Em sua 101ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros (Selic) para 16,75% ao ano. Ao final da reunião o comitê divulgou a seguinte nota:
"Dando prosseguimento ao processo de ajuste moderado da taxa de juros básica iniciado na reunião de setembro, o COPOM decidiu elevar, por unanimidade, a taxa Selic para 16,75% ao ano, sem viés".
A nota acima afirma que o ajuste na taxa de juros será moderado, no entanto, a alta de 0,5 ponto percentual não pode ser classificada como "alta moderada" em um cenário estável e favorável tanto pelo lado dos indicadores econômicos quanto pelo lado dos indicadores financeiros. Logo, a atual elevação dos juros pode ser comparada a um tratamento de "choque".
Vale destacar, ainda, que desde meados de setembro, quando houve a primeira alta dos juros neste ano, até agora as projeções de inflação para 2005 estão estáveis e as projeções para os próximos 12 meses estão em trajetória descendente, como pode ser observado nos gráficos ao lado.
Neste sentido, não se justifica a elevação da taxa de juros acima das expectativas majoritárias do mercado, visto que a elevação gradual de 0,25 p.p. ao mês, ao menos até dezembro, seria suficiente para inibir qualquer pressão inflacionária gerada pelo aumento da demanda no médio prazo.
Muito provavelmente, a decisão de elevar os juros de forma mais acentuada que o consenso do mercado recaiu, única e exclusivamente, sobre a persistência das projeções de inflação, que ainda permanecem acima da meta de para 2005.
Do lado externo, o Copom deve ponderar na Ata a manutenção do preço do petróleo em níveis elevados que transfere incerteza em relação ao preço praticado internamente. Mas vale lembrar que a dependência de importar tal commodity tem se reduzido constantemente, fato que minimiza reflexos sobre o preço praticado internamente. Inclusive esse é um dos motivos que estimularam a Petrobrás a manter os preços dos combustíveis estáveis desde 15 de junho/04 e ter reajustado de forma muito modesta no último dia 15.
JUROS REAIS E O CRESCIMENTO DA ECONOMIA:
Com a atual elevação dos juros básicos, a taxa de juros reais do país sobe de 9,5% em setembro para 10% em outubro considerando a taxa Selic e a expectativa para o IPCA para os próximos 12 meses, que prevaleciam no relatório Focus anterior a reunião do Copom.
Dessa forma, a autoridade monetária perpetua a taxa de juros reais acima de 9% ao ano e, portanto, não deve atingir tão cedo seu valor de equilíbrio que, como declarou o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, é por volta de 8% ao ano. Com isso, os recursos que poderiam ser investidos no setor produtivo para fomentar e sustentar o crescimento econômico continuam sendo alocados no setor financeiro. Fato que deve se persistir nos próximos meses e tende a afetar de forma negativa as expectativas de crescimento do PIB, mesmo que de forma moderada.
EXPECTATIVAS PARA OS JUROS NOS PRÓXIMOS MESES:
A expectativa para os juros é de alta para os próximos meses, entretanto, a intensidade que os juros subirão só deve ficar mais clara após a publicação da Ata da reunião, que vai expor os fatores que ampararam a elevação acima do esperado. Portanto, a Ata tem que ser convincente na justificativa, pois, caso ocorra o contrário, certamente o mercado ficará desorientado e as taxas futuras de juros deverão subir significativamente incorrendo em aumento de custos desnecessários para a economia.
Créditos: Alexsandro Agostini Barbosa é economista da Global Invest