Curitiba - Um grupo de bichos carismáticos, rebeldes, inquietos, curiosos e loucos por aventuras. Você até poderia associar a algum desenho animado japonês que invadiu as manhãs na tevê. No entanto, a boa novidade é que o trio Sol, Jairzinho e Bandeira -um jaguar, um quati e um tamanduá, respectivamente-, faz parte da produção paranaense Brichos, realizada em Curitiba. O projeto visa, além de oferecer entretenimento, trazer um pouco da cultura de nosso País, às vezes esquecida pelos jovens brasileiros.
''No início a história estava voltada um pouco para os adultos, para a aventura, mas agora está mais abrangente. A gente deslocou o foco para o grupo de adolescentes e a descoberta da própria cultura'', explica o diretor Paulo Munhoz, do estúdio Teknokena, responsável pela animação. A definição dos protagonistas do desenho foi elaborada justamente na fase de maior mudança, a adolescência. ''O conflito de gerações é o ponto máximo da crise'', completa Munhoz.
A história, co-roteirizada por Érico Beduschi, reúne Sol, Jairzinho e Bandeira na Vila dos Brichos -palavra mista vinda de Bichos Brasileiros-, ''um lugar onde todas as espécies da fauna brasileira coexistem em um universo muito parecido com o nosso'', de acordo com as palavras dos próprios autores. Na trama, os três filhotes decidem criar o 'lutador perfeito' para vencer um campeonato internacional de videogame. Na sequência, o grupo parte em uma jornada de conflitos, surpresas e autodescoberta.
''É uma zoomorfização dos animais brasileiros. O desenho animado trabalha com ícones, modelos mentais, que também são símbolos para pensar'', reflete Munhoz, que agrega à produção a importância do uso do material audivisual para informar e ensinar, principalmente através de conceitos e linguagens, e não simplesmente idéias com pouco conteúdo, como algumas das últimas animações que têm chegado ao grande público.
A criação do visual dos personagens ficou a cargo de Antônio Éder, conhecido ilustrador curitibano, que trouxe um pouco de seu estilo com uma definição simples e suave, porém bastante forte e eficiente, marca de seus trabalhos nos quadrinhos. O diretor de animação, Tadao Miaqui, explica que a narrativa deve seguir padrões já consagrados no mercado brasileiro. ''A população brasileira é integrada com a televisão e procuramos fazer uma animação com uma roupagem nova mas no modelo adaptado à linguagem sequencial.''
Música e efeitos sonoros, os maiores problemas das animações brasileiras, terão um destaque especial na sequência do projeto, atualmente em sua fase inicial. A idéia é, após a conclusão de algumas cenas, compor através das imagens, segundo o diretor musical Vadeco. ''A trama fala sobre conflito de gerações e sugere muitas músicas. Vamos trabalhar com paleta de instrumentos brasileiros'', afirma.
Após o término da animação, o que deve acontecer em dezembro deste ano, o grupo pretende fazer ações estratégicas para promover o filme que, como é paranaense, precisa de um esforço extra dos produtores para penetrar no eixo Rio-São Paulo. ''Vamos participar de circuito de festivais, projeto paralelos, um livro de quadrinhos sobre a animação e estamos pensando em associar os personagens a uma série de esportes'', adiantou Munhoz.
A animação do longa-metragem Brichos será filmada em bitola de 35 milímetros, e conta com um total de oito animadores. O projeto, com custo total de R$ 580 mil, foi um dos contemplados pelo Programa Petrobras Cultural 2004, com os benefícios da Lei Rouanet.