A inflação medida pelo IPCA, indicador balizador da política monetária no sistema de metas de inflação, caiu de 0,61% para 0,47%. O resultado ficou ligeiramente acima das nossas expectativas (0,4%) e das expectativas do mercado (entre 0,4% e 0,45%). O resultado ratificou as expectativas de que a partir de março o índice cairia para um patamar abaixo do observado no primeiro bimestre de 2004. No resultado acumulado nos últimos 12 meses, o índice passou de 6,69% para 5,89%, ou seja, manteve sua trajetória de convergência para a meta de inflação estipulada para este ano (5,5%), movimento que deve ser observado até meados deste ano. O indicador acumulou 1,85% de variação no primeiro trimestre, o que significa uma inflação anualizada de 7,6%, portanto, acima da meta. Essa diferença será compensada no 2º trimestre com variações mais baixas.
A queda do índice em relação a fevereiro foi decorrente do fim da pressão do grupo Educação, que passou de 6,7% em fevereiro para 0,62% em março, além da queda dos preços dos combustíveis, principalmente do álcool (-12,9%). Entretanto, como havíamos alertado no Global Briefing de 24/mar - IPCA-15 despenca em março e ratifica nova queda dos juros -, os combustíveis seriam reajustados no início de abril. Hoje (07/abr), os preços dos combustíveis foram reajustados em média 8% na cidade de Curitiba, conforme constatou pesquisa elaborada pela Global Invest.
O grupo Alimentos e bebidas subiu de 0,15% em fevereiro para 0,43% em março, o que se deve à recuperação dos preços dos turbéculos em relação a fevereiro, quando houveram significativas quedas nos preços de alguns desses produtos. Portanto, esperamos que o movimento de alta observado em março não seja intensificado nos próximos meses.
Já o grupo Vestuário, que foi um dos destaques de alta, passou de deflação de 0,23% em fevereiro para variação positiva de 0,46% em março decorrente do fim das liquidações e promoções da coleção Primavera-Verão e, principalmente, em virtude da entrada da coleção Outono-Inverno. Entretanto, esse movimento de alta deve ser inferior ao observado em anos anteriores em virtude dos indicadores do mercado de trabalho ainda apresentarem um quadro não favorável para ocorrerem reajustes elevados.
NÚCLEO DA INFLAÇÃO:
Todas as medidas de núcleo da inflação apresentaram alta em relação a fevereiro. O núcleo pelo critério das médias aparadas com suavização passou de 0,48% em fevereiro para 0,76%. Em termos anualizados, o núcleo ficou em 9,5% contra 5,9% no mês anterior.
TAXA DE JUROS REAIS:A taxa de juros reais efetiva, extraída pela razão entre os valores do CDI e do IPCA acumulados nos últimos 12 meses, subiu de 13,9% em fevereiro para 14,3% em março, o maior nível desde dez/1999 (14,9%). Esse movimento crescente dos juros reais se deve à manutenção dos juros nominais em patamares elevados e à forte queda da inflação.
A mesma trajetória de alta deverá ser observada na taxa de juro real projetada para os próximos 12 meses caso os juros sejam mantidos em 16,25%. Utilizando as expectativas de inflação (IPCA) para os próximos 12 meses de 5,55% indicada na pesquisa Focus do Banco Central do dia 02/abr e a taxa de juros básica (Selic) de 16,25%, os juros reais projetados deverão subir de 10% para 10,1%. Essa taxa só deverá apresentar queda caso os juros nominais sejam reduzidos para 16%.
EXPECTATIVAS PARA O COPOM:Na próxima reunião do Copom, que ocorrerá nos dias 13 e 14 de abril, esperamos que a taxa de juros básica seja reduzida para 16% ao ano, ou seja, ao menos uma redução de 0,25 ponto percentual deverá ocorrer.
Nossa expectativa é embasada nos seguintes pontos:
i) baixo nível de emprego e renda, que não sancionam aumentos de preços no varejo, deve continuar ao menos até o segundo semestre, portanto, não remete risco ao quadro inflacionário;
ii) expectativa de inflação moderada para os próximos meses em virtude da ausência de reajustes de tarifas públicas, bem como do esvaziamento de pressões sazonais altistas;
iii) baixo nível de repasse do aumento dos preços dos insumos industriais para o varejo;
iv) melhora do nível de emprego nos EUA eleva as chances da taxa de juros básica (FED FUND RATE) subir ainda este ano, o que certamente marcará o início de uma nova realocação de capitais no mundo. Isso praticamente obrigará o Brasil a manter os juros parados, portanto, quando isso ocorrer é aconselhável que a taxa esteja em um nível muito menor que o atual para continuar dar alento à economia doméstica.
Créditos: Alexsandro Agostini Barbosa é economista da Global Invest