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Copom: alta dos juros foi preciptada

20 set 2004 às 11:00

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Em sua 100ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu elevar a taxa básica (Selic) para 16,25% ao ano. Entre os votantes, 5 optaram por um aumento moderado de 0,25 p.p. e 3 optaram por uma alta maior, de 0,50 ponto percentual. Com a alta ocorrida neste mês, o Copom inicia o processo de elevação dos juros e sanciona seu discurso presente na Ata de agosto. Ao final da reunião o comitê divulgou a seguinte nota:
O COPOM decidiu elevar a taxa SELIC para 16,25% ao ano, sem viés, por cinco votos a favor e três votos pela elevação da taxa SELIC em 0,50%. Com a decisão, o Comitê dá início a um processo de ajuste moderado da taxa básica de juros, de forma que a trajetória da inflação não prejudique a recuperação da renda real, preservando, assim, o crescimento sustentado da economia.
A nota acima sugere um aumento dos juros nos próximos meses de 0,25 p.p., entretanto, vale ressaltar que 3 participantes votaram por um aumento de 0,50 p.p., ou seja, a falta de consenso do Copom gera dúvidas em relação à nova trajetória dos juros, ao menos até a divulgação da Ata da reunião no próximo dia 23, pois será através desse documento que as expectativas para as próximas reuniões do Copom serão norteadas.
Diante desse novo panorama, revisamos nossa expectativa de elevação da Selic, passando de 0,25 p.p ao mês até dezembro ao invés de subir 0,5 p.p. em novembro e em dezembro como esperado anteriormente. Mas, a projeção para dezembro permaneceu inalterada em 17% a.a., pelo menos até a próxima quinta-feira quando será publicada a Ata desta reunião e, também, dependendo da evolução das expectativas de inflação.

Acreditamos, no entanto, que o Copom tomou uma atitude precipitada em elevar os juros nesse momento, pois havia razões suficientes para que a taxa de juros permanecesse estável até novembro, a saber:
i) até o momento os dados conhecidos sobre a atividade econômica apenas revelam que houve recuperação do nível de produção e das vendas que foi perdido em 2003 e não dão qualquer informação segura se essa recuperação está gerando desequilíbrio entre oferta e demanda que pudesse ocasionar pressões inflacionárias;
ii) a dinâmica da economia brasileira daqui a diante será ditada pela renda e pelo emprego (massa de salários), que vêm em curso de recuperação desde abril deste ano após terem sido bastante reduzidas em 2003. Sendo assim, a alta dos juros nesse momento afeta de forma negativa essas duas variáveis no médio prazo, uma vez que reflete negativamente nas expectativas de investimento em um momento em que o investimento é de crucial importância para conceber o crescimento sustentável. Em suma, o principal resultado dessa decisão não é a alta em si, uma vez que pode ser considerada marginal, mas sim a trajetória de alta que foi antecipada e o seu impacto nas expectativas dos agentes, que devem frear o ritmo de otimismo e optar por observar de forma mais cautelosa o andamento da economia.
iii) recuo do preço do petróleo que afasta, ao menos no curto prazo, a preocupação de reajuste de combustíveis no mercado doméstico, fato que estava impulsionando para cima as expectativas de inflação;
iv) elevação moderada dos juros nos EUA, inclusive podendo ficar estável na reunião de setembro, mantém o fluxo de capital para os países emergentes refletindo em baixa volatilidade na taxa de câmbio;
v) elevação do custo financeiro da dívida pública em um momento que o governo concentra esforços para a execução de superávits primários, que vem sendo realizado através da contenção dos investimentos e não por redução de custo efetivamente;
vi) manutenção dos juros reais em patamar elevado (9% ao ano pela Selic e 11% pelo Swap 360 dias), que mantém boa parte dos investimentos no setor financeiro ao invés de direcioná-los para o setor produtivo, inclusive em setores importantes para sustentar o crescimento econômico nos próximos anos, como é o caso do setor de energia elétrica;
Apesar do discurso de elevar os juros ser conhecido, ele ainda não havia sido incorporado nas expectativas de investimento e, portanto, o ônus para a economia no médio prazo é grande. Vale lembrar que o Brasil deve apresentar esse ano a maior taxa de crescimento desde 1994, no entanto, se fizermos a média com o decréscimo registrado em 2003 (-0,2%), o PIB brasileiro deverá crescer no mesmo nível que o período 1997-2002 (2% ao ano) quando ocorreram diversas crises econômicas que comprometeram um crescimento mais vigoroso (Ásia, Rússia, Desvalorização cambial, racionamento de energia, atentados terroristas contra os EUA e default Argentino). Ou seja, no período 2003-2004 as condições foram extremamente favoráveis a um crescimento muito maior que o observado, mas o resultado deve ficar próximo do que ocorreu em períodos de crise.
A elevação dos juros não se deu em um momento em que a demanda crescia de forma incontrolável a ponto de prejudicar o equilíbrio econômico e o crescimento sustentável. Na verdade, a decisão deste mês teve por objetivo alinhar as expectativas de inflação à meta de 2005. Percebe-se que ao menor sinal de crescimento razoável da economia (comparável ao mundial), os juros são elevados para fazer convergir as expectativas de inflação a uma meta ambiciosa dado o nível de inflação de preços administrados e, portanto, a pequena margem restante para a oscilação dos preços livres.
Enfim, a situação de stop and go do crescimento econômico brasileiro vivenciado nos últimos 10 anos é perpetuado pelo descasamento entre as decisões de política monetária e o planejamento econômico. Ou seja, o esforço para elaborar programas de incentivo ao crescimento acaba sendo minado por decisões de política monetária que deterioram as expectativas.

Créditos: Alexsandro Agostini Barbosa é economista da Global Invest

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