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Expectativas de inflação preocupam Copom

28 jun 2004 às 11:00

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A Ata da 97ª reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) revelou que as autoridades monetárias estão muito otimistas com a atual situação do cenário macroeconômico e que, ao menos no curto prazo, a recente adoção da política de manutenção dos juros deverá continuar. Como curto prazo, entenda-se a próxima reunião, que ocorrerá nos dias 20 e 21 de julho. Ressaltamos, no entanto, nossa perspectiva de que a manutenção dos juros deve se fazer presente, ao menos, até a reunião de agosto.
As recentes altas dos IGPs, por sua vez, podem vir a reduzir o espaço para redução dos juros no segundo semestre caso seja verificado repasse dessa inflação para o consumidor. Até maio, percebe-se grande espaço entre a inflação captada pelo produtor e a percebida pelo consumidor. No acumulado no ano, o IPA-M e o IPA-DI apresentam variação positiva de 6,4% e 6,7% respectivamente, enquanto que o IPCA variou apenas 2,7%. No entanto, no atual cenário de recuperação ainda modesta da economia brasileira, o repasse torna-se uma variável não mensurável nas projeções. De qualquer forma, uma vez presente ele deve se dar de forma heterogênea na economia, acentuadamente nos setores que apresentam recuperação mais vigorosa, como é o caso de bens de consumo duráveis e bens de capital, e em menor intensidade nos setores de bens de consumo semi e não duráveis, mais dependentes da renda.
Vale ressaltar que para 2005 o Copom incorpora projeção de 6% para os reajustes do conjunto dos itens administrados por contrato e monitorados. Essa estimativa considera, dentre outras coisas, a inflação medida pelo Índice Geral de Preços (IGP). Como a projeção não sofreu alteração desde fevereiro, há a possibilidade dela ser alterada no futuro, tendo em vista a pressão observada pelos IGPs nos últimos meses.
O tom positivo em relação ao comportamento da recuperação da economia imprimido desde a Ata da reunião de março voltou a se repetir. Conforme o documento, "mesmo em cenários mais adversos, o Copom continua otimista em relação à manutenção do crescimento econômico com estabilidade de preços".
No que tange à inflação, o Copom fez questão de destacar sua avaliação de que a intensificação das variações dos principais índices de preços em maio foi reflexo de pressões localizadas. Ressaltou, ainda, a reversão do impacto de alimentos, passando de negativo em abril para positivo em maio, destacando que, apesar da alta, ela não foi generalizada.
Para junho, o Copom avalia que "os índices de inflação deverão ser influenciados pelos aumentos no preço da gasolina,..., e no do álcool,... Entre os preços livres, as principais pressões seguirão decorrendo da elevação dos preços dos alimentos,..., pelos efeitos do início da entressafra. No atacado, além das mesmas pressões dos preços de animais e derivados nos preços agrícolas, espera-se continuidade da desaceleração nos preços industriais, com exceção dos combustíveis". Essa análise endossa a perspectiva de manutenção dos juros na próxima reunião.
A deterioração das expectativas de inflação contribuiu para a decisão de manutenção dos juros na última reunião: "... no curto prazo, o comportamento das expectativas de inflação passou a constituir fonte de risco relativamente mais importante que no mês passado". Entre maio e junho, houve elevação das expectativas do mercado não apenas para 2004, mas também para os próximos 12 meses e para 2005. Como esse movimento continua sendo percebido após a reunião de junho, deve voltar a contribuir com nova decisão de manutenção da taxa Selic.
Ainda no que tange às expectativas, o mercado projeta inflação acima do centro da meta tanto em 2004 quanto em 2005. Já no modelo de referência utilizado pelo Copom, que inclui a manutenção da taxa de juros em 16% ao ano e da taxa de câmbio em patamar próximo ao que prevalecia na véspera da última reunião do Copom (R$ 3,10), as projeções de inflação estão acima da meta de 5,5% apenas em 2004, estando abaixo de 4,5% para 2005.
Nesse sentido, tendo em vista que daqui a diante o efeito das decisões de política monetária na atividade econômica se tornarão mais acentuados em 2005, acreditamos que se deve começar a incorporar a hipótese do teto da meta para 2004 (8% a.a.). Apesar de ainda ser cedo para avaliar o cumprimento da meta de 2005, ressaltamos que a margem de manobra na meta de 2005 é ainda menor que a deste ano e, como dito, a pressão dos IGPs verificada em 2004 deverá impactar o IPCA do próximo ano nos preços administrados, que pesam cerca de 30% do índice. (Conforme avaliamos no Opinião Global Invest: É possível cumprir a meta de inflação em 2005?).
Nessa Ata, as autoridade monetárias voltaram a amenizar o impacto da perspectiva de alta da taxa de juros básica nos Estados Unidos."É importante ressaltar, mais uma vez, que a instabilidade verificada recentemente está longe de se configurar como um quadro de crise, ainda mais quando se leva em conta o provável caráter passageiro de seus determinantes principais e a solidez dos fundamentos da economia."
Enfim, voltamos a ressaltar que é surpreendente observar como o Copom está com uma visão tão otimista em relação ao comportamento da economia brasileira e mundial num momento em que a maioria dos analistas ainda aguarda definições do cenário externo por conta da elevação dos juros básicos nos Estados Unidos e seus reais efeitos sobre os países emergentes, o que, geralmente, se configura em instabilidade da moeda e, por conseguinte, elevação dos preços domésticos.
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