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O pouco que fica de tudo

14 set 2004 às 11:00

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Pessoa já me deu grandes lições assim como Drummond. E é dele o mote de minha inspiração nessa terça-feira chuvosa em Curitiba: "De tudo ficou um pouco. Do meu medo. Do teu asco. Dos gritos gagos. Da rosa ficou um pouco. Ficou um pouco de luz captada no chapéu. Nos olhos do rufião de ternura ficou um pouco (muito pouco)".

Nesse ano de 2004, ano de quebra de paradigmas, de trocas, acertos e desacertos, eleições, furacões, olimpíadas, algum pouco vai ficar na nossa lembrança.

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Das eleições que ainda hão de vir já dá para prever o que vai ficar. Resquícios das passadas não nos dão muitas esperanças de que iremos ter boas lembranças. Da política fica um pouco de algo???? Só duvidas, desconfianças e a vontade de ser mal-educado e não exercer a cidadania anulando o nosso voto. Seria delicioso não elegermos ninguém. Anarquismo puro. Mas como alguém tem que governar a gente vota no "menos pior". Coisa braba dizer isso. Ouvi gente dizer que vai votar nesse ou naquele candidato à prefeitura de Curitiba por ele ser bonito.

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Se for para fazermos uma análise de estilo de alguns de nossos candidatos dá para arriscar uma coisa (e eu até já falei sobre isso em matérias antigas): política envelhece e enfeia, mesmo com Botox e tinta no cabelo (e pior com ela, pois não existe coisa que mais envelheça um homem do que tentar esconder os fios brancos). Aliás, deveriam proibir a venda de tintas para homens. É o tipo da coisa que só piora. Ainda mais quando começa a desbotar e eles ficam com o cabelo acaju tom fraco. É muito engraçado. E seria bom se o que ficasse do período de pleito fossem só fúteis detalhes como esses. Mas não, ainda parafraseando Drummond: "...e sob tu mesmo e sob teus pés já duros e sob os gonzos da família e da classe, fica sempre um pouco de tudo. Às vezes um botão. Às vezes um rato."

Torçamos para que desse ano, das próximas eleições, fiquem mais botões do que roedores. Previsibilidade utópica.


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