinista leva o leitor para um local específico e deixa o público se identificar com cada um dos personagens. ''Buda'' tem mais de três mil páginas, que a Conrad promete publicar mensalmente, na íntegra, em 16 volumes. A editora também lançou quatro livros narrando a trajetória do autor, inclusive sua vinda ao Brasil, em 1984, além de outros trabalhos. Uma justa homenagem a quem mais fez pelos quadrinhos de seu país.
Serviço: ''Buda - Volume I: O Reino de Kapilavastu'', de Osamu Tezuka, é uma publicação da Conrad Livros, tem 216 páginas no formato 14 x 21 cm. Está disponível em livrarias e lojas especializadas, ao preço de R$ 19,90. A edição pode ser encontrada na Itiban Comic Shop, em Curitiba: Av. Silva Jardim, 845. Fone: (41)-232-5367.
Música+Quadrinhos: Trilha Sonoro do Filme Akira+Buda