A Ata da 94ª reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) revelou que não faziam sentido as grandes preocupações em torno do comportamento recente dos índices de inflação declaradas nas Atas das reuniões de janeiro e fevereiro.
Ao contrário das duas Atas anteriores, que foram fortemente alarmistas em relação ao comportamento dos preços no curto prazo, o documento atual do Copom demonstrou muita tranqüilidade em relação ao comportamento da inflação. É possível perceber que se procurou identificar cada efeito de alta de preços e dar a cada um deles sua devida importância, inclusive voltou-se a mencionar a redução das taxas de inflação medidas por outros indicadores como o IPC-Fipe, desprezado pela autoridade monetária na Ata anterior. A autoridade monetária demonstrou muita cautela mesmo quando justifica os votos de três membros contrários à queda dos juros - que defendiam ser necessário obter sinais mais efetivos de que a maior inflação nos primeiros dois meses do ano não contaminaria a inflação dos meses seguintes. Dessa forma, é plausível perguntar: o bom senso retornou ao Comitê?
O fato de a decisão ter sido conquistada por pequena diferença de votos (6 x 3) acabou gerando especulações de que a queda dos juros teve um peso político. Se a decisão de reduzir os juros teve ou não algum tipo de "dedo político" (nós em particular acreditamos que não), o fato é que as pressões partidárias para redução dos juros não cessarão com essa queda, afinal, sabe-se que no passado recente chegamos a ter uma taxa-alvo de 15,25%. Adicionalmente, em um ambiente de inflação maior que a atual (pelo indicador acumulado em 12 meses) e em um ritmo de atividade econômica também maior, sem dúvidas há espaço para novas reduções dos juros básicos. Ademais, as pressões do lado político devem ganhar novo fôlego com a divulgação hoje dos indicadores de renda e emprego, referente ao mês de fevereiro, que continuam registrando resultados ruins (vide nosso Global Briefing – Emprego: recuperação consistente somente no 2º semestre).
Os riscos de repasse do aumento de preços no atacado (originado basicamente pela alta das commodities) para o setor varejista no mercado internacional também não é tão preocupante agora para o Copom como era em janeiro e fevereiro, mesmo com os índices no atacado de fevereiro e parciais de março tendo registrado alta mais forte dessas commodities. Sendo assim, o Copom definiu que: "Ainda não há elementos que permitam inferir com precisão satisfatória a magnitude do impacto potencial desses choques sobre os preços ao consumidor, embora haja indicações muito preliminares, por exemplo, de que o efeito da Cofins pode ser pequeno. Como se sabe, a teoria econômica e as melhores práticas de condução de política monetária recomendam a acomodação parcial de aumentos da inflação ao consumidor provocados por choques de oferta".
Vale destacar a atual postura da autoridade monetária ao analisar o comportamento da inflação, inclusive reconhecendo no parágrafo anterior que há acomodação parcial de aceleração de preços ao consumidor provocados por choques de oferta.
Sabe-se que as decisões de política monetária acerca da taxa de juros (alta ou queda) têm efeito retardado na economia, principalmente quando esta se encontra em via de recuperação após ter ultrapassado as fronteiras da estagnação (chegamos à recessão), portanto, ao analisar as variáveis determinantes é preciso avaliar não só o comportamento de curto prazo, mas também o comportamento de longo prazo dessas variáveis. Caso contrário, se cometerá os mesmos erros do passado em que a determinação da política monetária em doses exageradas resultou na situação que chamamos de stop and go da economia brasileira.
Enfim, a visão atual do Copom quanto à condução de política monetária e a análise das variáveis determinantes de suas decisões diante da utilização do sistema de metas de inflação, no que diz respeito ao seu papel de coordenador das expectativas e sinalizador da condução futura da política monetária, parece ter acolhido a todas expectativas dos agentes econômicos esperada desde janeiro.
EXPECTATIVA PARA ABRIL:Com a expectativa de redução da taxa do IPCA (indicador balizador das decisões de política monetária no sistema de metas de inflação) no resultado de março, que deverá ficar em torno de 0,4%, bem como de seu núcleo em baixo patamar, além das expectativas futuras continuarem em queda, esperamos que o COPOM continue com o processo de redução da taxa Selic na reunião que acontecerá nos dias 13 e 14 de abril. Acreditamos que haja ao menos redução de 0,25 ponto percentual.
Para os meses seguintes a abril, esperamos que a taxa de juros seja reduzida num espaço de tempo menor, ou seja, a cada dois meses, fato que se apóia tanto na cautela já conhecida da autoridade monetária e, também, em dois pontos, a saber:
i) grande possibilidade de manutenção da taxa de juros básica dos Estados Unidos em patamar baixo (1% ao ano) até início de 2005, portanto, os investidores não exigirão um prêmio maior para deixar seu capital investido no país.
ii) é necessário manter a taxa de juros num patamar elevado para que não haja migração de ativos financeiros por parte dos investidores como ocorreu em 2001 quando a taxa Selic chegou em 15,25% (a menor desde março de 1975) e houve pressão de alta na taxa de câmbio devido ao aumento da demanda. Isso ocorre em virtude do Brasil ser um país altamente dependente do capital externo (devemos precisar de mais de US$ 40 bilhões para fechar as contas externas), além de possuir um baixo nível de reservas internacionais, o que torna o país vulnerável a um aumento da demanda por moeda estrangeira.
Créditos: Alexsandro Agostini Barbosa, economista da Global Invest