NA FORMA DE UMA BELA CARTA, ENVIADA PARA A MARINHA BRASILEIRA, O ARTICULISTA CONTA A ESTÓRIA DE UM ENCONTRO, COM UM BELO VELEIRO. E TRAÇA UM INTERESSANTE E CRIATIVO PARALELO ENTRE ESTE VELEIRO, E SER BRASILEIRO.
Na primeira semana de janeiro, eu e um amigo estávamos velejando pelo litoral sul do RJ, região de Angra dos Reis, Parati, Ilha Grande. Mais precisamente no dia seis tivemos a sorte de, por um daqueles presentes que a vida nos dá, ancorarmos na Enseada do Abrão, em Ilha Grande onde, no silêncio de um belo entardecer o navio Cisne Branco lentamente foi chegando, velas baixadas nos seus três mastros, para lá também ancorar. Antes do crepúsculo ainda presenciamos a cerimônia do descerramento da (belíssima) bandeira brasileira e o hino nacional, com todos os pulmões, cantado por 70 marinheiros da sua tripulação, em formação no deck, ecoando por aquela baía, um lugar de uma beleza e de uma paz que só podem ser compreendidos se acreditarmos no toque de alguém verdadeiramente supremo.
À noite, mais um presente; a nossa sorte de estarmos aportados na linha deste cenário, onde o pano de fundo do Cisne Branco era a lua cheia e o contorno das montanhas da Ilha Grande, cujo verde exuberante da Mata Atlântica, incrível, era visível pois parecia estar iluminado por um céu apinhado de estrelas. Obs.; Naquele momento lembrei-me de uma bela poesia do nosso poeta maior, Castro Alves, que diz "nossos campos tem mais flores, nosso céu tem mais estrelas, nossas vidas mais amores..."
É, sempre digo que existem coisas impossíveis de descrever, por maiores que sejam os detalhes ou o nosso esforço; como descrever as Cataratas do Iguaçu? Como descrever a Amazônia, o Pantanal, Fernando Noronha? Como descrever o Carnaval do Rio? Ou o Rio? Fotos não conseguem, que dizer, palavras! Acho que é assim por que coisas e momentos verdadeiramente especiais possuem o toque da emoção. E emoções, são indescritíveis. E verdadeiramente inesquecíveis.
Mas, vou arriscar. Acho que me é possível, pelo menos tentar, descrever a emoção que o Cisne Branco, dentro de todo este cenário nos causou. E, lhe digo, não foi só a mim e ao meu amigo; também outras pessoas, de outras embarcações, algumas inclusive estrangeiras. Amo profundamente o meu país. Apesar dos Jaders, dos Valdomiros, tenho verdadeiro orgulho de ser brasileiro pois este povo, apesar de tantas desilusões, desencantos e provações, consegue manter viva no seu coração uma rara mistura de esperança, de sorriso fácil, de fé, de alegria de viver. Tudo o que eu quero dizer, melhor no dizer de Paulo Francis; o brasileiro é um povo que tem "uma doçura essencial". É, doçura essencial. E este navio, digamos, incorpora em si esta receita mágica, esta doçura do que é ser brasileiro. E neste ponto, exatamente neste ponto cruzam-se, o espectro de um barco a vela, com o espírito de um povo. E explico; praticamente todas as marinhas do mundo usam navios de guerra como navios escola. Também no Brasil mas, bem, por aqui um diferencial; também um barco à vela, branco, que é a cor da paz. Uma fragata épica, e chamada de, ... Cisne Branco. Bela como o mais belo sonho. Acho que falo de algo que vai um pouco além da simplista definição de patriotismo pois, misture-se um pouco de sociologia, de antropologia. Talvez melhor; de Gilberto Freyre. Este navio é lúdico, original, criativo e especial. Como lúdico, original, criativo e especial, é o povo brasileiro. Ele é um orgulho para o Brasil, assim como é um orgulho, ser brasileiro.
Enfim, a minha homenagem, o meu reconhecimento e, por que não, como brasileiro o meu singelo agradecimento à Marinha Brasileira, pelo Cisne Branco.
Benedicto Kubrusly Júnior
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