Essa frase constava da home page de um dos principais portais de notícias da internet brasileira. Errada gramaticalmente ela não está, mas contém uma informação incorreta. Vamos à explicação:
Adjetivo é uma palavra que, segundo o dicionário Aurélio, modifica substantivo, indicando a este qualidade (homem contente), caráter (homem mortal), modo de ser (homem discreto) ou estado (homem doente).
Já advérbio, ainda segundo o Aurélio, é uma palavra invariável que modifica um verbo (agir discretamente), um adjetivo (muito contente) ou outro advérbio (muito bem), exprimindo circunstância de tempo, lugar, modo, dúvida, afirmação, negação ou intensidade.
A frase em questão apresenta o adjetivo discreto, cujo significado é reservado em suas palavras e atos; prudente; recatado, modesto. O simples fato de essa notícia (?) constar de um dos maiores portais da América Latina já demonstra que Ronaldo não possui a qualidade de discreto. Nem que ele o queira ser! A propósito, observe que nem precisei especificar quem é o Ronaldo sobre o qual estou escrevendo. Todos sabem de quem se trata. Se fosse o outro, escreveria Ronaldinho. Discreto, portanto, ele não é. Aliás, ambos não o são (Isso não é uma crítica a nenhum deles; apenas uma constatação semântica).
Posto isso, conclui-se que a frase apresentada não deveria conter o adjetivo discreto. Deveria, sim, conter um advérbio, pois não é Ronaldo que é discreto, e sim o modo como ele comemorou seu aniversário: discretamente. A palavra usada, portanto, teria de ser um advérbio, que modificaria o verbo comemorar. Poderia ser discretamente ou reservadamente.
Discretamente, Ronaldo completa 32 anos.
Reservadamente, Ronaldo completa 32 anos.
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Há, porém, alguns casos raros em que se pode usar um adjetivo no lugar de um advérbio, sem que este perca a sua qualidade de advérbio. Quando isso ocorrer, dizemos que houve derivação imprópria (mudança de classe gramatical), e a palavra em questão fica invariável. É o que acontece, por exemplo, na propaganda de uma cerveja bastante conhecida pelos brasileiros, em que se registra a seguinte frase:
A cerveja que desce redondo: não é a cerveja que é redonda, e sim o modo como ela desce, por isso não há a concordância entre cerveja e redondo, ou seja, por isso redondo não está no feminino; é um advérbio; não um adjetivo.
Outro exemplo:
As aves voavam baixo: não são as aves baixas, mas sim o modo como voavam. É advérbio; não adjetivo.
O problema quanto a isso é que não há uma regra específica, ou seja, não há uma regra que diga quando um adjetivo pode funcionar como advérbio. É uma questão de bom senso. Claro está, porém, que, na frase apresentada, discreto não pode transformar-se em advérbio. O mesmo ocorre na frase Os alunos ouviam atentos a explicação do professor. Se quiser usar advérbio, use atentamente, mas não atento.
Observe, então, que, muitas vezes, uma frase carrega um significado não pretendido por seu autor. Não há problema algum quando isso ocorre em um texto informal ou mesmo num jornal ou na internet, como foi o caso comentado, mas passa a ser problema quando há a necessidade de elaborar um texto oficial ou uma redação em algum concurso ou mesmo uma redação para conseguir um emprego. Fique alerta, então, internauta interessado no adequado uso da Língua Portuguesa.
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