O Campeonato Brasileiro que terminou no domingo fez suas duas últimas vítimas, punidas com o rebaixamento para a Série B. Como era esperado tendo em vista a tabela da rodada final, Corinthians e Paraná juntaram-se aos já rebaixados Juventude e América-RN, equipes que demonstraram grande fragilidade ao longo de toda competição e desde o início tomaram o rumo da 2ª divisão.
Se a baixa qualidade técnica e o orçamento limitado eram os pontos em comum entre gaúcho e potiguares, o que iguala o clube paulista ao paranaense é a falta de planejamento e a crise política, que fizeram naufragar os ambiciosos planos traçados para a temporada.
Os problemas mais graves são, até por sua grandeza, os do Corinthians. Mergulhado em uma situação econômica que deixa o clube à beira da falência - algo que nem a mal-afamada Clubemania irá resolver em curto prazo - o Timão paga o preço por ter se associado à MSI. As críticas à parceira, que desde o primeiro momento se mostrava suicida, foram recebidas no clube como mera inveja dos adversários e rendeu, além de um título nacional obtido com ajuda extra-campo, uma lista de problemas interminável e uma dívida estimada em no mínimo R$ 100 milhões, mesmo com a negociação d algumas promessas reveladas pelo clube, que hoje já desfilam nos gramados europeus.
A queda para a 2ª divisão é a oportunidade de rever os conceitos adotados pelos dirigentes, embora a direção atual esteja intimamente ligada à anterior, especialmente no que diz respeito à malfadada parceria com a MSI, que se tornou uma questão de polícia. Que só não resultará em punições mais sérias - e merecidas - porque seriedade não é algo que se encontre facilmente no Brasil, principalmente no esporte.
Em menor escala, principalmente de valor, o Paraná também perdeu o rumo após uma rumorosa crise interna, que resultou no afastamento de seu então presidente, José Carlos de Miranda. A participação ainda não muito clara de grupos de empresários no futebol do clube, alvo de investigação de uma comissão especialmente criada para este fim, pode complicar ainda mais a vida do Tricolor, que terá uma perda significativa de recursos em 2008, já que não receberá a parcela relativa aos direitos de transmissão da Série A do Brasileiro. E como não faz parte do Clube dos 13, o clube não tem direito ao "seguro" criado pela entidade, que auxilia seus integrantes mesmo quando rebaixados.
Mas, mais do que problemas nos bastidores, foram as sucessivas trocas de técnico que levaram o Paraná a encerrar de forma melancólica uma temporada iniciada com muita festa com a campanha razoável na Libertadores, que parecia ser apenas o início da definitiva consolidação do time ao lado dos maiores do país. Talvez por isso a queda tenha sido ainda mais sentida.
Festa esvaziada
A premiação da CBF aos melhores do Brasileiro foi uma sucessão de situações embaraçosas. Nem tanto pela entrega dos troféus aos campeões das três divisões do campeonato ou pela divulgação da seleção da competição, que pode até ter uma ou outra injustiça, mas na média é bastante correta. O embaraço esteve nos poucos momentos em que se mencionou a tragédia ocorrida com o desabamento de parte da arquibancada da Fonte Nova, que resultou na morte de sete pessoas.
Para um país que se diz desenvolvido, mais do que lamentável o fato é indesculpável. Até porque diversas autoridades e entidades independentes já haviam pedido o fechamento de uma estádio em péssimas condições de conservação, colocando em risco a vida das pessoas. Mas como o público segue sendo tratado como gado não apenas em eventos esportivos, mas também em shows, nas filas de órgãos públicos, em agências bancárias e por aí afora, nada foi feito para evitar que o pior acontecesse.
E, mais uma vez graças á já citada falta de seriedade brasileira, as mortes em Salvador ficaram por isso mesmo. As famílias das vítimas levarão alguns anos para receber as indenizações e os responsáveis pelo estádio e pela organização do campeonato - pela ordem, o governador Jaques Wagner e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira - seguirão incólumes em seus cargos, pensando em todas as benesses que virão com a realização da Copa do Mundo de 2014, na ``nova´´ Fonte Nova. Mas se nem mesmo a governadora que permite que uma adolescente seja mantida em uma cela com vários homens é punida - os dois casos deveriam resultar em perda sumária dos cargos de governantes e dirigentes -, não é razoável esperar que um pequeno problema estrutural possa ser exemplar contra a impunidade. "Que nunca na história desse país´´, como gosta de falar o presidente, parece ter fim.
A sorte está lançada
O sorteio que definiu a seqüência da disputa das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010 para as seleções de África, Américas Central e do Norte, Ásia e Europa resultou em uma série de confrontos que variam entre a curiosidade e a rivalidade política exacerbada.
No último caso, figuram com destaque os dois confrontos envolvendo as Coréias do Sul e do Norte, que pode servir como mais um passo para a lenta reaproximação entre os dois países, que compõem com Jordânia e Turcomenistão o Grupo 3 asiático.
Outro duelo, ainda não definido, mas bastante provável, será o encontro entre Estados Unidos e Cuba, favoritos a se classificar na fase eliminatória. Se confirmada a presença na fase de grupos, os dois adversários políticos farão também dois jogos válidos pela chave 1 da Concacaf.
Já na Europa, os encontros mais aguardados não são politicamente complicados, mas chamam atenção pelas coincidências. A primeira delas será o duelo entre República Tcheca e Eslováquia, que eram um país só até a queda da Cortina de Ferro. Também os vizinhos Suécia e Dinamarca irão disputar uma vaga em um grupo que tem Portugal como favorito.
Mas o confronto mais interessante será o reencontro da Inglaterra com a Croácia, que eliminou os ingleses da fase final da Eurocopa do ano que vem. As emoções garantidas até o final de 2009.
Nota 10
Para o Ministério Público da Bahia, que incluiu a CBF entre os denunciados pela tragédia na Fonte Nova, seguindo o Estatuto do Torcedor. Resta esperar que a justiça cumpra o seu papel e condene os responsáveis pelo fato que manchou o futebol brasileiro neste ano.
Nota 0
Para o Governo da Bahia, CBF e todos os demais responsáveis por permitir que a Fonte Nova seguisse aberta apesar das péssimas condições de conservação. Que os outros estados tomem o caso como exemplo e interditem as praças esportivas que oferecem riscos a seus freqüentadores.