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Um pouco mais do Pan

31 jul 2007 às 11:00

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Aproveitando a realização no Brasil do "segundo maior evento esportivo do mundo", como gostam de propalar os seus organizadores, esta coluna volta ao ar para falar sobre os recém-terminados Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Competição que tinha tudo para dar errado, a começar pelo atraso na conclusão da maiorias das novas instalações especialmente construídas para o evento, passando pela verdadeira balbúrdia e falta de clareza na venda de ingressos, mas que, talvez porque Deus seja realmente brasileiro, foi relativamente bem-sucedida.

Mas as belas vitórias na natação, o triunfo - mais um - da seleção masculina de vôlei, as conquistas do atletismo e, as mais surpreendentes e de mérito unicamente individual, vindas de esportes que não tem prática em massa ou apoio algum de órgãos governamentais e empresas privadas, como as do futebol feminino, taekwondo, boxe, caratê e, principalmente, pentatlo moderno, não podem mascarar as falhas e nem levar a crença de que, de uma hora para outra, o Brasil tornou-se uma potência olímpica.

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Nos bastidores, é urgente que sejam levadas a cabo as investigações sobre o mau uso do dinheiro público, que se descubra as razões que levaram a um superfaturamento nos custos - dos pouco mais de R$ 500 milhões estimados inicialmente para quase R$ 4 bilhões -, e que se punam os responsáveis pelo não cumprimento de diversos itens do Estatuto do Torcedor, mais uma vez tratado como gado.

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E, dentro do campo, das quadras, das piscinas, das pistas, vale uma análise cuidadosa do nível geral dos competidores presentes, para traçar objetivos claros e factíveis para os Jogos Olímpicos de Pequim. Se no Pan houve o esperado recorde de medalhas conquistadas - tarefa cumprida à risca por quase todos os países que já sediaram a competição -, nas Olimpíadas a disputa é mais acirrada e exige uma preparação ainda mais apurada e rigorosa de todos os atletas. Se na América o único real concorrente brasileiro é Cuba, já que os Estados Unidos estão em um patamar muito mais elevado, em uma competição mundial são inúmeras as potências esportivas como Rússia, China, Austrália, Alemanha, que farão as medalhas virem a conta-gotas para a pátria tupiniquim.

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Por isso, é preciso relativizar o valor de cada conquista no Pan, para que a alegria de agora não se converta em uma terrível decepção no ano que vem. E, antes de mais nada, enquanto é tempo, utilizar os jogos para impulsionar a massificação da prática esportiva, aproveitando o surgimento de novos ídolos para afastar as crianças e jovens brasileiros dos riscos sociais presentes em qualquer município do país. Este seria o maior legado do Pan, que infelizmente parece não fazer parte das intenções das autoridades políticas e esportivas envolvidas no evento.


Gente que está mais preocupada em afagar seus próprios egos, propalando aos quatro ventos que estes foram "os melhores Jogos Pan-Americanos da história", seguindo a receita do famosos discurso presidencial do "nunca na história desse país". E que tenta se iludir acreditando que o país está pronto para sediar os Jogos Olímpicos, evento muito maior e mais complexo. Gente que finge não ter nenhuma responsabilidade sobre o grande fracasso deste Pan, que foram as disputas do beisebol e do softbol em estádios precários, improvisadamente erguidos na Cidade do Rock. Que não tinham iluminação minimamente eficiente para sediar partidas noturnas, com uma estrutura de circo mambembe que não resistiu a uma ventania um pouco mais forte e que, literalmente, se afogaram num verdadeiro mar de lama, impedindo inclusive a decisão do bronze do beisebol e a disputas das fases finais do softbol.

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Sem falar das belas arenas construídas dentro do autódromo de Jacarepaguá que, tudo leva a crer, se transformarão em novos "elefantes brancos", como os grandiosos estádios construídos nos tempos da Ditadura Militar. estruturas de primeiro mundo sim, mas que custaram a mutilação de uma praça esportiva que em seus áureos tempos recebeu a Fórmula 1, a Fórmula Indy e o Mundial de Motovelocidade. Fatos que ampliam o sentimento tão bem descrito por Nelson Rodrigues, de que temos um complexo de vira-latas.


Nota 10

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Para Yane Marques, que saiu do agreste para conquistar a mais surpreendente medalha do Pan, vencendo o pentatlo moderno, competição preferida do Barão de Coubertin, inventor dos Jogos Olímpicos Modernos.


Nota 0

Para as meninas do vôlei, que mais uma vez falharam na hora de decidir e merecem o carinhoso apelido de "as amarelinhas".
Para a organização dos jogos que construiu os estádios de beisebol e softbol em um local alagadiço e sem nenhuma drenagem.


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