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Respiração comprometida

23 dez 2005 às 11:00

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O quarteto mistura Modest Mouse com Pixies - Reprodução
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A máquina do hype avisou, é melhor você acatar: o Canadá é o que há. Arcade Fire, The Dears, Broken Social Scene – elogie mesmo sem nunca ter ouvido nenhuma dessas bandas. Vai pegar muito bem, principalmente nas rodinhas de jornalistas. Mas, se você quiser realmente ouvir a melhor banda novata do Canadá, vai ter que se aprofundar um pouquinho. Porque a melhor banda novata do Canadá (ainda) não caiu nas conversas dos metidos a antenados. E ela se chama Wolf Parade.

O quarteto lançou recentemente seu álbum de estréia, "Apologies To The Queen Mary" (Sub Pop – importado). Um dos trunfos do Wolf Parade é o revezamento de dois vocalistas, Spencer Krug e Dan Boeckner, que, a exemplo da alternância Marcelo Camelo/Rodrigo Amarante, têm muitas similaridades, mas as diferenças entre eles constroem uma tensão que deixa tudo mais interessante. Krug é amalucado, seus vocais lembram David Bowie e Isaac Brock (vocalista do Modest Mouse, que produziu parte de "Apologies..."), suas letras são diretas.

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Boeckner escreve versos mais abstratos, mas sua forma de cantar é mais apaixonada, às vezes até gritada, em contraposição à esquizofrenia quase engraçada de Krug. Os dois vocalistas são grandes melodistas, e decoram suas canções com arranjos cheios de guitarras garageiras e teclados vagabundos. Algo como um Arcade Fire mais barulhento e sem pretensão, ou um cruzamento de Modest Mouse com Pixies.

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"Apologies..." é cheio de rocks empolgantes, como a quase punk "Fancy Claps", a angustiada "Modern World", que tem simples e belos dedilhados de violão, "Shine A Light", de cadência à Velvet Underground, e "We Built Another World", que começa atropelada e fica mansa no refrão. Mas o Wolf Parade fica mais arrasador nas baladas. "Dinner Bells", de Krug, é longa e arrastada como uma canção de Neil Young, e o eco nos vocais deixa a música com um ar fantasmagórico.

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A grande canção do álbum, entretanto, é "Same Ghost Every Night", de Boeckner. Desesperada e cheia de guitarras dilaceradas, é valorizada pela garganta arranhada do vocalista e tem versos tristíssimos: "é o mesmo fantasma toda noite/ eu vou caminhando/ só pra encontrar minha própria respiração no caminho". Quem periga ter a respiração comprometida é quem ouve. Simplesmente fantástico.


LANÇAMENTOS


Dresden Dolls – "Paradise" (Roadrunner – importado)

Os Dresden Dolls são daquela linhagem de bandas que lançam discos sensacionais e que têm fama de serem ainda melhores ao vivo. Prova irrefutável disso é o show gravado em Boston em junho que é a atração principal do recém-lançado DVD "Paradise". Amanda Palmer (voz e piano) e Brian Viglione (bateria) fazem o diabo: improvisam, injetam fúria em canções cujas versões de estúdio já eram agressivas ("Good Day", "Bad Habit", "Half Jack"), fazem versão de "War Pigs", do Black Sabbath... Apenas com piano, bateria e saliva, oferecem um show mais intenso do que bandinhas que têm três guitarristas e/ou que colocam até sete integrantes no palco. Os fãs de PJ Harvey e Radiohead que ainda não caíram na onda dos Dolls precisam ir atrás correndo. Nos extras, videoclipes, duas faixas ao vivo de um show na Dinamarca e imagens de bastidores.


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