Quadrinhos

A Origem das dúvidas

11 jul 2002 às 12:10


Wolverine, criado por Len Wein, apareceu pela primeira vez em 1974 na revista Incredible Hulk #180, como um mero coadjuvante. Ele era apenas mais um desconhecido multicolorido que tentava apartar uma briga entre Hulk e Wendigo. Mais tarde, o personagem ganhou o carisma dos leitores pelo jeitão de malvado e por ser um mutante de muita atitude. Mas nada ganhava tanta atenção dos fãs quanto seu passado misterioso.

A partir daí ele entrou para os X-Men para tentar controlar sua fúria e encaixar as peças de um quebra-cabeça complexo. Suas crises existenciais estavam ligadas a um tempo remoto que nem mesmo sua mente sabia mais lidar e apenas compreendendo de onde vinha saberia como levar sua vida em frente.


Sorte de Logan ter encontrado os então bons artistas como John Byrne, Chris Claremont, Barry Windsor Smith, Jim Lee, Marc Silvestre e até o famigerado Larry Hama - com suas absurdas tramas desconexas - para aumentar ainda mais a popularidade do personagem.


Wolverine surgiu numa época em que os heróis "mocinhos" perdiam força porque eram distantes demais de seus leitores, que queriam alguém que literalmente chutasse o pau da barraca e vivesse fora do preto e branco. Alguém que lutasse pelo bem mas nem sempre utilizasse das maneiras politicamente corretas para fazer isso. E deu certo: hoje, juntamente com Homem-Aranha, é o personagem mais conhecido da Marvel Comics.


Só que a partir dos anos 90, as histórias de super-heróis sofreram um baque pela falta de criatividade e histórias ridículas levaram os criadores a sobrecarregar o personagem. Com isso, milhares de publicações passaram a explorar seu ponto mais forte - o mistério de seu passado - como carro-chefe de inúmeras tramas e revistas. Isso desgastou sua história e levou a editora a abrir o baú de uma vez por todas. Mas só no papel: a Marvel não iria jogar fora sua maior fonte de lucro.


Para isso, a editora prometeu mostrar porquê Logan é o que é e como é. Parte disso já havia sido contado em Arma X, de Barry Windsor Smith - história que mostra o herói ganhando seu esqueleto e garras inquebráveis de adamantium - e a mini-série Wolverine, produzida por Chris Claremont e Frank Miller - em que os leitores são introduzidos ao "universo oriental" de Wolverine.


No ano passado, para os norte-americanos, e neste ano, para os brasileiros, Origem - mini-série em três partes - mostrou como foi a transição da infância até a idade adulta de Logan. Mas o que acontece não é exatamente o que todos esperavam.


O roteiro é bem articulado por Paul Jenkins, que introduziu uma crise familiar e elementos suficientes para que o herói (ou anti-herói?) tivesse motivos para tentar esquecê-los. A arte de Joe Kubert, juntamente com as ótimas capas de Joe Quesada e coloração de Richard Isanove também são convincentes e dão conta do recado.


As partes um e dois trazem revelações importantes e a narrativa é realmente atrativa mas a conclusão nos leva a mais questões do que respostas efetivas. O que nos é mostrado é muito do que todos já imaginavam: um menino sofre um trauma de infância muito grande - principalmente ligado ao fato de ser mutante: um ser diferente de outras pessoas - e tem um crescimento difícil e aprende a lidar com as dificuldades da vida de uma maneira não convencional.


A maior deficiência da publicação está no elo entre o que Logan foi e o que é: somos jogados a um espaço/tempo muito abstrato e não existem formas concretas de conectarmos os fatos, personagens e lugares com a cronologia de Wolverine.


Mas era isso mesmo que a Marvel queria e, no fim conseguiu: criar mais dúvidas e reviver a sempre curiosa maneira dos leitores encarar Wolverine.


Origem: Paul Jenkins, Joe Kubert, Richard Isanove e Joe Quesada (capas). Edição Nacional pela editora Panini. Mini-série em três edições de 52 pgs a R$ 4,50 cada.

Música+Quadrinhos: International Noise Conspiracy+Origem


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