Os mercados financeiros mundiais sofreram na semana passada fortes variações diante de um pessimismo quanto à liquidez internacional. A decisão do Federal Reserve (Fed, Banco Central americano) em retirar a expressão de que os juros permaneceriam reduzidos por tempo considerável provocou quedas nas bolsas de valores do mundo inteiro, bem como elevação dos juros (yield) dos títulos de renda-fixa.
No Brasil, a deterioração de expectativas foi mais acentuada devido a um agravante: a divulgação da Ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que demonstrou que a autoridade monetária está mais preocupada que o mercado com os índices de inflação (conforme foi escrito no artigo "COPOM: explicar o inexplicável"). O Copom afirma que os recentes aumentos de preços sugerem um movimento que pode ser persistente e não pontual como o mercado acredita. Ocorre que as principais fontes de pressão nos indicadores de preços refletem sazonalidade, como reajustes anuais em educação (matrículas escolares), energia elétrica em algumas capitais e alimentos. Ocorre que, ao contrário do ocorrido há doze meses, neste início de ano a expectativa de inflação prevê queda em março, ou seja, os fatos sugerem que a recente inflação possui um padrão sazonal.
Como resultado, a Bolsa de Valores de São Paulo caiu 6,1% no pregão de hoje, com queda de 1.015 pontos – a maior queda desde 11 de setembro de 2001 (dia do atentado ao World Trade Center). E isto num dia em que a principal ação do Ibovespa, a Telemar (que representa 15% do índice) divulgou resultado surpreendentemente positivo: lucro de R$ 514 milhões contra R$ 122 milhões esperados pela média de doze analistas consultados pela Telemar (e ainda assim caiu). As ações que mais sofrem são aquelas de companhias mais endividadas. Elas tendem a sofrer diretamente com a expectativa de que os juros internos não devam cair tão cedo - esperamos manutenção da Selic em fevereiro - e que os juros americanos (Fed Funds) subam antes que o esperado e em 50 pontos base até o fim do ano. Os títulos de dívida soberana brasileira também apresentaram fortes quedas. O C-Bond voltou a ser negociado abaixo do par, fechando em 98,75 pontos (queda de 1,25%), o Global 40 caiu 1,65%, fechando a 110,6 pontos. Assim, o risco Brasil ultrapassou os 500 pontos base.
Os novos comunicados - da Ata do Copom e do Fed – trouxeram volatilidade aos mercados emergentes, fato que deverá permanecer no curto prazo. Agora o mesmo grupo de ativos reflete um novo patamar de risco que o mercado está tentando identificar.
Créditos: Paulo Eduardo Nogueira Gomes, economista da Global Invest