Caro Leitor,
Se eu escrevesse diários em vez de colunas sobre livros que eu gostei de ler, já teria um modelo a seguir.
Eu certamente anotaria em meu diário sobre o bom livro "O diário de um banana". E como seu personagem principal, Greg, não chamaria minhas notas de todo-dia de diário, mas de algo mais pomposo (se bem que não pomposo, mas mais "intelectualizado"), algo como "Caderno de observações cotidianas & Reflexões" (acho pra lá de supimpa esse ‘e’ comercial e jamais perderia a oportunidade de fazê-lo adornar um título).
Greg Heffey conta em seu diário que ele prefere chamar de LIVRO DE MEMÓRIAS, em caixa alta mesmo as dificuldades de um menino que está no Ensino Fundamental, convivendo em uma sociedade infantil tipicamente masculina (lembre-se temos somente o ponto de vista de Greg).
Nesse insólito ambiente porém, bastante familiar existem garotos maiores, mais fortes e que fazem a barba convivendo com os magrinhos como Greg.
No diário, quer dizer, Livro de Memórias de Greg há também as tumultuosas relações familiares sobretudo as fraternais. É uma representação possível da sociedade norte-americana, sob a óptica de uma criança.
Essa abordagem não é exatamente novidade nos livros, porém a concepção humorística do autor Jeff Kinney, que retrata Greg como um ser humano egoísta, inexperiente, manipulador, aproveitador covarde e algo inocente funciona muito bem. Greg é uma criança bastante verossímil. Grande parte da força da obra é a verossimilhança do personagem. Kinney descarta a idéia da criança idealizada como reduto da bondade e apresenta uma sonhadora, covarde, frágil e egoísta criança.
Greg é nosso irmão mais novo que rouba no esconde-esconde, nosso primo inconveniente que chega no meio do domingo, nosso vizinho que não devolve os quadrinhos emprestados. É um anti-herói típico em tamanho P.
Greg, além desse caráter anti-heróico, é fracote e pouco talentoso, uma criança de pouca atitude, um wimpy kid, do original em inglês.
Ah, tem outro lance que teria em meu diário, quer dizer, em meu Relatório (relatório é mais impactante que caderno) de observações cotidianas &Reflexões: os desenhos.
As ilustrações que acompanham o texto são traços simples, que simulam a arte do próprio Greg, representando as situações contadas no diário – falando nisso, a capa do livro e a encadernação parecem de um caderno ou de um diário, com imitação de pauta em cada página. O trabalho editorial da V & R editoras é excelente.
Embora algumas pessoas tenham apresentado o Diário de um banana como uma história em quadrinhos, ele não é. Existe alguma carga narrativa nas imagens em momentos específicos do texto, mas eles são minoria. A maior parte dos desenhos ilustra aquilo que texto já apresentou e alguns poucos aquilo que ainda apresentará. Mas quase não há informação nova nas imagens ou narrativa exclusiva delas.
O livro de Jeff Kinney é um bom presente atrasado de dia das crianças para crianças tardias.
Mais informação em:
www.diariodeumbanana.com.br
Sugestão de leitura:
Volta ao dia em oitenta mundos (Julio Cortázar); Drácula (Bram Stoker) A maldição da moleira (Índigo); Calvin & Haroldo: Yukon ho! (Bill Watterson); O senhor das moscas (William Golding).