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Euro desvalorizado até quando?

05 abr 2004 às 11:00

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A avaliação do cenário para o Euro está atrelada à análise do cenário para juros nos EUA e das perspectivas para a economia da Região do Euro.
Esperamos que os juros nos EUA permaneçam baixos ao longo de 2004. Contudo, diante de uma possível contenção monetária antes do previsto, o Dólar receberia inicialmente um impulso (no sentido de valorização) aproximadamente um mês após a reversão dos juros (da mesma forma como observado com o Dólar australiano e a Libra inglesa em outubro e novembro de 2003). O efeito, no entanto, não seria sustentável. Juros maiores antecipadamente nos EUA não fortaleceriam o dólar no longo prazo porque seriam um risco para o consumo, variável que suporta a economia.
Apesar disso, não acreditamos que a era do Dólar como referência mundial esteja chegando ao fim, uma vez que o enfraquecimento da moeda se deve muito mais à fraqueza da economia dos EUA que do fortalecimento da Região do Euro. Nesse sentido, o movimento de valorização do Euro está relacionado a um ajuste do mercado, que busca, como um todo, melhores remunerações nos ativos. Assim, não vislumbramos um substituto forte para o dólar, já que a economia da Europa ainda está bastante fraca para possibilitar que o Euro assuma esse papel.

REGIÃO DO EURO
A fraqueza da economia da Região do Euro é evidenciada na sua baixa taxa de crescimento nos últimos anos. Após 2000, o bloco vem apresentando redução nas taxas de crescimento: 1,6% em 2001, 0,9% em 2002 e 0,4% em 2003. A redução da taxa de crescimento vem acompanhada por uma redução do nível de investimentos eda expansão das exportações e do consumo interno. A demanda do Estado na Região do Euro, no entanto, permaneceu se expandindo na faixa entre 2% e 3%, como uma forma de compensar a queda das outras variáveis.
A composição do PIB (Produto Interno Bruto) das economias que adotam o Euro, no geral, apresenta:
a) aproximadamente 60% de participação do consumo das famílias, o maior grupo do PIB;
b) em média 20% de participação da demanda pública (ou do Estado), um valor consideravelmente grande, revelando a intervenção do Estado nos últimos anos na economia da região;
c) também cerca de 20% da composição do PIB advém de investimentos;
d) a demanda externa, líquida das importações, representa apenas 2%. Contudo, a força das exportações no crescimento econômico se dá via investimentos, cujo peso no PIB é consideravelmente maior.
O efeito da valorização do Euro nas contas externas da região é evidente. O superávit comercial passou de € 130,6 bilhões em 2002, para € 109,8 bilhões em 2003. A balança de serviços registrou queda nas contratações, ou seja, dos débitos e a balança de rendas registrou queda nas saídas de capital. Com esse resultado, o superávit em Conta Corrente saiu de € 67 bilhões para € 27,7 bilhões.
A inflação na região tem permanecido estável, em torno de 2% ao ano desde 2000. A relativa manutenção do nível de preços é garantida por: (i) o alto nível de desemprego, que saiu de 8% em 2001 para 8,8% em 2003 e impede expansões significativas no consumo; (ii) o limite de déficit fiscal estabelecido em 3% do PIB, a despeito de alguns países não o cumprirem, garante uma expansão controlada da demanda pública e (iii) nos últimos dois anos, a valorização do Euro.
Além de propiciar a manutenção do nível de preços, essas variáveis também contribuíram para uma menor taxa de crescimento da economia. A partir de 2001, o PIB se expandiu em média 0,97%. Esse resultado é decorrente de uma expansão média do consumo de 0,93%, de significativa queda na expansão das vendas externas e, conseqüentemente, três anos consecutivos de queda no nível de investimentos.
A taxa básica de juros na Região do Euro chegou a 4,75% a.a. em 2000, quando a economia cresceu 3,5%. Já no ano seguinte, com a atividade em um ritmo menor, o Banco Central Europeu iniciou o ciclo de expansão da política monetária, que levou os juros a 2% a.a. em meados de 2003, mesmo patamar atual. O quadro de manutenção do baixo nível de expansão dos preços acomoda uma política monetária expansionista, possibilitando, se necessário nova redução nos juros.
Da mesma forma que em uma eventual alteração da política monetária nos EUA, uma redução nos juros europeus traria um alívio de curto prazo para a valorização do Euro. Isso porque, apesar de baixa, a taxa européia ainda é o dobro da americana e uma redução traria perspectivas de recuperação para a economia, favorecendo o Euro no médio prazo.
Assim, a cotação do dólar continuará tendo pressões apreciativas do mercado até que os agentes (sobretudo o FED ou BCE) sinalizem mudança nas expectativas ou nas regras de mercado. Como avaliamos, tais eventos teriam efeito no prazo de algumas semanas, enquanto uma reversão do movimento só será possível à medida que se expanda o nível de atividade da economia norte-americana, levando a uma elevação natural da taxa de juros deste país. Isso porque, ressaltamos que a fraqueza da economia dos EUA é a maior razão para a depreciação do Dólar, que incentiva a busca do mercado por outros ativos. O Euro é um deles.

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Créditos: Sílvia Domit é analista econômica da Global Invest.


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