Arte e Cinema

Faces inaugura Kinoclube, o cineclube da Kinoarte

03 mai 2006 às 11:00

A Kinoarte [Instituto de Cinema e Vídeo de Londrina] lança nesta quinta, a partir das 21h, mais um projeto de exibição: o Kinoclube, uma espécie de cineclube itinerante que irá exibir clássicos indisponíveis no Brasil, além de filmes contemporâneos que permaneçam inéditos no País. Em maio, as três sessões do Kinoclube ocorrerão no Bar Valentino [Avenida Bandeirantes, 61], nos mesmos moldes em que se realiza a Kinoarte Mostra Curtas desde outubro de 2004: sempre com entrada franca.

Faces


Abrindo a programação, um clássico dos anos 60 que se tornou uma lenda entre os cineastas independentes no mundo inteiro: Faces (EUA, 1968, 130 min), de John Cassavetes. Rodado em 16mm e em p&b, entre amigos, sem apoio de estúdios, Faces mostra a crise do casamento moderno, especialmente no contexto da classe média americana dos anos 60, desiludida e unificada apenas por ideais consumistas. Trabalhando com um elenco extraordinário (John Marley, Gena Rowlands, Lynn Carlin, Seymour Cassel e Fred Draper), Cassavetes buscava em cada cena as contradições internas de uma relação afetiva, a origem de cada sentimento, as máscaras apropriadas e corrompidas pelo tempo; enfim, algo que revelasse a vida.


Rodado em seis meses, com algumas interrupções, Faces se tornou um clássico da cinematografia moderna por vários motivos. As improvisações, uma constante no trabalho de Cassavetes, imprimem uma autenticidade ao filme raramente vista antes no cinema. A fotografia de Al Ruban - granulada e composta unicamente com câmera na mão, repleta de takes com luz estourada [iluminação excessiva, quando comparada à fotografia dos estúdios], trechos fora de foco -, se encaixa perfeitamente na estrutura do filme, compondo uma grande obra em aberto, quase um rascunho, algo raro no cinema até então.


O mais impressionante, no entanto, é a intensidade com que os atores se entregam em cada cena. Inicialmente ator de teatro, TV e cinema, Cassavetes acreditava nos atores como a grande força de um filme. Para ele, a fotografia, a montagem e a direção de arte eram aspectos secundários, que deveriam estar sempre subordinados ao trabalho do ator. Tentando descobrir a verdade de cada cena, o diretor chegava a improvisar 13, 14 vezes uma tomada para conseguir expressar uma emoção genuína, que não se fosse mecânica.


Cassavetes trabalhava contra a representação. Ele queria a vida, e Faces é o mais radical exemplo dessa busca.


Programação


Ainda em maio, o Kinoclube irá exibir mais dois filmes raros: Fando & Lis, de Alejandro Jodorowski (dia 11); e Gerry, de Gus Van Sant (dia 18). O primeiro é uma adaptação da peça homônima de Fernando Arrabal, montada em Londrina em 2001 pelo grupo Boca de Baco. O filme de Gus Van Sant é o início de uma trilogia sobre a juventude contemporânea, completada posteriormente com Elephant e Last Days.


Durante o ano, o Kinoclube exibirá uma série de clássicos e filmes raros, o que inclui Vergonha, de Ingmar Bergman; Viva La Muerte, de Fernando Arrabal; El Topo, de Jodorowski; O Sangue de um Poeta, de Jean Cocteau; O Demônio das Onze Horas, de Jean-Luc Godard; A Woman Under the Influence, de Cassavetes; O Ano Passado em Marienbad, de Alain Resnais; Duas Garotas Românticas, de Jacques Demy; Asi es la Vida, de Arturo Ripstein; Fahrenheit 451, de François Truffaut, etc. Entre os filmes nacionais, estão A Queda, de Ruy Guerra; Brasil Ano 2.000, de Walter Lima Jr.; Nem Tudo é Verdade, de Rogério Sganzerla; Filme Demência, de Carlos Reichenbach; São Paulo S.A., de Luis Sérgio Person; e Bang-Bang, de Andréa Tonacci; entre outros.

O projeto Kinoclube é coordenado por Rodrigo Grota e Bruno Gehring e integra o quadro de projetos de exibição da Kinoarte, ao lado da Mostra Londrina de Cinema e do Kinoarte Mostra Curtas. Os filmes serão exibidos sempre de forma gratuita, e, em alguns casos, com legendas em inglês, espanhol ou português. Faces, nesta quinta, terá legendas em inglês.


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