Coluna da Ana Clara

Antítese curitibana

18 jun 2002 às 20:20

... grande "blefe", a Curitiba que vivemos ainda consegue amamentar seus filhos.
Uma terra para morar
Quando se chega em Curitiba dá para pensar que aqui é o paraíso. Uma cidade grande com ares de pequena. Uma interiorzâo que cresceu, que ainda abriga muita riqueza e que virou um chamariz nacional. São parques, praças, shoppings, ruas, tudo muito limpinho e ajeitadinho. À primeira vista é maravilhoso, imagina-se que, assim como esta imagem foi criada, seu povo faz questão de receber quem é de fora com muita hospitalidade. E é aí que as coisas se complicam. O curitibano é um xenófobo. Tem medo de quem é de fora. Não é que ele não goste ou queira mal. É simplesmente um povo que não gosta de se misturar.


Para conquistar um curitibano é preciso
Bem, em primeiro lugar comportar-se como ele. Se, ao primeiro contato ele não lhe der conversa, faça o mesmo. Se, ao descerem de seus carros na garagem do seu prédio ele bater com a porta do elevador na sua cara, não ligue. É uma das atitudes mais comuns na cidade. Na próxima vez faça o mesmo com ele. Na terceira vez, ele esperará você e aí as coisas começarão a mudar. Outra coisa, nunca se declare amante de um time que não seja local. Quem vem morar aqui tem que ter time definido. Ou é coxa, ou atleticano ou paranista. Muro nem pensar.



Para amar os curitibanos
Depois de conquistada a amizade de um autêntico curitibano você nunca a perde. Ele lhe mandará um pedaço de bolo de fubá quando estiver ainda frequinho. O convidará para passar o Natal na casa dele e lhe oferecerá até a casa na praia. E ele não é como o carioca não que não dá o endereço. Ele manda o mapa.

Para ser fashion em Curitiba
Em primeiro lugar é preciso ter personalidade forte para não cair na tentação de clarear os cabelos. Depois que você resistir e não se tornar uma "patricinha" verá que há estilos diversos na cidade. Assim como existe o lado Batel com o povo que, façamos justiça, existe em várias partes do mundo, há o lado underground. Há a cena gay ( que é fortíssima) e há um universo de guetos espalhados pelos cantos da cidade que nâo estâo nem aí para os modelos pré-estabelecidos. E aí está o lado legal da cidade. Humano, bonito e cordial. Assim como existem os que batem a porta do elevador na sua cara, existe gente civilizada que nâo joga papel no châo e que obedece legislações como colocar a focinheira no rotweiller. Sâo chiques e discretos os que tomam atitudes como esta. Eles podem estar até no bar mais bagunçado da Capital, aliás nem gostam de lugares muito badalados. Preferem curtir a cidade exatamente como ela é. Escura, fria, com um cantar de passarinhos que só ela tem ( será que aqui tem mais pássaros que nas outras cidades?) e cheia de ipês amarelos. Uma cidade como esta não precisa de marketing, não precisa de nada. Só de gente que saiba reconhecer que apesar de ser um tanta recatada e escrupulosa, ela nâo deixa de acolher milhares de pessoas que vem para cá sonhando com o ligeirinho e a Ópera de Arame. Nâo é tâo encantado o mundo aqui, mas ninguém fica de fora. Aqui todo mundo escreve sua própria história. Curitiba permite.


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